Saiba porque estão os tubarões-azuis a ser empurrados para a superfície

Uma equipa onde se incluem investigadores portugueses descobriu mais uma pressão para os tubarões-azuis e que os torna mais vulneráveis à pesca.

O habitat do tubarão-azul – espécie alvo da pesca às suas barbatanas e quase sem restrições à sua captura a nível mundial – está a ser comprimido, por exemplo no Nordeste Atlântico, perto de Cabo Verde.

Tubarão-azul. Foto: Jeremy Stafford-Deitsch

Esta espécie classificada como Quase Ameaçada pela UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza) está a ser empurrada das zonas mais profundas do oceano para a superfície.

Num estudo publicado na revista eLife, uma equipa na qual participam investigadores do CIBIO- InBIO (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, InBIO Laboratório Associado da Universidade do Porto) e do MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente descobriu que as alterações climáticas estão a causar uma redução do oxigénio dissolvido na água. Este é um processo conhecido como desoxigenação dos oceanos.

Já na semana passada, um outro estudo científico alertou que a redução de oxigénio nos oceanos é o factor “com mais impacto negativo” nos organismos marinhos, mais do que a acidificação e o aquecimento das águas.

Este processo tem causado a expansão das zonas de oxigénio mínimo (ZOM), o que pode “alterar a distribuição e mesmo colocar em perigo espécies de grande porte que necessitam de elevadas concentrações de oxigénio”, explicam os investigadores em comunicado.

Os investigadores demonstraram que a expansão da zona de oxigénio mínimo localizada no Nordeste Atlântico (próxima de Cabo Verde) está a comprimir o habitat do tubarão azul.

“Ao evitarem profundidades com menor concentração de oxigénio, os tubarões permanecem mais à superfície, aumentando assim a probabilidade de serem capturados pela atividade pesqueira.”

Tubarões-azuis capturados por palangre no Atlântico. Foto: CIBIO-InBIO e MBA

Os cientistas marcaram tubarões azuis com transmissores de satélite para registar as profundidades máximas de mergulho dentro das zonas de oxigénio mínimo e em áreas circundantes do Oceano Atlântico Norte, o que permitiu seguir os movimentos horizontais e o comportamento de mergulho do tubarão azul durante vários meses.

Paralelamente, foram seguidos, por GPS, navios de palangre de superfície, permitindo avaliar a maior vulnerabilidade dos tubarões à pesca.

“Descobrimos que a ZOM ocidental Africana é uma área de pesca intensiva de palangre, com maiores capturas de tubarão-azul, muito provavelmente devido à compressão de habitat em águas superficiais”, disse Marisa Vedor, primeira autora do artigo.

Nuno Queiroz, que co-liderou o estudo, avisa que a captura potencialmente mais fácil desta espécie deverá aumentar no futuro se continuarmos a assistir a uma expansão destas zonas com baixa concentração de oxigénio.

“O tubarão-azul é uma espécie comercialmente importante devido sobretudo às suas barbatanas. Esta espécie perfaz cerca de 90% do total das capturas reportadas no Atlântico e, no entanto, está classificada como Quase Ameaçada pela UICN, existindo poucas restrições à sua captura a nível mundial”, segundo o comunicado.

David Sims, coordenador principal do Projeto Global Shark Movement e que co-liderou também este estudo, considera que “podem ser necessárias áreas marinhas protegidas circundantes de zonas de oxigénio mínimo para garantir a proteção de tubarões no futuro, com a contínua desoxigenação dos oceanos”.

Desde 2005 que os tubarões são estudados no CIBIO-InBIO pelo investigador Nuno Queiroz.

O presente trabalho será integrado no projeto OCEAN DEOXYFISH, financiado pelo European Research Council (ERC), que irá continuar a estudar os efeitos da desoxigenação dos oceanos em predadores de topo como os tubarões e os atuns.


Saiba mais.

Descubra aqui oito factos sobre os tubarões portugueses, com a ajuda de Nuno Queiroz.


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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.