Macho de Andrena lusitania. Foto: DR

Andrena lusitania: Uma nova abelha para a Ciência foi descoberta em Portugal

O exemplar de uma espécie de abelha solitária até agora desconhecida foi recolhido num pomar do Fundão no âmbito de um projecto de investigação sobre polinizadores, ligado à Universidade de Coimbra.

Foi quando estavam em trabalho de campo num pomar de cerejas e pêssegos da Quinta da Porta, no Fundão, que Catarina Siopa e outros colegas do centro de investigação Flower Lab recolheram uma nova espécie de abelha para a ciência, ainda sem saberem o que tinha nas mãos. Ajudaram assim a aumentar o número de espécies de abelhas conhecidas em Portugal, que actualmente já conta com cerca de 725 espécies.

Catarina Siopa está ligada à Universidade de Coimbra e ao projecto Cultivar, no âmbito do qual está a fazer um doutoramento. O objectivo do trabalho de campo, realizado em Março de 2021, era “avaliar a importância dos vários tipos de habitats e usos do solo com recursos alimentares e de nidificação distintos, para as interacções entre planta e polinizador”, explicou à Wilder.

Munidos de uma rede entomológica enquanto seguiam um transecto (percurso pré-estabelecido), Catarina e outros membros da equipa foram colhendo vários insectos que guardavam em frascos para mais tarde serem identificados, constatando que ali havia “uma biodiversidade enorme de abelhas” apesar de estarem numa produção agrícola.

A nova abelha foi encontrada, segundo a investigadora, “numa zona semi-natural localizada no centro do pomar, composta por uma mistura de vegetação herbácea, arbustiva e arbórea, num afloramento rochoso onde existem as plantas nas quais se suspeita que esta abelha seja especialista”. Em causa estão plantas da família das leguminosas (Fabaceae) – a mesma família do grão e dos feijões – como por exemplo a giesta-branca (Cytisus multiflorus), “em flor na altura de captura”.

Planta de giesta-branca (Cytisus multiflorus). Foto: Miguel Vieira/Wiki Commons

Depois da recolha dos insectos em campo, a equipa tratou de os separar em grupos diferentes de acordo com as características físicas, tentando depois identificar cada uma das espécies através de uma chave dicotómica. Mas depararam com dificuldades.

“O grupo das abelhas é muito diverso em Portugal e a sua identificação é um verdadeiro desafio. Neste caso foi recolhido apenas um espécime, que foi identificado como pertencendo ao género Andrena“, explicou por sua vez Hugo Gaspar, também ligado ao projecto Cultivar. Da mesma equipa fazem também parte Sara Lopes, Sílvia Castro e João Loureiro.

Um baptismo “carinhoso”

Os investigadores estavam com “grandes dificuldades” em perceber qual era esta espécie, uma vez que o género Andrena é “particularmente diversificado e desafiante”, com actualmente 131 espécies registadas em Portugal. Em finais de 2021, Hugo Gaspar enviou então essa abelha – em conjunto com alguns outros insectos – para Thomas Wood, da Universidade de Mons, na Bélgica. O objectivo era este entomólogo, “um dos mais conceituados especialistas europeus” neste género científico de abelhas, identificar e validar de que espécies se tratava.

Macho de Andrena lusitania, capturado no Fundão em Março de 2021. Foto: DR

Foi no mês passado, em Junho, que Thomas Wood publicou a descrição científica da nova abelha, em conjunto com o cientista espanhol Francisco Javier Ortiz Sanchez, da Universidade de Almeria, no Boletim da Sociedade Entomológica Aragonesa. A nova espécie, “‘carinhosamente’ baptizada de Andrena lusitania“, foi descrita a partir do macho encontrado no Fundão e também com base numa fêmea entretanto capturada na região espanhola de Huelva, Andaluzia.

No mesmo artigo científico, Thomas Wood e Francisco Sanchez publicaram ainda a descrição de outras duas abelhas novas para a Ciência, também do género Andrena, ambas encontradas em Espanha.


Saiba mais.

Recorde aqui outra espécie de abelha descoberta para a Ciência em Portugal, em 2019, e ainda duas outras espécies registadas pela primeira vez para o território nacional, há poucos meses.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.