Cidadãos-cientistas são cruciais para conservação mundial das joaninhas, diz novo estudo

Joaninha. Foto: Olga Ameixa

Um artigo sobre o estado global das joaninhas, publicado na revista Conservation Biology, revela as ameaças que enfrentam e apresenta um roteiro para a sua conservação.

A família de joaninhas (Coccinellidae) inclui mais de 6.000 espécies em todo o mundo, com 101 espécies encontradas em Portugal (83 no Continente, 39 na Madeira e 32 nos Açores). As joaninhas, enquanto agentes de controlo de pragas, são essenciais quer na agricultura quer nos espaços verdes.

No entanto estão em declínio por todo o mundo. Um entrave à sua conservação é a falta de informação sobre aspetos da ecologia de muitas das espécies desta família.

Os autores do artigo, onde participaram duas investigadoras do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) da Universidade de Aveiro (UA), alertam para a importância da ciência-cidadã para incentivar mais pessoas a registar joaninhas em todo o mundo.

Alertam ainda para a necessidade de conservação para proteger os habitats, em particular os locais de hibernação, dos quais as joaninhas dependem para sobreviver às condições adversas no Inverno.

A investigação foi desenvolvida por um grupo internacional de especialistas, incluindo duas investigadoras do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar e Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro, da Universidade dos Açores, da Universidade de Ghent, bem como todos os membros do Grupo de Especialistas em Joaninhas da Comissão de Sobrevivência de Espécies da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN)(IUCN SSC Ladybird Specialist Group).

O estudo identifica lacunas no conhecimento, nomeadamente quanto à forma como as joaninhas estão a responder às alterações ambientais que afetam a biodiversidade global, sugerindo ações concretas para proteger as joaninhas bem como, outros insetos.

A equipa, representada por 22 entidades, estabeleceu um roteiro com ações de curto, médio e longo prazo que são necessárias para a conservação e recuperação das joaninhas. Essas ações incluem o envolvimento de cientistas-cidadãos para a recolha de dados e observações, programas de educação e esforços de conservação.

Incluem ainda e melhoria das paisagens agrícolas criando habitats favoráveis aos insetos, programas de educação para atingir diferentes públicos e a introdução de machine learning para apoiar a monitorização de longo prazo, por exemplo, através da utilização de câmaras acopladas a software de deep learning para a monitorização de insetos. É fundamental que os diversos sistemas nacionais de monitorização estejam reunidos.

António Onofre Soares, autor principal e investigador da Universidade dos Açores, salientou, em comunicado, que “este artigo reúne uma comunidade global para considerar o estado das joaninhas e como elas se encaixam no panorama geral dos insetos em todo o mundo” e espera “que o resultado seja que as joaninhas se tornem uma parte maior da agenda de conservação, destacando as áreas onde há necessidade de dados e o que pode ser feito em termos de ações tangíveis.”

Danny Haelewaters, também autor principal e investigador da Universidade de Ghent, referiu que “as joaninhas desempenham muitas funções dentro dos nossos ecossistemas, mas atualmente sofrem com a falta de investigação colaborativa global. Juntamente com os ecólogos, a comunidade de conservação de joaninhas ainda aguarda as primeiras avaliações da Lista Vermelha para ajudar a informar as estratégias de conservação”.

“Espero que possamos entusiasmar mais investigadores a envolverem-se no estudo das joaninhas e na avaliação das ameaças ecológicas que afetam a sua diversidade e abundância.”

As investigadoras Olga Ameixa e Ana Lillebø destacam o papel fundamental das joaninhas para inúmeros serviços dos ecossistemas para além do serviço mais conhecido – o controlo biológico. As investigadoras mencionam que “as joaninhas, para além do seu papel carismático que pode fazer delas embaixadoras de iniciativas de conservação, desempenham diversos serviços dos ecossistemas em várias categorias.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.