Veado da Serra da Lousã. Foto: Maria Augusta Pinto

Como encontrar veados, gamos e corços em Portugal

É possível encontrar três espécies de cervídeos em Portugal – veados-vermelhos, corços e gamos – sendo que as duas primeiras espécies são nativas e foram alvo de reintrodução em várias regiões do país, onde vivem em estado selvagem. A Wilder pediu ajuda a Carlos Fonseca, coordenador da Unidade de Vida Selvagem da Universidade de Aveiro, para dar algumas pistas sobre a identificação e o comportamento destes animais.

 

O que procurar para identificar veados, corços e gamos?

A primeira coisa a fazer é prestar atenção ao tamanho do animal. Os veados (Cervus elaphus) são os maiores cervídeos ibéricos, seguidos do gamo (Dama dama) e do corço (Capreolus capreolus). Um veado adulto pesa, em média, cerca de 170 quilos.

Depois, pode observar as hastes dos machos, que são diferentes consoante a espécie. Os veados machos possuem hastes “tubulares”, com um número de pontas variável; quanto aos gamos, têm hastes palmadas, que apresentam algumas ramificações; já o corço possui hastes pequenas, que normalmente têm três pontas no estado adulto.

 

Veado da Serra da Lousã. Foto: Maria Augusta Pinto

 

Quais os melhores locais para observar estas três espécies em Portugal?

Para ver veados-vermelhos selvagens experimente o Parque Natural de Montesinho (Interior Norte), Serra da Lousã (Centro), Tejo Internacional, Parque Natural de São Mamede (Nordeste Alentejano), Serra Algarvia e ainda em diversas herdades situadas no Alentejo.

Já os corços podem ser encontrados, em estado selvagem, em várias zonas do Interior Norte, nomeadamente no Parque Natural de Montesinho, na Serra da Nogueira e na Serra de Bornes. São também conhecidas populações destes animais no Parque Nacional da Peneda-Gerês e na Serra d’Arga (região do Alto Minho), no conjunto das Serras da Freita, Arada e Montemuro (a Sul do Douro), e ainda na Serra da Lousã e região envolvente, na zona Centro do país.

Por fim, pode observar gamos na Tapada Nacional de Mafra (região de Lisboa), e também na Herdade do Vale Feitoso (Beira Interior), tal como nalgumas herdades do Alentejo e do Ribatejo.

 

Corço. Foto: Sylvouille/Wiki Commons

 

Estes animais costumam andar em grupo ou são solitários?

Depende da altura do ano.

Os corços são solitários durante uma grande parte do ano. Já os veados são mais gregários, sendo mais comum encontrarem-se grupos de várias fêmeas, muitas vezes com as respectivas crias. O mesmo acontece com o gamo.

Normalmente, na época de reprodução, há uma maior tendência para os animais destas três espécies serem gregários.

 

Que vestígios podemos interpretar que nos ajudem à identificação das espécies?

As marcações que fazem ao esfregar as hastes nas árvores jovens e arbustos, descascando os troncos, são mais altas e compridas quando são feitas por veados e mais baixas e curtas quando é o corço a fazê-las.

Há ainda outros vestígios que nos permitem distinguir mais facilmente veados ou gamos de corços, como é o caso dos excrementos e das pegadas, mas torna-se difícil distinguir veados de gamos através destes indícios de presença.

 

Gamo. Foto: Johann-Nikolaus Andreae/Wiki Commons

 

Veados, gamos e corços são nativos em Portugal? Ou são populações reintroduzidas?

Ao contrário dos gamos, tanto o veado (Cervus elaphus) como o corço (Capreolus capreolus) são nativos de Portugal. As suas populações já tiveram altos e baixos, tendo sido reintroduzidas nalgumas regiões.

No caso do veado, isso sucedeu na Serra da Lousã e na Serra Algarvia. Quanto ao corço, o mesmo aconteceu na Serra da Lousã, nas Serras da Freita, Arada e Montemuro (ainda a decorrer), Beira Interior e ainda nalguma herdades do Centro e Sul de Portugal.

 

Quais são os principais cuidados que devemos ter no campo?

Deve-se evitar a observação massiva no período da brama, reduzindo-se a pressão humana neste momento tão relevante em termos biológicos e ecológicos, e é importante não interagir com os animais (não gritar, assobiar ou mesmo alimentar).

 

[divider type=”thin”]Saiba mais.

Gostava de conhecer mais sobre a brama dos veados? Leia aqui.

Aprenda também como identificar pegadas de lontras, ginetas, texugos e raposas.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.