Pequenos jardins urbanos são uma fonte de alimento confiável e constante para polinizadores, sugere estudo

Uma equipa de investigadores estudou 59 jardins residenciais na cidade de Bristol e descobriu que uma boa rede de jardins com plantas com néctar são uma fonte de alimento confiável e constante para os insectos polinizadores.

“Medimos a quantidade de néctar produzido pelas flores de 59 jardins residenciais em Bristol”, explicou, em comunicado, Nick Tew, da Universidade de Bristol. “Descobrimos que os jardins individuais variam muito quanto à quantidade de alimento que providenciam e quando o providenciam durante o ano. Contudo, porque polinizadores voadores como as abelhas podem visitar muitos jardins diferentes, eles são capazes de encontrar alimento num mesmo bairro sempre que precisarem”, acrescentou.

Jardim rico em néctar em Westbury Park (Bristol). Foto: Nick Tew

Assim, apesar da grande variabilidade na quantidade e na altura de produção de néctar de jardim para jardim, os polinizadores têm uma reserva de alimento garantida se visitarem vários jardins.

Isto contrasta com estudos anteriores feitos sobre campos agrícolas, onde os polinizadores são expostos a ciclos alternados de grande abundância e de grande escassez de produção de néctar, ao longo do ano, de acordo com o calendário agrícola.

Segundo os investigadores, que publicaram as suas conclusões num artigo na revista Journal of Applied Ecology no início de Janeiro, os jardins de muitas casas são uma fonte estável e diversa de alimento para os polinizadores das cidades.

“Sabíamos que os jardins são habitats importantes para os polinizadores do Reino Unido, providenciando 85% do néctar em zonas urbanas e uma grande diversidade de plantas com flor. Mas não sabíamos de que forma variava a produção de néctar entre cada jardim ou em cada mês do ano. É especialmente importante compreender a variação de jardim para jardim para aconselhar a melhor maneira de gerirmos colectivamente os nossos jardins para ajudar os polinizadores”, disse Nick Tew.

Um jardim em Montpelier (Bristol) na Primavera (à esquerda) e no Verão (à direita). Foto: Nick Tew

A variação entre jardins foi extrema, indo dos 2 gramas aos 1,7 quilos de néctar produzido ao longo do ano. Isto não foi determinado pelo tamanho do jardim mas sim como as pessoas decidiram gerir os seus jardins.

“Isto significa que todos temos o potencial para ajudar os polinizadores de uma forma significativa, mesmo se tivermos um jardim pequeno há muito espaço para melhorias, dependendo da forma como decidimos o que plantar, podar ou mondar.”

Quem tem jardins pode ajudar plantando flores que surgem mais para o final do ano porque no final do Verão e no Outono, 79% do néctar foi produzido por flores tubulares apenas acessíveis a insectos com línguas compridas, como os abelhões. Os arbustos também são recomendados como uma forma de ter muitas flores num pequeno espaço. Segundo os investigadores, os arbustos providenciaram 58% de todo o néctar dos jardins.

Abelhão a alimentar-se de uma flor de agapanto. Foto: Nick Tew

Este estudo teve a colaboração de cientistas das Universidades de Bristol, Cardiff e Northumbria, bem como da Royal Horticultural Society (RHS).

Para Stephanie Bird, da RHS, “esta investigação salienta o poder colectivo dos jardineiros britânicos na garantia de um futuro para os nossos insectos polinizadores”.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.