Luís Afonso. Foto: D:R.
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Torne-se um perito em fotografar paisagens

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O fotógrafo de natureza Luís Afonso, que lançou recentemente um livro de fotografia de paisagem, explica-lhe o que é esta arte tão ligada ao mundo natural e como começar.

WILDER: Quais as características da fotografia de paisagem que o fizeram apaixonar por este tema, a paisagem?

Luís Afonso: Há uma frase, que li numa das publicações do Museu da Paisagem, que gosto muito e que diz que “a paisagem somos nós”. Acho que esta frase reflete muito a forma como eu vejo a paisagem, em especial com a câmara na mão. Eu adoro a paisagem. Às vezes sinto que até é um pouco arriscado andar comigo de carro porque eu vou sempre a olhar para a paisagem. Gosto de todos os habitats e acho que somos abençoados por termos um país maravilhoso onde nada nos falta (à excepção de alta montanha e deserto). Temos uma biodiversidade incrível e paisagens diversas e fabulosas. A fotografia começou por ser uma forma de registar este amor pela paisagem. Nos primeiros tempos, a paisagem aberta e imponente, os grandes espaços. Aos poucos, o meu olhar foi-se afunilando e agora gosto de retratar o pequeno na paisagem, ou seja, as pequenas formas que a compõem. Sempre com atenção à luz que a molda, pois fotografia é indissociável da luz e gosto de retratar a paisagem na luz “certa”. Mas, sinceramente, acho que foi a paisagem que me fez apaixonar pela fotografia e não o contrário. É por isso que sou fotógrafo de paisagem e não apenas fotógrafo. Se não fosse pela paisagem, dificilmente seria fotógrafo. Mas a fotografia, como ferramenta de expressão criativa, permite que criemos com a paisagem, através da paisagem. E isso é fabuloso, porque tenho desfrutado muito mais da paisagem por causa da fotografia e tenho aprendido muito sobre a paisagem por causa da fotografia.

Polje de Mira Minde. Foto: Luís Afonso


W: Há quanto tempo fotografa paisagens?

Luís Afonso: De forma mais séria, desde a primeira sessão no Parque Natural de Sintra-Cascais a 30 de Março de 2006.

Porto Santo. Foto: Luís Afonso


W: Que conselhos dá a quem quer começar?

Luís Afonso: Em primeiro lugar, é muito importante dominar a técnica. Acho que isto é fundamental em qualquer disciplina e em qualquer estilo fotográfico. Depois de dominar a técnica da captura, é preciso fotografar muito e passar muitas horas no terreno. Começar a construir uma relação duradoura com a paisagem para se ter algo a dizer, pois a fotografia deve dizer sempre alguma coisa. Depois, é preciso ganhar cultura visual. Ver muita fotografia boa, nos suportes certos. Comprar livros (não apenas técnicos, mas sobretudo de autor), revistas especializadas sobre o tema ou aceder aos sites dos fotógrafos de referência. Manter-se longe das redes sociais pode ser difícil nesta fase, mas é certamente algo que aconselho, em especial neste aspecto do ganhar cultura visual. As redes sociais, infelizmente, não têm editores , sendo impossível distinguir o muito bom do menos bom e nunca deve ser aí, na minha opinião, que se deve ver fotografia. E finalmente, não ter medo de ter um estilo próprio. Como dizia o Ernst Haas, autor de um dos melhores livros de fotografia de natureza de sempre – “Criação” – “o estilo não tem uma fórmula, mas tem um segredo: é uma extensão da tua personalidade”.


Saiba mais aqui sobre o livro “Casa”, por Luís Afonso e com quatro paisagens belíssimas de Portugal.


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Com a ajuda das ilustrações de Marco Nunes Correia, poderá identificar as aves mais comuns nos jardins portugueses. O calendário Wilder de 2021 tem assinalados os dias mais importantes para a natureza e biodiversidade, em Portugal e no mundo. É impresso na vila da Benedita, no centro do país, em papel reciclado.

Marco Nunes Correia é ilustrador científico, especializado no desenho de aves. Tem em mãos dois guias de aves selvagens e é professor de desenho e ilustração.

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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.