Aprenda a identificar estas cinco gaivotas em Portugal

Gaivota-de-patas-amarelas. Foto: Jörg Hempel / Wiki Commons

Sendo Portugal um país à beira-mar plantado, as gaivotas são uma ave bem conhecida dos portugueses. Mas distinguir entre as várias espécies nem sempre é tarefa fácil. Hany Alonso e Sonia Neves, da SPEA – Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, deixam algumas pistas.

1. Gaivota-de-patas-amarelas (Larus michahellis)

Foto: Jörg Hempel / Wiki Commons

Para além das patas amarelas que lhe valeram o nome, a gaivota-de-patas-amarelas tem também o bico amarelo. O seu dorso é cinzento-prateado, tal como a parte superior das asas, que têm as pontas pretas. Ocorrendo tanto no continente como nos Açores e Madeira, esta espécie vê-se sobretudo na orla costeira, nidificando em falésias, ilhas e ilhéus, mas também nos telhados de algumas áreas urbanas. As cidades do Porto e de Peniche, por exemplo, possuem as maiores populações nidificantes em área urbana do nosso país.

Apesar de não terem um comportamento propriamente migratório, estas aves mostram uma grande mobilidade: podem facilmente percorrer várias dezenas de quilómetros num único dia, entre os seus locais de alimentação e os locais de repouso ou nidificação. Outra característica interessante é a presença de uma pequena mancha vermelha na ponta do bico das aves adultas, que funciona como estímulo para as crias debicarem em sinal de pedido de alimento aos progenitores.

No nosso país, as populações de gaivota-de-patas-amarelas tiveram um crescimento exponencial nos anos 80 e 90, muito associado à grande disponibilidade de alimento fornecido pelas atividades humanas. Por essa razão, além das praias, a espécie é presença habitual nos portos de pesca, aterros sanitários, campos agrícolas e zonas urbanas. É menos comum em estuários e zonas húmidas interiores do que a gaivota-d’asa-escura.

2. Gaivota-d’asa-escura (Larus fuscus)

Foto: Thermos at fi.wikipedia/Wiki Commons

A gaivota-d’asa-escura é porventura a gaivota mais abundante na costa portuguesa. É muito comum ao longo de toda a faixa costeira, podendo concentrar-se mais em praias, estuários e portos de pesca. Também é presença habitual em aterros, nalguns campos agrícolas e mesmo nas zonas urbanas costeiras. 

Esta espécie migradora visita o nosso país sobretudo no inverno, oriunda do Reino Unido e de outros países do Centro e Norte da Europa. No entanto, existem alguns casais a nidificar em Portugal.

Mesmo para os observadores mais experientes, é sempre um desafio diferenciar a gaivota-d’asa-escura da gaivota-de-patas-amarelas, principalmente no caso das aves juvenis. As gaivotas-d’asa-escura adultas identificam-se pela coloração cinza-escura no dorso e parte superior das asas, mas essa diferença de tom pode ser difícil de confirmar, dependendo de fatores como a luminosidade ou a posição da ave. 

3. Gaivota-de-audouin (Larus audouinii)

Foto: Andreas Trepte/Wiki Commons

Em Portugal, a gaivota-de-audouin apenas nidifica nas Ilhas Barreira da Ria Formosa, no Algarve. No entanto, fora do período reprodutor é regularmente observada em pequenos números em vários locais ao longo da costa, sobretudo na metade sul do país (por exemplo, na Lagoa de Albufeira).

Esta espécie, mais pequena que a gaivota-de-patas-amarelas, distingue-se pela coloração avermelhada do bico, assim como pelos olhos e patas escuros.

E ao contrário de muitas outras gaivotas, a gaivota-de-audouin continua a alimentar-se sobretudo de peixe. Não é frequente em lixeiras nem consome regularmente desperdícios humanos, à exceção das rejeições das pescas. Ao aproximar-se dos barcos de pesca para se alimentar, arrisca-se a ficar presa nas redes e anzóis. 

É uma espécie ameaçada, estando classificada como Vulnerável na Lista Vermelha da IUCN – União Internacional para a Conservação da Natureza. Apesar dos decréscimos recentes das populações nidificantes em Espanha, existem evidências de um crescimento da população nidificante em Portugal.

4. Guincho (Larus ridibundus)

Foto: Becky Matsubara/Wiki Commons

O guincho é uma espécie claramente mais pequena que a gaivota-d’asa-escura e a gaivota-de-patas-amarelas. Tem um característico painel triangular branco nas penas de voo exteriores, tal como as gaivotas-de-bico-fino (Larus genei, em Portugal com uma distribuição muito localizada). De resto, o guincho apresenta a coloração típica das gaivotas: cinza na parte superior do dorso e asas, e branca no abdómen e parte inferior das asas. 

No inverno, os guinchos têm a cabeça esbranquiçada, com uma mancha escura na zona do ouvido. Já na primavera, é possível observar aves com o típico capuz escuro na cabeça que, com a luz certa, se revela de cor acastanhada. Têm o bico e as patas vermelhos, podendo ser mais alaranjados no inverno e nas aves imaturas. Ao contrário da gaivota-de-cabeça-preta, o guincho adulto apresenta a ponta superior das asas preta.

Espécie comum e de distribuição alargada, o guincho ocorre no nosso país sobretudo durante o inverno. E pode ser observado numa grande variedade de habitats: desde os estuários às praias, passando por estações de tratamento de águas.

5. Gaivota-de-cabeça-preta (Larus melanocephalus)

Foto: MPF/Wiki Commons

A gaivota-de-cabeça-preta visita Portugal sobretudo durante o inverno, sendo uma das gaivotas mais claras que ocorrem na nossa costa. Mais abundante no sul do país, esta gaivota passa mais tempo no alto mar do que o guincho ou a gaivota-de-patas-amarelas: vem a terra sobretudo para descansar. Mas em dias de mau tempo, pode ser observada em maiores números mais perto da costa.

Tal como o guincho, no inverno a gaivota-de-cabeça-preta tem a cabeça esbranquiçada, com uma mancha escura na zona do ouvido, mas na gaivota-de-cabeça-preta essa mancha estende-se até ao olho. E ao contrário do guincho, a gaivota-de-cabeça-preta não tem o triângulo branco nas penas de voo, nem a ponta das asas preta, e o cinzento do dorso e parte superior das asas é bastante diluído. Tem as patas e o bico vermelho, sendo este mais robusto que o do guincho.


Agora é a sua vez.

Da próxima vez que vir uma gaivota, veja se consegue identificar a espécie. E para um desafio maior, participe no Projeto Arenaria e contribua para aferir o estado das gaivotas e outras aves que usam a nossa costa durante o inverno.


Conte as Aves que Contam Consigo

A série Conte as Aves que Contam Consigo insere-se no projeto “Ciência Cidadã – envolver voluntários na monitorização das populações de aves”, dinamizado pela SPEA em parceria com a Wilder – Rewilding your days e o Norwegian Institute for Nature Research (NINA) e financiado pelo Programa Cidadãos Ativos/Active Citizens Fund (EEAGrants), um fundo constituído por recursos públicos da Islândia, Liechtenstein e Noruega e gerido em Portugal pela Fundação Calouste Gulbenkian, em consórcio com a Fundação Bissaya Barreto.