Foto: Joana Bourgard

Mais de 11.000 cientistas de todo o mundo declaram emergência climática

Cientistas de 153 países alertam, num artigo publicado hoje na revista BioScience, que o “sofrimento humano” é inevitável sem alterações radicais para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa.

A declaração é baseada em dados científicos recolhidos ao longo de mais de 40 anos relativos a temas como o consumo de energia, crescimento populacional, desflorestação, massa de gelo polar, produto interno bruto (PIB) ou emissões de dióxido de carbono.

“Os cientistas têm a obrigação moral de avisar a humanidade para qualquer ameaça catastrófica e contá-la tal como ela é”, escrevem os cientistas neste artigo.

São mais de 11.000 os cientistas que assinaram esta declaração, segundo a qual “de forma clara e inequívoca, o planeta Terra está a enfrentar uma emergência climática”.

Os alarmes lançados pela comunidade científica não são de agora. Há 40 anos, cientistas de 50 países reunidos na primeira conferência mundial climática, em Genebra em 1979, avisaram que tendências climáticas preocupantes tornavam necessário agir urgentemente. Desde então, alertas semelhantes têm sido feitos, desde a Cimeira do Rio em 1992, pelo Protocolo de Quioto de 1997 e pelo Acordo de Paris em 2015.

“No entanto, as emissões de gases com efeito de estufa continuam a aumentar rapidamente, com efeitos devastadores para o clima da Terra.”

Estes cientistas apontam seis áreas nas quais a humanidade deve agir imediatamente para abrandar os efeitos de um planeta mais quente.

Na área da energia, os cientistas defendem medidas drásticas para redução do consumo, a substituição de combustíveis fósseis por renováveis, eliminar subsídios a empresas que exploram combustíveis fósseis e impor taxas de carbono elevadas o suficiente para condicionar o uso destas fontes de energia.

Outra área referida são os poluentes como o metano e os hidrofluorcarbonetos, para a qual pedem uma redução eficaz das emissões.

No capítulo da Natureza, os cientistas pedem um travão maciço do abate de árvores, o restauro e a protecção de ecossistemas como florestas, mangais e prados que contribuem para o sequestro do dióxido de carbono da atmosfera.

Quanto à alimentação, a equipa mundial de peritos sugere o consumo de menos produtos derivados de animais e uma dieta mais à base de vegetais, bem como a redução do desperdício alimentar. Os cientistas sublinham que pelo menos um terço dos alimentos produzidos acaba no lixo.

Na área da Economia, os cientistas aconselham converter a dependência dos combustíveis fósseis numa dependência humana na biosfera, pôr um travão na extracção de recursos naturais e exploração dos ecossistemas para “manter uma sustentabilidade da biosfera a longo prazo”.

Por fim, no capítulo da População, a equipa de peritos defende a estabilização da população mundial, que está a aumentar mais de 200.000 pessoas por dia, “usando abordagens que garantam a justiça social e económica”.

Segundo este artigo, “mitigar e adaptar às alterações climáticas significa transformar as formas como governamos, como gerimos e como nos alimentamos”.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.