Lesma-leopardo. Foto: Holger Krisp/WikiCommons

Seis lesmas para procurar no Outono

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Sónia Ferreira, investigadora do CIBIO-InBIO (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos), sugere seis espécies de lesmas (mais ou menos) fáceis de encontrar no Outono em Portugal.

Experimente partir à procura de lesmas em dias húmidos, quando estes animais estão com maior actividade. “Depois de uma chuvada, e especialmente à noite, é fácil encontrá-las activas”, explica Sónia Ferreira à Wilder. Isto porque as lesmas precisam de elevada humidade.

“Durante o dia escondem-se debaixo de troncos, pedras ou na manta morta.”

Em períodos de seca, nomeadamente em grande parte do Verão, estes animais “refugiam-se nas proximidades de cursos de água/charcas ou abrigam-se na manta morta/solo, onde aguardam pela ocorrência  das chuvas”.

“Noites de chuva (ou pós-chuva) e temperaturas amenas são o ideal para observar estes organismos, a par da observação de anfíbios, também muito ativos e como tal de observação mais facilitada nessas condições”, acrescenta a investigadora.

Aqui ficam seis espécies fáceis de observar, especialmente pelo seu grande tamanho e porque são relativamente fáceis de identificar:

Lesma-preta (Arion ater):

Lesma-preta. Foto: Prashanthns/WikiCommons

É uma espécie muito comum na metade Norte do país. Apenas os adultos têm a cor preta – antes são alaranjados e depois ganham uma cor castanha clara – e podem medir cerca de 15 centímetros.

Esta lesma é hermafrodita, gosta de habitats com elevada humidade e passa a maior parte do tempo a alimentar-se (na sua maioria fungos e plantas).

Tem um papel crucial para os ecossistemas, uma vez que decompõe a matéria orgânica.


Lesma-amarela (Limacus flavus):

Lesma-amarela. Foto: Syrio/WikiCommons

Esta espécie ocorre um pouco por todo o país.

A lesma-amarela, como a maioria das outras lesmas terrestres, usam dois pares de tentáculos nas suas cabeças para apreender o ambiente onde estão. O par de cima é usado para se aperceberem da luminosidade; o par de baixo dá-lhes a sensação do olfato. Ambos os pares retraem-se e esticam-se para evitar colidir com elementos do seu ambiente.

Atenção que por vezes é confundida com a lesma-do-Gerês.

Lesma-leopardo (Limax maximus):

Lesma-leopardo. Foto: Holger Krisp/WikiCommons

“A lesma-leopardo é muito característica, por vezes atinge grandes dimensões e é muito bonita”, descreve Sónia Ferreira.

Alimenta-se de plantas, fungos, lixo, etc. Tem hábitos nocturnos, ainda que também a possamos ver em dias chuvosos e de temperatura amena.

Habita em vários tipos de locais, como bosques, jardins, exteriores de edifícios, muros e pilhas de lixo, por exemplo.

“Esta lesma tem o corpo arredondado e apresenta uma quilha na parte posterior. É de cor acinzentada ou enegrecida, com manchas ou linhas mais escuras; tem o pé de cor esbranquiçada e o seu muco é incolor”, segundo Teresa Rodrigues Lopez, investigadora da Universidade de Santiago de Compostela (Espanha).

“São hermafroditas com fecundação cruzada. Para a cópula penduram-se a um filamento de muco e enroscam os seus genitais que se parecem umas grandes massas esbranquiçadas.”

Lesma-dos-pousios (Drusia valenciennii):

“Para que não se pense que as lesmas são coisa do Norte, esta espécie é bem abundante mesmo no Alentejo onde abundância de água é bastante limitada”, explica Sónia Ferreira.

Esta é uma espécie endémica da Península Ibérica, da família Parmacellidae, e é comum vê-la depois das primeiras chuvas da Primavera.

É uma lesma de cor amarelada (pode ter algumas manchas negras), de hábitos nocturnos e que pode ultrapassar os 10 centímetros de comprimento.

O género a que pertence, Drusia, tem espécies de lesmas grandes. Na Península Ibérica, há apenas uma única espécie deste género, precisamente a lesma-dos-pousios.

Lesma Milax gagates:

Lesma Milax gagates. Foto: Justin Johnsen/WikiCommons

Esta é uma espécie ligeiramente mais rara. A Milax gagates tem uma quilha bem visível entre o manto e a extremidade posterior.

O corpo destas lesmas é cinzento escuro ou mesmo preto, embora tenha lados um pouco mais claros.

Vive principalmente em áreas cultivadas, geralmente na costa, e também em florestas, arbustos e prados naturais. Prefere habitats perto de água.

Lesma do Gerês (Geomalacus maculosus):

Lesma-do-Gerês. Foto: Sónia Ferreira

Esta é uma espécie rara e protegida. “Continua a ser uma boa candidata a ser observada, mas mais na metade Norte do país”, adverte Sónia Ferreira.

É uma lesma “acastanhada com bastante variação na coloração e que apresenta manchas amareladas (mais claras) (máculas que lhe dão o nome maculosus)”. Tem um tamanho médio a grande e pode alcançar os 12 centímetros de comprimento.

“Alimenta-se de líquenes e musgos pelo que, muito provavelmente, quando a observamos à noite sobre troncos de árvores ou sobre granito, andará à procura de alimento.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.