Foto: João Santos / ICNF

No Vale do Guadiana, vão ser libertados sete linces-ibéricos em Fevereiro

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A libertação de linces-ibéricos em Portugal teve início esta terça-feira, na área de reintrodução do Vale do Guadiana.

O anúncio foi feito pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), num comunicado em que acrescenta que está prevista a libertação de um total de sete exemplares até ao fim do mês.

Esta terça-feira, dia 9 de Fevereiro, foram reintroduzidos na natureza, na freguesia de São João dos Caldeireiros (Mértola), os linces Rosmaninho e Rouxinol, ambos machos nascidos no Centro Nacional de Reprodução do Lince-ibérico (CNRLI), em Silves, na Primavera passada.

Rosmaninho é filho de dois linces fundadores do CNRLI: a fêmea Fresa – com 11 anos, tendo nascido no Centro de Cría de El Acebuche, em Doñana – e o macho Drago, que nasceu em 2007 também em El Acebuche; Rouxinol é filho da fêmea Juncia e do macho Fresco.

Juncia nasceu no Centro de Cría de La Olivilla em 2012 e está no CNRLI desde 2016. Fresco é outro macho fundador do CNRLI e nasceu em 2010 na mesma ninhada da fêmea Fresa

Os sete linces-ibéricos a serem libertados este ano nasceram todos em 2020 e são provenientes de três dos quatro centros de reprodução em cativeiro localizados na Península Ibérica. Além destes dois machos nascidos no CNRLI, dois machos nasceram em El Acebuche, na região espanhola da Andaluzia e três fêmeas vêm de La Olivilla, também na Andaluzia.

Estes linces foram o resultado do trabalho de 2019/2020 nos cinco centros de reprodução em Portugal e Espanha, geridos pelo Programa de Conservação Ex-situ dedicado a esta espécie. Nessa época reprodutora houve 26 casais: oito em La Olivilla, seis no CNRLI, seis em El Acebuche (Doñana), cinco em Zarza de Granadilla e um no Zoo de Jerez.

Foto: João Santos / ICNF

Quanto às áreas de solta já definidas para esta época, a selecção baseou-se “em critérios técnicos de existência de habitat adequado e de disponibilidade de alimento para os linces”, que têm o coelho-bravo como presa principal. Parte das soltas estão previstas para terrenos que pertencem ao Regimento de Infantaria n.º 1 de Beja e à Câmara Municipal de Mértola.

Ano de 2020 “particularmente favorável”

“O ano de 2020 foi particularmente favorável ao lince em Portugal, com o nascimento de 60 crias em meio natural e o estabelecimento de 18 fêmeas reprodutoras com territórios estabilizados, tornando assim o Vale do Guadiana uma das áreas de reintrodução com maior sucesso a nível ibérico”, explica o instituto.

Actualmente, seis anos depois do início da reintrodução da espécie em Portugal, “este núcleo populacional evidencia um crescimento sustentado, reunindo mais de 150 exemplares que se distribuem por quase 500 quilómetros quadrados”, acrescenta.

Foto: João Santos / ICNF

Para isso têm contribuído “proprietários e gestores de herdades e de zonas de caça, uma gestão sustentável do território, a abundância de coelho-bravo, uma atitude favorável evidenciada pela população local à presença do lince e a conectividade da população de linces do Vale do Guadiana com as presentes noutras áreas de Espanha, fundamental para o incremento da variabilidade genética”, indica igualmente o ICNF.

A área de reintrodução do lince-ibérica, seleccionada em 2014, inclui territórios dos concelhos de Mértola, Serpa e zonas vizinhas – para onde os linces se foram dispersando naturalmente – situadas nos concelhos de Alcoutim, Castro Verde e Beja.

Estas áreas estão actualmente a ser “consolidadas, ampliadas e interligadas” no âmbito do novo projeto LIFE Lynxconnect, liderado pela Consejería de Agricultura, Ganadería, Pesca y Desarrollo Sostenible da Junta da Andaluzia, iniciou-se em Setembro de 2020. Em Portugal, tem como parceiros, para além do ICNF, a CIMBAL – Comunidade Intermunicipal do Baixo Alentejo e a Infraestruturas de Portugal.  

Foto: João Santos / ICNF

“A reintrodução é um processo a médio longo prazo que tem como objectivo estabelecer uma população viável e que mantenha um fluxo genético regular com outras populações de lince, restabelecendo a situação favorável à espécie”, salienta o instituto que em Portugal gere as medidas de conservação da natureza. 

O lince-ibérico é uma espécie classificada desde 22 de Junho de 2015 como Em Perigo de extinção, depois de anos na categoria mais elevada atribuída pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), Criticamente em Perigo.


Saiba mais

Série “Como nasce um lince-ibérico”

Uma equipa da Wilder esteve dois dias no CNRLI em Março de 2015 e assistiu ao último parto da temporada, ao lado de veterinários, tratadores, video-vigilantes e voluntários. Saiba como é o trabalho naquele centro e quem são as pessoas por detrás da reprodução em cativeiro desta espécie.


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Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.