Saiba como pode tornar o seu jardim num refúgio para os polinizadores

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Os polinizadores precisam da nossa ajuda. A perda de habitat é uma das principais razões pelas quais vemos menos abelhas, borboletas e outros insectos nos nossos jardins. Saiba o que semear para os ajudar. Agora é a melhor altura para preparar o seu jardim para a Primavera.

Conhecemos bem os números. Cerca de 1 em cada 10 polinizadores da União Europeia está em risco de extinção, segundo a Lista Vermelha Europeia. À escala planetária, mais de 40% dos polinizadores invertebrados – especialmente abelhas e borboletas – estão ameaçados de extinção.

Foto: Castelguard/Pixabay

A boa notícia é que podemos ajudar a abrandar ou até a reverter o declínio de abelhas, borboletas, moscas-das-flores e outros polinizadores semeando uma boa diversidade de plantas nos nossos jardins ou varandas.

Na semana passada, um estudo concluiu que os pequenos jardins urbanos são uma fonte de alimento confiável e constante para polinizadores.

A equipa do FLOWer Lab (João Loureiro, Hugo Gaspar, Catarina Siopa e Sílvia Castro), do Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra, explicou à Wilder como podemos criar esses jardins amigos dos polinizadores.

Espécies para plantar no Inverno:

Apesar de os insetos só começarem a surgir em maior abundância e diversidade no fim do Inverno, é nesta estação que devemos preparar os quintais e as varandas para os primeiros insetos da temporada e para as épocas do ano em que os polinizadores estão mais ativos: a primavera e o verão. O ideal é escolher plantas autóctones. Infelizmente, nem sempre é fácil encontrar algumas destas plantas à venda, sendo este um dos problemas principais para a futura implementação de medidas concretas para os polinizadores que envolvam o público geral.

No início do Inverno podem ser plantadas espécies como:

  • Açafrão-bravo (Crocus spp.)
  • Prímulas (Primula acaulis)
  • Urzes (Erica spp.)
  • Arroz-dos-telhados (Sedum spp.)
  • Erva-das-sete-sangrias (Glandora prostrata)

No Inverno há várias espécies que garantem alimento para os polinizadores. As madressilvas (Lonicera spp.), a erva-besteira (Helleborus foetidus), as roselhas (Cistus spp.), os medronheiros (Arbutus unedo), os salgueiros (Salix spp.), abrunheiros (Prunus spinosa) e as tramazeiras (Sorbus aucuparia) são excelentes opções para jardins de maiores dimensões e são uma fonte de alimento para os poucos insetos polinizadores ativos durante o inverno.

Criar um jardim com alimento e refúgio todo o ano:

É importante garantir uma fonte de alimento diversificado para os insetos polinizadores ao longo de todo o ano, mas em especial na Primavera e no Verão, período de maior atividade dos polinizadores. Os nossos jardins podem tornar-se, além de fontes de alimento, locais de nidificação especialmente importantes em zonas muito alteradas pelo homem como são as cidades. Estas pequenas bolsas verdes e floridas ajudam a ligar habitats favoráveis, garantindo que os insetos polinizadores têm os elementos cruciais ao seu ciclo de vida.

Foto: Kie Ker/Pixabay

Deixar as plantas espontâneas prosperar:

A redução do número de vezes que se corta a vegetação é tão importante e eficaz quanto criar jardins usando misturas de sementes de plantas ornamentais, muitas vezes compostas por plantas não nativas. Efetivamente, muitas das nossas plantas espontâneas, como os dentes-de-leão (Taraxacum officinale), os trevos (Trifolium spp.), os chuchapitos (Lamium spp.), as Prunella spp. e as ervas-coelheira (Lotus spp.) são ótimos recursos de néctar e pólen para os polinizadores e são plantas que irão prosperar se reduzirmos o número de cortes da vegetação e deixarmos de aplicar produtos químicos como herbicidas. 

