Rola-brava (Streptopelia turtur). Foto: Kev Chapman/Wiki Commons

Organizações ambientalistas aplaudem suspensão da caça à rola-brava até 2024

Medida de proteção temporária desta ave migradora, que já tinha sido adoptada na época de caça anterior, foi agora prolongada por mais duas épocas.

O prolongamento da suspensão da caça à rola-brava entrou em vigor através da publicação da Portaria n.º 161/2022, de 20 de junho, indica a Coligação C6, que junta a Associação Natureza Portugal/WWF, o FAPAS, o Geota, a Liga para a Protecção da Natureza, a Quercus e a SPEA.

Em comunicado, a C6 congratula o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas e o Secretário de Estado da Conservação da Natureza e das Florestas pela decisão e apela aos Ministérios do Ambiente e da Agricultura para “colaborarem na implementação de medidas efectivas de conservação e de gestão no terreno”.

A rola-brava (Streptopelia turtur) é uma espécie protegida no âmbito da Diretiva Aves e considerada ameaçada de extinção pela União Internacional de Conservação da Natureza.

Esta espécie migradora atravessa todos os anos o deserto do Saara, nas suas viagens entre a Europa e a África. Já foi “extremamente abundante em Portugal”, mas desde há várias décadas regista “uma tendência fortemente regressiva” tanto no território nacional como noutros países da Europa.

De acordo com a coligação, os estudos já realizados “demonstram que a caça praticada durante a sua migração em países como França, Espanha e Portugal é insustentável, apesar de alguma redução recente da pressão da caça”.

Na época venatória de 2021-2022, Portugal, num esforço conjunto com França e Espanha, proibiu temporariamente a caça da rola-brava, uma medida que o Governo decidiu prolongar agora para as épocas venatórias 2022-2023 e 2023-2024.

Domingos Leitão, director-executivo da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), sublinha que “a medida era inevitável” e que apesar de ser “uma boa notícia”, significa também “que o estado da população da rola-brava em Portugal e noutros Estados Membros é assustadoramente preocupante.”

Ir mais longe

Aliás, estas seis organizações portuguesas defendem que a medida agora anunciada não é ainda suficiente, apesar de mostra que há bom sendo e articulação de estratégias entre diferentes países. “O Memorando de Entendimento para a Conservação e Recuperação da Rola-brava, que juntou organizações não governamentais de ambiente e organizações do sector da caça, em estreita articulação com o ICNF, assinado em 2019, foi o primeiro passo da jornada para contrariar o declínio das populações da espécie”, afirmam.

Os membros da coligação notam ainda que a exploração cinegética “não é a única causa” do declínio da espécie, que é também afectada pela “diminuição e perda de qualidade do habitat, quer de alimentação quer de nidificação”.

Entre as medidas pedidas por estas ONG, está a definição de uma “estratégia articulada para a promoção de uma gestão sustentável do habitat”, que inclua medidas concretas e instrumentos financeiros para ser aplicada.

“É fundamental que as medidas de gestão a adotar não se limitem a acções pontuais no tempo e no espaço, como a disponibilização artificial de alimento, mas incluam também substanciais melhorias da qualidade dos habitats. Só assim conseguiremos uma recuperação robusta e duradora da espécie e dos ecossistemas a que pertence”, apela Jorge Palmeirim, presidente da Liga para a Protecção da Natureza.

Portugal está actualmente a definir as medidas agro-ambientais do próximo Plano de Desenvolvimento Rural (PDR), considerada “a altura ideal para incluir medidas que apoiem efectivamente os agricultores e proprietários que apostem na diversidade de cultivos e na protecção da vegetação natural das linhas de água, charcas, sebes e bosquetes”. O PDR é um fundo de 4.000 milhões de euros, pelo que o “dinheiro não será um problema para a implementação de medidas de protecção do habitat da rola-brava, assim o entendam os decisores”, sublinha Jorge Palmeirim.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.