Texugo surpreende habitante no bairro de Alvalade, em Lisboa

Texugo. Foto: andyballard/Pixabay

Foi no passado dia 27 de Janeiro, uma quarta-feira, que Pedro Cabral deparou com um texugo assustado a atravessar uma rua do centro de Lisboa, de madrugada. Veja o vídeo.

Eram umas quatro da manhã e Pedro Cabral estava a fechar as janelas de casa, antes de se ir deitar, quando viu “o texugo a atravessar a rua nesse exacto momento”, contou à Wilder este estudante de 26 anos.

“Foi estranho, mas foi quase automático o reconhecimento. Depois é que pensei que podia ser um cão pequeno, mas o primeiro instinto foi um texugo.”

A partir de casa, perto da Avenida do Brasil, Pedro Cabral ainda seguiu o texugo com o olhar durante cerca de 10 minutos. Reparou que o animal estava “meio assustado com os carros e os barulhos da cidade, por isso andava para a frente e para trás”.

Mas depois dessa noite, nunca mais o viu. Foi a primeira e única vez, para já, que observou um animal destes ao vivo.

Na manhã seguinte, curioso sobre o que se tinha passado, ligou à Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza. Quem o atendeu indicou que não se trata de um acontecimento comum, mas “que era possível que o texugo se tivesse aventurado de um descampado na periferia para a cidade, à procura de comida por haver escassez no seu habitat natural”.

Pedro ficou também a saber que estes animais “têm muito medo dos humanos”, mas acredita que talvez o confinamento e a falta de movimento nas ruas tenham encorajado aquele mamífero a avançar mais para o centro da cidade.

Sem registos conhecidos em Lisboa

Verónica Bogalho, que trabalha no LxCRAS – Centro de Recuperação de Animais Silvestres, no Parque Florestal de Monsanto, confirma que é um acontecimento surpreendente: “Apesar de se conhecerem situações como esta, em que mamíferos selvagens como raposas, veados, texugos e outras espécies parecem perder o medo e aproximarem-se dos meios urbanos em busca de recursos tróficos [alimentos], nesta zona de Lisboa não há registos conhecidos de texugo”, explicou à Wilder.

Esta bióloga admite, aliás, que se pode tratar de um animal “que tenha estado em cativeiro”. No caso de ser realmente de origem selvagem, avisa que “seria importante conhecer o seu território de modo a tomar medidas de protecção”, para que não corra perigo de vida.

Texugos. Foto: hrw1973/Pixabay

Mesmo no LxCRAS, que recebe animais de toda a área metropolitana de Lisboa (AML) e por vezes de outras regiões, esta “é uma espécie pouco frequente”, nota a mesma responsável. “Recebem-se em média um por ano e habitualmente devido a traumas provocados por atropelamentos ou armadilhas”, mas nesses casos “são oriundos de outros concelhos da AML”.

Na verdade, não são conhecidas outras observações recentes de texugos em todo o concelho de Lisboa, mesmo dentro do Parque Florestal de Monsanto – o maior dos espaços verdes do município, com uma área global de cerca de 1000 hectares.

É claro que até pode ser que habitem animais desta espécie nalguma zona do concelho, mas “será eventualmente mais provável a ocorrência de texugos em zonas adjacentes a áreas rurais dos concelhos contíguos” – o que não é o caso de Alvalade.

O que é um texugo?

O texugo (Meles meles) é um dos 15 carnívoros terrestres conhecidos em Portugal Continental, segundo o projecto do Livro Vermelho dos Mamíferos, que está a reavaliar o estatuto de conservação desta e de outras espécies. Neste caso, para o território nacional, foi classificado em 2005 como Pouco Preocupante. Este carnívoro de tamanho médio pertence à ordem dos mustelídeos, juntamente com a doninha, o arminho, o toirão e a lontra, entre outros.

De acordo com a Universidade de Évora, estes animais são “extremamente adaptáveis”, preferindo florestas de folha caduca ou de coníferas com clareiras, ou paisagens cultivadas com sebes. Acredita-se que em Portugal a espécie está distribuída de norte a sul do país, excluindo Açores e Madeira, mas não é comum em áreas muito urbanizadas.

Alimentam-se de raízes, frutos, cogumelos, moluscos, anfíbios e répteis, e por vezes de coelhos-bravos quando esses são abundantes. São animais nocturnos e vivem em grupos familiares, descansando “em tocas subterrâneas de grande extensão”.


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Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.