Ilha do Corvo apaga iluminação pública para salvar aves marinhas

Durante a próxima semana de 26 a 30 de Outubro, todas as noites haverá um apagão geral no Corvo, Açores: a iluminação pública da ilha será desligada para proteger o grupo de aves mais ameaçadas do mundo.

Esta iniciativa da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (Spea) e da Câmara Municipal do Corvo foca-se num período crítico para as aves marinhas.

Foto: Tânia Pipa/Spea

“Nesta altura do ano, aves como a cagarra (conhecida nos Açores por cagarro) estão a abandonar os ninhos e a fazer-se ao mar. Para evitar predadores, fazem-no de noite, mas as luzes das nossas vilas e cidades deixam-nas muitas vezes encandeadas, desorientando as jovens aves que acabam por cair por terra, não só nos Açores mas também na Madeira e nas Canárias, por exemplo”, segundo um comunicado da Spea enviado esta sexta-feira à Wilder.

Este apagão de uma semana, todas as noites das 21h00 e as 04h00, é uma expansão face a iniciativas anteriores nesta ilha, onde as autoridades têm reconhecido cada vez mais o impacto da poluição luminosa nas aves e a importância de uma política de eficiência energética para proteger estas espécies e alcançar as metas de conservação e turismo sustentável.

Já no ano passado, a Câmara Municipal do Corvo e a Spea promoveram um apagão numa noite. E desde 2017 que o município desliga a iluminação pública durante os períodos mais críticos da campanha SOS Cagarro, em que dezenas de voluntários ajudam a encaminhar para o mar as aves desnorteadas.

A iniciativa realiza-se no âmbito dos projectos Interreg EElabs, dedicado ao uso sustentável da iluminação artificial, e Interreg LuMinAves, que visa especificamente mitigar o impacto da poluição luminosa nas aves marinhas.

A Spea e os seus parceiros nestes projetos desafiam outros municípios e ilhas por toda a Macaronésia para que venham a seguir o exemplo do Corvo, desligando as luzes em períodos críticos.

Até 2022, decorrerá o projecto EELabs que “procura medir a contaminação luminosa dos ecossistemas naturais protegidos da Macaronésia”. A instalação de fotómetros que “medirão” diariamente os níveis de poluição luminosa inicia-se ainda este ano, no município de Santa Cruz e na ilha do Corvo.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.