Morcegos. Foto: Shankar S./Wiki Commons

Saiba mais sobre a migração e hibernação dos morcegos em Portugal

Depois de na semana passada termos sabido que um morcego voou da Letónia a Espanha, naquela que é a migração mais longa conhecida para um morcego, o biólogo Hugo Rebelo ajuda-nos a saber mais sobre a migração e a hibernação dos morcegos em Portugal.

Um morcego de Nathusius (Pipistrellus nathusii) surpreendeu investigadores internacionais ao fazer a maior migração conhecida de um morcego, voando mais de 2.200 quilómetros da Letónia a Espanha.

“A descoberta feita pelos nossos colegas é bastante interessante!”, disse à Wilder Hugo Rebelo, investigador do CIBIO-InBIO (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos) ligado à Universidade do Porto. “Demonstra a capacidade que algumas espécies de morcego têm para fazer grandes migrações mas alerta também para o facto destas populações dependerem de áreas enormes (considerando as de inverno e verão) para a sua sobrevivência.”

O morcego de Nathusius é um pequeno morcego migrador, que percorre quilómetros à procura de zonas onde o Inverno é mais suave.

Também a maior parte das espécies de morcegos portuguesas é migradora, explicou Hugo Rebelo.

Morcegos. Foto: Shankar S./Wiki Commons

Ainda assim, as distâncias percorridas aquando do período migratório variam imenso, acrescentou.

De momento não se sabe qual a espécie de morcego que ocorre em Portugal que faz as migrações mais longas. Mas há vários candidatos.

“As espécies de maior porte, como o morcego-arborícola-gigante e o morcego-rabudo-europeu, terão potencialmente maior capacidade para encetar migrações de longa distância”, sugeriu o investigador.

Na sua opinião, “é plausível pensar que o morcego-arborícola-gigante possa migrar para países no centro ou leste da Europa, enquanto que o morcego-rabudo-europeu provavelmente migra no inverno para o norte de África”.

Por outro lado, Portugal será um país de destino de Inverno para muitos morcegos europeus.

“É altamente provável que Portugal receba morcegos migratórios do centro e leste da Europa”, disse Hugo Rebelo.

“Por exemplo, há uma espécie relativamente comum no centro e norte da Europa, o morcego-arborícola-grande, que quase só se encontra em Portugal durante os meses mais frios. Isto dá-nos uma indicação de que esta espécie em particular poderá essencialmente ocorrer em Portugal apenas durante o inverno, migrando para centro e norte da Europa durante o resto do ano.”

A hibernação é sempre uma opção

Segundo explicou Hugo Rebelo, a hibernação dos morcegos surgiu como uma resposta evolutiva às condições de Inverno. É uma resposta fisiológica destes mamíferos.

“Perante o frio e a escassez de alimento (com baixas temperaturas há muito menos insetos ativos) o dispêndio de energia é demasiado alto” pelo que a hibernação é sempre uma opção.

Só quando as temperaturas estão abaixo dos 15-12ºC é que os morcegos têm condições para hibernar. Isto porque, a temperatura corporal dos morcegos nunca desce abaixo da temperatura ambiente.

Segundo Hugo Rebelo, “em Portugal continental, o período de hibernação típico ocorre desde meados de Dezembro a Fevereiro. Porém, este período é mais curto no sul do país do que no norte devido ao clima mais ameno a sul e tem vindo a encurtar, provavelmente, como consequência das alterações climáticas em curso”.

Nem todos os morcegos entram em hibernação ao mesmo tempo.

“Há morcegos na cidade que vivem em árvores, telhados ou caixas de estores que raramente hibernam mais de que uma semana ou duas de seguida. Sempre que temos uns dias mais amenos de inverno estes morcegos acordam para um snack invernal, voltando depois a hibernar por mais uns dias.”

Por outro lado, o morcego-rabudo-europeu é um morcego de cariz tropical que ocorre em toda a Península Ibérica. “Este morcego (como muitas espécies tropicais) não possui capacidade para hibernar. É ainda um mistério como pode esta espécie sobreviver ao nosso inverno: apesar de haver fortes indicações de migrações maciças para o norte de África, por outro lado conseguimos detetar esta espécie em Portugal durante todo o ano. O que comem e como conseguem sobreviver a vários dias sem comer permanece um mistério.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.