Esta Sexta-feira Santa o Estuário do Sado precisa de si

Sensibilizar centenas de mariscadores para não deixarem embalagens de plástico na natureza e recolher lixo são a forma de ajudar o Estuário do Sado nesta Sexta-feira Santa. A iniciativa da Ocean Alive precisa de voluntários.

 

No dia 19 de Abril, Sexta-feira Santa, acontece uma das maiores acções de sensibilização e limpeza do Estuário do Sado do ano. A Ocean Alive, responsável pelo projecto Mariscar Sem Lixo, já mobilizou mais de 3.400 voluntários desde o início da iniciativa, na Sexta-feira Santa de 2016.

Em três anos, pessoas de todas as idades ajudaram a retirar do Estuário do Sado um total de 48 toneladas de lixo e 54.000 embalagens de sal.

Este projecto quer dar uma nova cara a um dos estuários mais importantes da Europa, o Estuário do Sado. Este é um local crucial para inúmeras espécies selvagens, como flamingos, golfinhos, pilritos, caranguejos-eremita, búzios, sargos, peixes-rei, tainhas e salemas.

A 19 de Abril acontece a 46ª acção do Mariscar Sem Lixo, com acções previstas em 10 locais de mariscagem. Todos os voluntários recebem uma t-shirt que os identifica.

 

 

“A missão desta acção é a sensibilização, pela oportunidade única deste dia. É um enorme desafio chegar a todos os mariscadores, uma vez que, em alguns locais temos entre 200 a 500 mariscadores”, explicou hoje à Wilder Raquel Gaspar, bióloga e coordenadora da iniciativa.

A Sexta-feira Santa é, por tradição, o grande pico anual de afluência de mariscadores no estuário, sítio da Rede Natura 2000 e casa da única população de golfinhos residente no nosso país. São esperadas mais de 1.000 pessoas que acorrem ao estuário para mariscar.

É durante a maré baixa que centenas de mariscadores apanham o lingueirão ou peixe-navalha (Solen marginatus) deitando sal fino para as suas tocas. Como este animal tem uma concha muito sensível às perturbações de salinidade e temperatura, rapidamente emerge à superfície da areia e é apanhado.

A Ocean Alive estima que cada mariscador profissional utilize cerca de 10 embalagens por maré.

Com o tempo, as embalagens vão-se deteriorar e transformar-se em pequenas partículas de plástico que acumulam poluentes tóxicos e que acabam por ser ingeridas por peixes, mariscos e golfinhos. Estas partículas – que vão persistir durante décadas ou séculos – “poderão ferir, asfixiar, causar úlceras ou a morte de animais marinhos”, salienta a Ocean Alive.

 

um choco
Choco, uma das espécies que usam o Estuário do Sado como berçário. Foto: Amada44/Wiki Commons

 

Além disso, “parte das embalagens vem dar às praias de Setúbal, Tróia e Arrábida, constituindo também um risco para a saúde pública”.

Todos os meses desde Março de 2016, Raquel Gaspar organiza equipas de dezenas (e às vezes centenas) de voluntários que, a pouco e pouco, vão limpando aquele estuário, uma ferradura natural que liga Setúbal a Tróia.

Depois de três anos de trabalho já se notam diferenças. “A maior parte dos mariscadores já conhece a nossa campanha e recebe-nos com um sorriso”, acrescentou Raquel Gaspar.

“Fazemos conversa, criamos empatia. As pessoas em geral já têm consciência deste problema. No final do dia, trazemos novos amigos e o sentimento de termos contribuído para um estuário do Sado mais limpo e mantido por todos.”

A Ocean Alive é uma organização sem fins lucrativos que pretende “transformar comportamentos para a protecção do oceano, nomeadamente das pradarias marinhas do estuário, através da educação marinha e do envolvimento das comunidades costeiras locais”.

Desde 2017, a Ocean Alive conta com o patrocínio da Fundação Oceano Azul e do Oceanário de Lisboa, através do apoio à realização de grandes ações de sensibilização, como a campanha ”Mariscar SEM Lixo”, e à criação de uma rede de agentes de sensibilização da comunidade piscatória local, na sua maioria mulheres de pescadores, promovendo assim boas práticas que protejam as pradarias marinhas do plástico e do lixo da pesca e da mariscagem.

 

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez.

Pode inscrever-se na acção de 19 de Abril aqui. As inscrições fecham no dia 17 de Abril às 20h00.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Leia aqui a entrevista que fizemos a Raquel Gaspar, a propósito da celebração do quarto aniversário da campanha Mariscar SEM Lixo.

Raquel Gaspar ganhou em 2017 o prémio nacional Terre de Femmes, atribuído pela Fundação Yves Rocher. Leia a entrevista que esta bióloga deu à Wilder e conheça o projecto que quer transformar pescadoras em guardiãs do Estuário do Sado.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.