Formiga-das-calçadas (Aphaenogaster senilis). Foto: davidfdz_b82/Biodiversity4All

Estas são quatro espécies de formigas comuns. Já viu alguma?

De entre as mais de 160 espécies conhecidas em território português, fique a conhecer quatro formigas fáceis de observar, incluindo uma invasora que vive em nossas casas.

 

Existem formigas por toda a Terra, desde os desertos às savanas e às florestas tropicais. Na verdade, estes pequenos insectos que parecem sempre atarefados só não foram ainda encontrados na Antártida e nalgumas ilhas mais isoladas.

Quanto a Portugal, há 163 espécies de formigas: 139 espécies nativas registadas pelos cientistas e outras 24 exóticas que aqui chegaram vindas de outros territórios.

Fique a conhecer quatro das mais comuns, que provavelmente já todos observámos, sugeridas pelo investigador e especialista Roberto Keller, ligado ao Museu de História Natural e da Ciência e ao c3Ec – Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais, da Universidade de Lisboa:

 

1. Formiga-Argentina

Formiga-Argentina aumentada muitas vezes, em relação ao tamanho real. Foto: Andrew Allen/Biodiversity4All
Formigas-Argentina. Foto: jon sullivan/Biodiversity4All

“As formigas que podemos encontrar dentro de casa infelizmente pertencem na sua maioria à espécie formiga-Argentina (Linepithema humile), que é uma das maiores espécies invasoras no mundo inteiro”, indica Roberto Keller.

Em Portugal, esta formiga originária da bacia do rio Paraná, na América do Sul, terá sido introduzida no final do século XIX, talvez à boleia de alguma mercadoria. Entretanto espalhou-se por todo o território continental. Também está presente na ilha da Madeira. Tem a capacidade de formar super-colónias

Segundo uma nota da Universidade Nova, é uma formiga bastante agressiva para as presas e competidores (outras espécies de formigas, por exemplo). É pequena e alongada, variando entre cerca de três milímetros de comprimento (obreiras e machos) e cinco milímetros (rainhas). As cores variam entre o castanho-amarelado e o castanho-escuro e na época da reprodução, as rainhas e os machos possuem asas, sendo que as primeiras as perdem depois do acasalamento.

 

2. Formiga-carrilheira ou formiga-do-pão (Messor barbarus):

Formiga-carrilheira ou formiga-do-pão. Foto: Furcifer pardalis/VisualHunt.com

Esta formiga “é uma espécie nativa icónica da região mediterrânica” e também “uma das nossas espécies mais comuns ao longo de todo o nosso território continental”, explica Roberto Keller, que é curador da colecção de himenópteros (abelhas, vespas e formigas) do Museu de História Natural e da Ciência, em Lisboa.

É durante o Outono que as colónias desta formiga “colectora de sementes” se reproduzem. “Vai ser possível encontrar machos e rainhas (fêmeas) com asas a voar ao final da tarde, sobretudo nos dias com alguma chuva.”

 

3. Formiga Tapinoma simrothi

Formiga da espécie Tapinoma simrothi, aumentada. Foto: www.AntWeb.org

Esta é uma formiga  que pode ser reconhecida pela forma como constrói as suas colónias: estas “formam montes de terra solta  que são visíveis na entrada dos ninhos”, descreve Roberto Keller.

Por outro lado, as formigas desta espécie, que foi descrita para a Ciência em 1911, “libertam um cheiro doce ao serem perturbadas”.

 

4. Formiga-das-calçadas (Aphaenogaster senilis)

Formiga-das-calçadas (Aphaenogaster senilis), aumentada face ao tamanho real. Foto: davidfdz_b82/Biodiversity4All

Tal como a formiga-carrilheira, esta espécie também gosta de apanhar sementes, mas apresenta uma dieta mais variada. São “formigas relativamente grandes, com o corpo alongado, preto, rugoso e coberto por pêlos brancos. O tórax possui um par de espinhos curtos”, descreve um texto publicado pela Universidade Nova.

“É uma espécie comum nos ambientes urbanos e rurais, e que podemos encontrar em muitos dos jardins portugueses, que tem um fascinante sistema de reprodução”, destaca por sua vez o investigador Roberto Keller.

Assim, na maioria das espécies de formigas, “quando uma colónia chega à idade de maturação produz novos machos e rainhas com asas que deixam o ninho para se dispersarem através do voo, formando novas colónias”.

Já nesta espécie, acontece algo de muito diferente e “muito inusual”. “As colónias reproduzem-se como se fossem uma ameba, ou seja, por um sistema de fissão binária: cada colónia tem uma única rainha sem asas e, numa altura do ano, a colónia toda muda o seu ninho. No entanto, quando isto acontece, a colónia fica dividida em duas partes que irão estabelecer os seus ninhos por separado”, conta o mesmo responsável.

“A metade da colónia que fica com a única rainha existente simplesmente continua a crescer, até atingir o tamanho (número de indivíduos) que tinha originalmente.”

E o que acontece à metade que ficou sem rainha? Essa metade da antiga colónia, onde ficaram apenas obreiras e larvas, “começa imediatamente a criar três novas rainhas”. “Isto é crucial, porque sem uma rainha a colónia nunca mais conseguiria crescer, já que as obreiras são estéreis”, explica.

“Finalmente, no momento em que a primeira destas rainhas chega a idade adulta, as outras duas são mortas! A nova rainha acasala com machos que chegam de outras colónias da mesma espécie, e começa a pôr ovos para que a sua colónia continue a crescer. E o ciclo repete-se.”

 


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Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.