Semear e plantar estas espécies em jardins pequenos ou em varandas:

Podemos cultivar plantas o mais diversificadas possível em termos de forma e de cor das suas flores. Serão recursos alimentares interessantes para os insetos polinizadores. Como por exemplo:

  • Tomilho (Thymus spp.)
  • Alfazema (Lavandula spp.)
  • Menta (Mentha spp.)
  • Orégãos (Origanum vulgare)
  • Alecrim (Rosmarinus officinalis)
  • Cebolinho (Allium spp.)
  • Urzes (Erica spp.)
  • Pilriteiro (Crataegus monogyna)
  • Roselhas (Cistus spp.).
Os polinizadores, que estão a perder habitat, precisam de ajuda. Saiba o que semear para tornar o seu jardim num refúgio para estes insectos.
Foto: Pexels/Pixabay

… E estas em jardins maiores:

  • Cerejeira (Prunus avium)
  • Macieira (Malus domestica)
  • Laranjeira (Citrus x sinensis)
  • Salgueiros (Salix spp.)
  • Tramazeira (Sorbus aucuparia)

Incluir no nosso jardim plantas que florescem mais tarde, no Verão e no Outono, como por exemplo:

  • Espécies do género Senecio (como a erva de São-Tiago)
  • Funcho (Foeniculum vulgare)
  • Torga (Calluna vulgaris)
  • Trovisco (Daphne gnidium)
  • Cenoura-brava (Daucus carota)

 

Criar locais de nidificação para abelhas solitárias:

O Inverno é a altura ideal para criar locais de nidificação para abelhas solitárias. Pode fazê-lo fazendo a remoção parcial da vegetação, para expor o solo ao sol em locais abertos, para abelhas que façam o ninho no solo (e.g., Andrena spp., Lasioglossum spp. ou Halictus spp.); ou criando zonas com restos de madeira, folhas e/ou caules, para as abelhas que nidificam em cavidades (e.g., Osmia spp. ou Megachile spp.).

Foto: u_91zgw5yq/Pixabay

Conhecer o ciclo de vida dos polinizadores:

No inverno existem poucos polinizadores ativos. Durante este período, a grande maioria está nos seus ninhos ou recombros (em madeira antiga, solo não perturbado, cavidades ocas) em desenvolvimento desde a época de atividade anterior até se tornarem ativos na sua época de atividade habitual.

As abelhas selvagens iniciam a sua atividade em adultas quando saem dos ninhos, mas outros organismos como moscas-das-flores ou as borboletas passam por um estado larvar muito ativo, participando noutras interações ecológicas, como predação, parasitação ou herbivoria.

Cada inseto tem a sua época do ano e existem espécies com períodos de atividade mais restritos do que outras. Ainda assim, a maioria das espécies surge na primavera e no verão.

Para as poucas espécies que voam no inverno, existe uma maior capacidade para tirar proveito da escassez de alimento mas, na realidade, estes organismos têm as mesmas necessidades alimentares e de nidificação que as restantes espécies.

Por exemplo, algumas espécies de abelhões, muito frequentemente representados por Bombus terrestris, são capazes de manter as suas colónias durante o inverno, para além do seu ciclo reprodutivo no verão.

No entanto, além dos abelhões, a partir de janeiro já podem ser observadas, por exemplo, algumas espécies de abelhas dos géneros Andrena, Lasioglossum ou Eucera. Outros polinizadores como as moscas das flores (e.g., Sphaerophoria spp. ou Eupeodes spp.) ou borboletas diurnas (e.g., Pieris spp. ou Colias croceus) podem também ser observadas nestas épocas de menor atividade. 

A existência de algumas plantas de floração invernal permitem que, em climas mediterrâneos como o nosso, alguns polinizadores consigam ainda ter recursos alimentares. A prevalência de invernos cada vez menos rigorosos devido às alterações climáticas, poderá levar a que seja cada vez mais comum observar mais precocemente espécies de início de época.

Todavia, questões relacionadas com desajustes fenológicos entre os insetos polinizadores e os recursos florísticos poderão verificar-se, assim como, uma maior probabilidade de ocorrência de eventos extremos, como vagas de frio, incluindo a ocorrência de geadas, e pluviosidade intensa, que impactam as populações não só dos insetos polinizadores mas também das plantas que são a sua fonte de alimento.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.