Andorinha-das-chaminés (Hirundo rustica). Foto: Andreas Trepte / Wiki Commons

Ajude o Andorin a saber onde fazem ninho as andorinhas e andorinhões em Portugal

Estas aves migradoras estão em plena época de nidificação, mas há falta de informação. Obter mais dados e ajudar na conservação destas nove espécies é o objectivo do projecto.

O projecto Andorin quer recolher o máximo possível de informações sobre os locais onde nidificam as andorinhas e os andorinhões em território português, através de uma nova iniciativa de ciência cidadã.

Lançado pela associação Vita Nativa em Outubro passado, o Andorin tem como objectivos trabalhar para a divulgação e o aumento do conhecimento sobre estas aves migradoras em Portugal. Em causa estão cinco espécies diferentes de andorinhas e seis espécies de andorinhões, incluindo o andorinhão-preto e o andorinhão-pálido, mais comuns e conhecidos por passarem quase todo o tempo a voar, mesmo enquanto estão a dormir.

Ninho de andorinha-dos-beirais (Delichon urbicum). Foto: HTO/Wiki Commons

Quanto à recolha de dados sobre nidificação, para a qual as pessoas podem contribuir preenchendo um formulário online, começou no início de Maio e termina no final de Julho. No primeiro mês, conseguiu “mais de 500 estruturas identificadas e nessas estruturas mais de 4500 ninhos”, mas a equipa acredita que existem ainda muitos locais por registar.

Entre os dados pedidos, está o número de ninhos, mas caso isso pode não ser possível, pois no caso de algumas espécies de andorinhões estas nidificam escondidas, além de que se juntam em colónias com muitas aves. Assim, o mais importante é “a caracterização e localização da estrutura/edifício que as aves ocupam”, explica Vasco Flores Cruz, ligado ao projecto.

Andorinhão-pálido (Apus pallidus). Foto: Thijs Valkenburg

“O que pedimos é que as contagens sejam feitas ao início ou final do dia quando as aves estão reunidas junto das colónias e que se estime o número de ninhos como metade das aves que sobrevoam a zona”, acrescenta o biólogo. “No caso de usarem vários edifícios próximos, terá que se dividir o número de aves pelo número de edifícios.”

Mais edifícios “amigos”

No final, toda a informação recolhida vai servir para “conhecer melhor a distribuição da nidificação de andorinhas e andorinhões no nosso país”, mas também para “ter registados os locais de nidificação mais relevantes para que possamos proteger as colónias que aí existem”, adianta o mesmo responsável. Existem por exemplo “edifícios públicos ou históricos que albergam grandes colónias, cuja conservação é muito importante”, sublinha.

Por outro lado, conhecendo melhor quais as estruturas que são utilizadas por estas aves para aí construirem os seus ninhos, o projecto poderá também, mais facilmente, “promover a construção de edifícios ‘amigos'” destas aves.

Proibido destruir ninhos sem autorização

Em Portugal, a lei proíbe “destruir os ninhos ou vedar o acesso aos mesmos, mesmo que a obra se efectue fora do período de reprodução das aves”, avisa o responsável do Andorin. Se houver mesmo necessidade de concretização dessa obra, o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas pode dar autorização, “geralmente definindo algumas condicionantes e medidas compensatórias”, mas o mais relevante será realizar os trabalhos “fora do período reprodutor das aves e no caso dos andorinhões não obstruir o acesso das aves aos ninhos”, sublinha.

Ninhos de andorinha-das-barreiras (Riparia riparia). Foto: Donald Hobern/Wiki Commons

Por fim, a equipa pretende também “monitorizar a distribuição e o estado de conservação” das nove espécies de andorinhas e andorinhões que ocorrem em Portugal, com “o avolumar de dados ao longo dos anos”. Aliás, a partir de 2024, equipa espera ter disponível um mapa interactivo para que as pessoas comuniquem ou actualizem mais facilmente os seus registos, sempre que voltem a observar a nidificação destas aves.

Certo é que a informação científica sobre andorinhas e andorinhões em território português está hoje desactualizada, um problema que a equipa do Andorin espera ajudar a resolver. A informação mais recente data de 2008, do Segundo Atlas das Aves Nidificantes em Portugal, mas entretanto “a distribuição das espécies mudou”, nota Vasco Flores Cruz.

Assim, exemplifica o mesmo responsável, “a andorinha-dáurica neste momento nidifica em todo o país”, segundo os dados já recolhidos pelo projecto, enquanto que há 15 anos era dada como “ausente do Litoral Norte”. Quanto ao andorinhão-da-serra, que só se sabia que nidificava no arquipélago da Madeira, “hoje conhecem-se colónias nas zonas de Lisboa e Porto”.


Agora é a sua vez.

Além do registo de ninhos e de colónias nidificantes no formulário online do projecto, o Andorin desafia ainda quem tenha ninhos de andorinha em casa a dar conta dos principais eventos. Veja aqui como fazer.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.