Tubarão-dragona. Foto: Jim Capaldi / Wiki Commons

O futuro é muito quente (e preocupante) para os tubarões bebés

Um novo estudo científico alerta para os efeitos negativos que o aquecimento das águas do oceano, ligado às alterações climáticas, vai ter sobre os tubarões. “Temos de tomar medidas urgentes”, avisam os cientistas.

O aumento da temperatura da água faz com que “os bebés tubarões nasçam mais pequenos, exaustos, mal nutridos e em ambientes onde lhes é difícil sobreviver”, indica um comunicado do ARC Centre of Excellence for Coral Reef Studies (Coral CoE), na Austrália, sobre a publicação deste estudo na Scientific Reports.

A autora principal do artigo, Carolyn Wheeler, e o resto da equipa, examinaram em laboratório os efeitos de um aumento de temperaturas no crescimento e desenvolvimento de tubarões-dragona (Hemiscyllium ocellatum), tanto como embriões como recém-nascidos. Estes tubarões põem ovos e habitam na Grande Barreira de Corais, no mar australiano.

“Testámos embriões de tubarão em águas até à temperatura de 31ºC”, explica Carolyn Wheeler, investigadora no Coral CoE e também na Universidade de Massachussets, EUA. “Quanto mais quentes as condições, mais depressa tudo acontece, o que pode ser um problema para os tubarões”, salienta.

“Os embriões cresceram mais rapidamente e usaram o saco vitelino mais depressa, que é a sua única fonte de alimento à medida que se desenvolvem dentro do ovo. Isto fez com que eclodissem mais cedo do que é habitual.”

Resultado? Os tubarões recém-nascidos eram mais pequenos que o normal e precisavam de alimento quase de imediato, acusando uma falta significativa de energia. Por outro lado, os tubarões não costumam cuidar dos ovos depois de os porem, pelo que antes de nascer os embriões ficam desprotegidos durante cerca de quatro meses, num ambiente mais quente e por isso mais hostil.

Um tubarão-dragona na área da Grande Barreira de Corais. Foto: Anne Hoggett / Lizard Island Research Station

Jodie Rummer, co-autora do artigo e também ligada ao Coral CoE, avisa que o aquecimento futuro do oceano é preocupante não só para os tubarões ovíparos – como os desta espécie – mas também para tubarões ovovivíparos, que se desenvolvem dentro dos ovos ainda no interior do corpo das mães.

Ameaças em cima de ameaças

Os cientistas acreditam que devido às alterações climáticas as águas na Grande Barreira de Corais vão atingir temperaturas de 31ºC ou mesmo acima disso, no final deste século. “O tubarão-dragona é conhecido pela sua resiliência às mudanças, mesmo à acidificação do oceano”, nota Jodie Rummer, que questiona: “Por isso, se esta espécie não consegue lidar com o aquecimento das águas, como irão conseguir outras espécies menos tolerantes?”

Muitas espécies de tubarão estão hoje ameaçadas em todo o mundo devido à sobrepesca, uma vez que muitos destes animais demoram vários anos até começarem a reproduzir-se. E quando isso acontece, muitas vezes têm poucas crias em comparação com outras espécies.

“Os tubarões são predadores importantes que mantêm os ecossistemas saudáveis. Sem predadores, ecossistemas inteiros podem colapsar, e é por isso que precisamos de continuar a estudar e a proteger estas criaturas”, acrescenta Carolyn Wheeler.

Já Jodie Rummer sublinha que “os nossos ecossistemas futuros dependem da tomada de acções urgentes para limitarmos as alterações climáticas”.


Saiba mais.

Recorde estes oito factos sobre os tubarões portugueses.


Apoie o projecto de jornalismo de natureza da Wilder com o calendário para 2021 dedicado às aves selvagens dos nossos jardins.

Com a ajuda das ilustrações de Marco Nunes Correia, poderá identificar as aves mais comuns nos jardins portugueses. O calendário Wilder de 2021 tem assinalados os dias mais importantes para a natureza e biodiversidade, em Portugal e no mundo. É impresso na vila da Benedita, no centro do país, em papel reciclado.

Marco Nunes Correia é ilustrador científico, especializado no desenho de aves. Tem em mãos dois guias de aves selvagens e é professor de desenho e ilustração.

O calendário pode ser encomendado aqui.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.