Pintassilgo. Foto: Dimitrisvetsikas1969/Pixabay

Quercus exige suspensão imediata de apanha noturna em olivais superintensivos

 

A associação estima que entre 70.000 e 100.000 aves protegidas são anualmente mortas em Portugal, fruto desta prática. 

O pedido surge nas vésperas do início de mais uma campanha nacional da apanha da azeitona e depois de a Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza ter tido acesso a dados relativos aos impactes da apanha nocturna de azeitona por meios mecânicos na avifauna local.

Pintassilgo. Foto: Dimitrisvetsikas1969/Pixabay

Em Dezembro de 2018, a Quercus solicitou ao Governo informações mais detalhadas sobre a situação em Portugal, na sequência da divulgação de um Relatório sobre o que se passava na Andaluzia.

Segundo o Relatório da Junta da Andaluzia, divulgado no final de 2018, pelo menos mais de dois milhões e meio de aves morreram, em 2017/18, no decurso da apanha nocturna de azeitona em províncias como Sevilha, Córdoba e Jaén.

“Os dados concretos a que a Quercus teve agora acesso, relativos a duas dessas acções de fiscalização efectuadas pelo SEPNA/GNR dão conta da magnitude do problema, que deve atingir, e segundo uma estimativa conservadora  da Quercus, entre 70.000 e 100.000 aves em território nacional”, escreve a associação hoje em comunicado.

Oliveira. Foto: Anna Anichkova/Wiki Commons

Segundo os dados a que a Quercus teve agora acesso, em apenas duas acções de fiscalização do SEPNA/GNR realizadas à noite no Alentejo foram detectadas 375 aves mortas, fruto da apanha nocturna de azeitona, 140 aves numa das acções de fiscalização (27/12/18) e 235 aves em outra (2/1/19). Algumas das espécies de aves atingidas por esta mortalidade foram o tordo-comum, a milheirinha, o lugre, o pintassilgo-comum, o verdilhão, o tentilhão-comum e a toutinegra.

“Tendo em conta que a grande mortalidade de aves registada apenas se refere a duas acções de fiscalização realizadas no mesmo lagar, mas num período de menor recepção de azeitona, e que existem mais lagares no país a receber azeitona proveniente de colheita nocturna, a Quercus prevê, numa estimativa bastante conservadora, que por noite são mortas entre 700 e 1.000 aves fruto desta prática irresponsável, o que por época de colheita de azeitona representa a morte dum número minímo de 70.000 aves, mas que poderá atingir uma máximo de 100.000 aves.”

A Quercus exige que o Ministério do Ambiente e o Ministério da Agricultura “tomem medidas urgentes no sentido de suspender a prática da apanha nocturna de azeitona, realizada por meios mecânicos nos olivais superintensivos, devido aos impactes nefastos que esta tem na vida selvagem, e em especial na avifauna”.

Segundo esta associação, foram levantados autos de notícia pelo SEPNA/GNR e, de momento, corre no Ministério Público um inquérito sobre a mortalidade de aves derivada da apanha nocturna de azeitona em olivais superintensivos, relativo a eventuais “Danos contra a Natureza”.

tronco de uma árvore com musgo
Foto: Wilder/arquivo

“A Quercus deposita inteira confiança neste trabalho que está a ser realizado pela Justiça e aguarda serenamente o apuramento da verdade dos factos e a eventual responsabilização dos culpados.”

Além do apelo ao novo Governo, para que suspenda a apanha nocturna de azeitona, realizada por meios mecânicos nos olivais superintensivos, a Quercus pede também às empresas produtoras de azeite que rejeitem a azeitona proveniente da apanha nocturna e que, à semelhança do que algumas empresas já fizeram, optem voluntariamente pela suspensão desta prática nos seus olivais superintensivo.

A associação garante que “usará de todos os meios legais ao seu dispor para que a legalidade seja reposta e os valores naturais sejam respeitados”.


Saiba mais.

Em Maio, o Bloco de Esquerda pediu uma moratória aos olivais intensivos por causa dos seus impactos.

Recorde a crónica de Miguel Dantas da Gama dedicada ao olival tradicional.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.