Aumento da temperatura causa “invasão” de borboleta do Sul da Europa no Reino Unido

Neste Verão, a borboleta-azulinha (Lampides boeticus) está a aparecer em números recorde no Reino Unido, onde é uma espécie rara. As alterações climáticas estarão por detrás da migração desta pequena borboleta, avança a organização Butterfly Conservation.

Mais de 50 borboletas-azulinhas e centenas de ovos foram descobertos nas últimas semanas, o que poderá levar, neste Outono, à maior emergência desta borboleta na história do Reino Unido, revelou nesta quarta-feira a Butterfly Conservation.

Os especialistas acreditam que o aumento das temperaturas está por detrás destes números.

“Nunca tínhamos registado tantos adultos migradores, é totalmente sem precedentes”, disse Neil Hulme, voluntário da Butterfly Conservation, em comunicado.

Macho de borboleta-azulina. Foto: Alpsdake/Wiki Commons

“Em apenas alguns dias encontrei mais de 100 ovos só em Sussex e a borboleta foi vista na Cornualha, Somerset, Devon, Dorset, Hampshire, Kent e Suffolk. Até tivemos um avistamento em Glamorgan, na Gales do Sul.”

A borboleta-azulinha é uma espécie abundante no Sul da Europa (incluindo em Portugal), África, Ásia e Austrália. 

Mas no Reino Unido era considerada uma visitante muito rara. Esta espécie foi vista pela primeira vez em Inglaterra em 1859. Depois, no espaço de 80 anos, apenas foram registadas 30 borboletas.

Ocorreram influxos significantes desta espécie em 1945, 1990 e em 2015. Mas nenhum se aproximou da “invasão” de 2013, quando 109 avistamentos foram registados entre Julho e Outubro.

Normalmente, apenas uma mão cheia destes migradores do Mediterrâneo chegam ao Reino Unido todos os Verões. Mas esta é a terceira vez em seis anos que a borboleta chegou em números significativos. 

“Estas borboletas atravessaram o Canal e estão a pôr ovos em jardins, logradouros e em locais onde crescem as plantas das quais as suas lagartas se alimentam”, da família Fabaceae (como a alfafa e o trevo-branco), acrescentou Neil Hume. 

Fêmea de borboleta-azulinha. Foto: Alpsdake/Wiki Commons

“Os adultos vão continuar a pôr ovos e em Setembro, Outubro veremos emergir as primeiras borboletas que nasceram em Inglaterra. Acredito que isto elevará o número total de borboletas vistas este ano bem para cima de 100, quebrando todos os recordes anteriores para esta borboleta no Reino Unido.”

A borboleta-azulinha – cujos machos são azul-violeta e as fêmeas de uma mistura de azul mais pálido e castanho – pode ser pequena mas é um voador muito forte, capaz de atravessar cadeias montanhosas e mares. 

“Esta é uma das espécies de borboletas com maior sucesso no mundo”, disse Neil Hulme. “No tempo quente pode fazer o seu ciclo de vida inteiro em apenas um mês, que é metade do período que demoram muitas espécies. A lagarta cresce dentro das flores, escondida de predadores. Tem o kit completo para dominar o mundo.”

Na opinião de Dan Hoare, da Butterfly Conservation, “a borboleta-azulinha ainda está longe de se tornar uma borboleta residente neste país, porque não consegue sobreviver ao nosso Inverno”. “Contudo, o que estamos a ver este ano confirma que a borboleta está a expandir o seu território em direcção a Norte, em resposta às alterações climáticas. Por isso, podemos esperar ver esta linda borboletinha mais frequentemente.”

Mas não é só este insecto migrador que está a beneficiar do tempo quente de 2019 no Reino Unido. A bela-dama (Vanessa cardui) – que também ocorre em Portugal – está a ter a maior invasão desde 2009, recorda o jornal The Guardian.

“O nosso clima rapidamente em mudança traz benefícios para algumas espécies em expansão, enquanto outras podem ter mais dificuldades em adaptar-se e em acompanhar as alterações. As borboletas e outros insectos respondem rapidamente às alterações ambientais, sendo um indicador dos impactos no mundo natural de um clima mais quente.” 


Agora é a sua vez.

Descubra cinco espécies de borboletas para procurar no Verão.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.