Torda-mergulheira e ganso-patola são as aves mais observadas em arrojamentos

Ganso-patola ou alcatraz (Morus bassanus). Foto: Christine Matthews/Wiki Commons

Entre 2011 e 2019, trabalhos de monitorização coordenados pela SPEA permitiram encontrar 496 aves de 43 espécies diferentes, e ter um retrato das principais causas de morte.

Estes dados foram sendo recolhidos desde Vila do Conde mais a norte até Vila Real de Santo António mais a sul, em 326 percursos percorridos a pé por equipas da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas e também por alguns voluntários.

Uma parte importante deste esforço de monitorização realizou-se nos anos de 2012 e de 2018 e esteve “directamente relacionado” com dois projectos de conservação: o Marpro e o LIFE Berlengas. Uma parte importante dos percursos também se realizou na zona de Peniche.

Inspecções costeiras. Foto: Ana Almeida/SPEA

Mas o objectivo da SPEA é que esta vigilância sobre os arrojamentos passe a ser contínua, contando com o envolvimento de mais voluntários.

Mais de 150 tordas-mergulheiras

Quanto aos dados que já existem, entre 2011 e 2019, a torda-mergulheira (Alca torda) foi de longe a ave mais vezes encontrada, com mais de 150 aves entre as 496 registadas. Em Portugal, é uma migradora de passagem e uma invernante ao longo de toda a costa continental, segundo o Atlas das Aves Marinhas.

Torda-mergulheira (Alca torda). Foto: Charles J. Sharp/Wiki Commons

A torda-mergulheira figurou também nalguns arrojamentos com números elevados de aves marinhas. Num destes, “numa semana arrojaram cerca de 80 tordas- mergulheiras na zona do Baleal/ Almagreira”, exemplifica a SPEA, numa apresentação sobre a informação até hoje recolhida.

O ganso-patola (Morus bassanus), também chamado de alcatraz, foi outra das principais vítimas encontradas em arrojamentos, com mais de 100 aves registadas. Esta ave pode ser observada ao longo de toda a costa portuguesa de Janeiro a Dezembro, embora seja mais vista no Inverno e durante as migrações (de Janeiro a Fevereiro e de Setembro a Novembro).

Ganso-patola, também conhecido como alcatraz (Morus bassanus). Foto: Elisabete Silva/SPEA
Ganso-patola ou alcatraz (Morus bassanus). Foto: Christine Matthews/Wiki Commons

Outra parte importante das aves encontradas foram gaivotas, em especial a gaivota-d’asa-escura e a gaivota-de-patas-amarelas, as mais comuns em Portugal.

Mau tempo, redes de pesca e petróleo

Mais de metade das aves encontradas (55%) estavam já em estado de decomposição avançado e por isso “não foi possível apurar as causas de morte”. Mas para aquelas onde se conseguiu, os técnicos concluíram que a principal causa de morte terá sido o mau tempo. Com efeito, o Inverno foi a estação do ano com mais aves arrojadas.

No entanto, detectaram-se também causas não naturais, em especial a interacção com redes de pesca (sete por cento do total), onde estas aves ficam enroladas. Das vítimas encontradas, “as tordas-mergulheiras estiveram quase sempre associadas a redes de emalhar enquanto que os alcatrazes à arte do palangre”. Também corvos-marinhos (Phalacrocorax carbo), cagarras (Calonectris borealis), gaivotas-de-patas-amarelas (Larus michahellis) e d’asa-escura (Larus fuscus) foram encontradas mortas devido a esta ameaça, o que foi possível perceber devido aos “restos de redes ou anzóis onde as aves se encontravam emaranhadas”.

Torda-mergulheira (Alca torda). Foto: Elisabete Silva/SPEA

Segundo a SPEA, “é conhecida a utilização de redes de pesca ilegais em algumas zonas do país, que pelas suas características e com base nos relatos de vários pescadores têm levado a morte de várias centenas ou mesmo milhares de tordas-mergulheiras e airos”.

Quanto aos derrames de petróleo, foram outra das causa apuradas, para três por cento das aves. “Esta contaminação resulta geralmente de derrames de petróleo ou lavagem de tanques de combustível a bordo.”


Saiba mais.

Leia aqui a apresentação da SPEA sobre os dados recolhidos entre 2011 e 2019 e complemente com um artigo publicado no site desta associação sobre as causas dos arrojamentos.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.