Que espécie é esta: tarântula-ibérica com crias

A leitora Sofia Carmo encontrou uma aranha parada na estrada, na Serra de Sintra, e quis confirmar qual a espécie. Sérgio Henriques responde.

 

“Encontrei na serra de Sintra, perto de Biscaia, esta aranha que estava estática numa estrada”, descreveu Sofia Carmo, sobre a aranha fotografada a 31 de Maio.

“Até tentei enxota-lá para fora da estrada e ela nem se queria mexer, mas com insistência e a tocar levemente numa pata da frente – com um pasto – ela pôs-se em posição de ataque mas depois lá foi para a berma sem grande vontade, pois não queria que ela fosse esmagada, apesar de ser uma estrada pouco concorrida.”

Sofia Carmo, que é professora de geologia e biologia, achou curioso “a aranha a transportar as filhotes às costas” e pediu confirmação sobre se se trata de uma tarântula-ibérica.

A espécie que a leitora observou parece ser de facto uma tarântula-ibérica, a Lycosa hyspanica (antiga Lycosa tarantula).

Espécie identificada e texto por: Sérgio Henriques, líder do grupo de especialistas em aranhas e escorpiões da UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza) e especialista da Sociedade Zoológica de Londres.

A tarântula-ibérica é uma das espécies que originaram a dança da tarentela e a expressão “estar atarantado”, nomes que estão ligados à cidade de Tarento em Italia.

As mães carregam o saco de ovos nas fieiras (as estruturas que produzem seda) no seu abdómen. E quando estas nascem dos ovos, a mãe ajuda-as a emergir do saco de seda e estas sobem para as suas costas, onde as transporta até estarem prontas a ser independentes.

Normalmente vivem em tocas no chão, com um anel de seda que as protege de inundações e outras ameaças, mas esta jovem mãe claramente precisou de mudar de casa e ir até outro lado.

Se a mãe for atacada ou perturbada, esta pode tomar uma posição defensiva, como a leitora descreve, e dar oportunidade às crias para escaparem se for necessário.

Se as crias escaparem mas a ameaça terminar, como as crias deixam um fio de seda que as prende à mãe, esta pode vibrar essa linha para as chamar de volta. Conheço muito pais que gostariam de ter acesso a mesma tecnologia.

 

Conheça aqui uma outra aranha com crias, desta vez uma aranha-lobo.

 

[divider type=”thin”]Agora é a sua vez.

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Explore a série “Que espécie é esta?” e descubra quais as espécies que já foram identificadas, com a ajuda dos especialistas.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.