O que procurar no Outono: a fauna nos campos agrícolas e florestais

Todos os anos, a nossa paisagem rural muda com o começo do Outono. É tempo de colheita da vinha, do arroz ou da castanha. E de grandes movimentações para o mundo natural nos campos agrícolas. António Cláudio Heitor, técnico florestal que trabalha para compatibilizar as actividades agro-florestais com a conservação da natureza, explica o que está a acontecer.

 

O fim do Verão e o começo do Outono marca uma viragem na nossa paisagem rural. Aguarda-se o tempo mais ameno e as primeiras chuvas, sem que estas estraguem as colheitas que se aproximam, como a vinha, o milho, o arroz e mais tarde a castanha e a azeitona.

No mundo natural, este é um tempo de grandes movimentações. Há aves nidificantes a partir, as invernantes estão a chegar e há outras que fazem dispersões para fora dos locais de reprodução. É assim possível observar um leque variado de espécies em zonas onde anteriormente não se encontravam.

Todos os anos, a chegada da pequena petinha-dos-prados – vinda de zonas mais a Norte na Europa e Ásia – simboliza o fim da época estival.

 

Petinha-dos-prados

 

As primeiras aves surgem em finais de Setembro e é relativamente fácil encontrá-las em zonas de prados. Também os patos – como os patos-reais, as marrequinhas, patos-trombeteiros, zarros e arrabios – começam a aparecer de forma tímida ainda em pleno Verão nas nossas zonas húmidas e também nos charcos e lagoas dos nossos campos agrícolas.

 

Arrabio
Arrabio

 

Com o aproximar do Outono, os abibes, tordos e pombos-torcazes já fazem parte da nossa paisagem rural, ao que se seguem outras tantas espécies que irão utilizar os campos agrícolas e as nossas florestas nos meses que se avizinham para se abrigarem e procurarem alimento.

 

Abibe
Abibe

 

As culturas mais tardias – como a vinha, o arroz e o milho – foram durante o Verão um excelente local de abrigo e fonte de alimento. E continuarão a sê-lo no Outono. Assim que a época da colheita se aproxima, um leque variado de espécies passa a ser utilizador assíduo dessas áreas.

 

Bando de íbis-pretas
Bando de íbis-pretas

 

Nos arrozais recentemente cortados, grandes bandos de aves aquáticas procuram alimento por entre o restolho. Colhereiros, íbis-pretas e garças procuram algo para comer, como um lagostim-vermelho, e sempre que o encontram são rapidamente perseguidas por gaivotas à espreita de uma refeição mais fácil.

 

Colhereiro
Colhereiro

 

Alguém com um olhar mais atento é capaz de observar pilritos e maçaricos, aves limícolas que costumam andar nestas zonas costeiras mais encharcadas.

A vindima proporciona sempre algum alimento. Após a colheita, a vinha torna-se um local calmo e sossegado onde a fauna pode procurar alimento em relativa tranquilidade. Os bagos e cachos perdidos que ficam no chão são aproveitados por migradores de passagem, como o cartaxo-nortenho e o chasco-cinzento, que precisam de recuperar forças para seguir a sua viagem rumo a Sul.

 

 

As perdizes começam a formar os grandes bandos de Inverno e não é difícil encontrá-las no sossego da vinha.

 

Perdiz
Perdiz

 

As lebres aproveitam o resto do “tapete verde” entre as linhas de plantação, que lhes fornece alimento e o abrigo necessário para passar o Inverno.

 

Lebre
Lebre

 

Os campos secos e com pouca vegetação ganham uma nova tonalidade verde com as primeiras chuvas, muito atractiva para animais como os coelhos, lebres, perdizes e abibes. É comum encontrar nestes campos cotovias, verdelhões, pintassilgos e pintarroxos. Por vezes, estes formam bandos de largos milhares de indivíduos. Um olhar a tento pode trazer-nos a imagem do raro tentilhão-montês.

Com o avançar do Outono começa a preparação para o novo ciclo agrícola. Bandos de aves seguem atrás dos tratores que lavram a terra, aproveitando o trabalho do agricultor para apanhar minhocas e outros artrópodes.

 

Tractor em actividades agrícolas
Tractor em actividades agrícolas

 

As garças-boeiras são o exemplo clássico, mas também podemos encontrar cegonhas-brancas, alvéolas, petinhas e mesmo outras espécies menos comuns como alcaravões.

 

Garça-boieira
Garça-boieira

 

São também imagens típicas desta época do ano os grandes bandos de estorninho-preto e de estorninho-malhado, este último invernante em Portugal. Percorrem campos agrícolas durante o dia e é possível vê-los nos locais de dormida – como fios, postes e árvores – mesmo nas nossas vilas e cidades.

 

Estorninhos
Estorninhos

 

As árvores vão perdendo as suas folhas. Nos pomares e vinhas, os ramos despidos funcionam como “poleiros” para as aves de rapinas, de onde procuram, de noite e de dia, as presas mais “incautas” agora sem a folhagem para se esconder. É por isso comum encontrar peneireiros-cinzentos a pairar por cima destes campos agrícolas.

 

Peneireiro-cinzento
Peneireiro-cinzento

 

Os frutos de várias árvores começam a cair, proporcionando mais uma oportunidade de alimento para inúmeros animais. As castanhas, apesar de encerradas em ouriços, são um fruto procurado por javalis e veados. Já as bolotas das quercíneas – carvalhos, sobreiro e azinheira – começam a amadurecer, sendo apreciadas quer por aves quer por mamíferos.

 

Bolotas no Outono, prontas para cair
Bolotas no Outono, prontas para cair

 

Os grous e os pombos-torcazes são aves emblemáticas nesta matéria, mas uma visita a um montado poderá trazer mais surpresas, como veados e javalis.

E por fim a azeitona. Fruto apreciado por aves, como tordos e bico-grossudos, e por mamíferos como os veados, este “pitéu” de Outono não é esquecido por ninguém.

São apenas alguns dos exemplos da fauna Outonal dos nossos campos agrícolas. Servem para demonstrar que uma visita a estes locais não será tempo perdido.

Agora é a sua vez de nos apresentar mais exemplos!

 

[divider type=”thin”]Série “O que procurar no Outono”

A Wilder celebra o Outono com uma série de trabalhos sobre aquilo que não pode mesmo deixar de ver na natureza. E esta estação traz inúmeras coisas interessantes que podemos ver. Veados, esquilos-vermelhos, florestas douradas, cogumelos, bagas e frutos e libélulas são excelentes desculpas para um passeio no campo. E tudo pode ser mais entusiasmante se soubermos o que procurar e onde.

Aqui ficam os artigos desta série já publicados:

O que procurar no Outono: libélulas

O que procurar no Outono: a brama dos veados