Abelha. Foto: Suzanne D. Williams/Pixabay

Há centenas de espécies de abelhas em Portugal. Mas o que é afinal uma abelha?

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Há hoje registo de cerca de 750 espécies diferentes de abelhas em Portugal, com tamanhos diferentes e cores variadas. A Wilder foi à procura de saber mais sobre estes insectos.

Nem todas as abelhas vivem em colmeias ou são acastanhadas como as abelhas-do-mel (Apis mellifera), a mais conhecida no mundo inteiro. Conheça cinco factos sobre estes insectos, mais diferentes entre si do que parece:

1. Têm dois pares de asas e (muitas vezes) um ferrão

“Tanto as abelhas como as vespas têm dois pares de asas”, começa por explicar Albano Soares, ligado ao Tagis – Centro de Conservação das Borboletas de Portugal. Essa característica ajuda a distingui-las das espécies de moscas (dípteros) que possuem apenas um par, mas por vezes imitam as primeiras para parecerem mais ameaçadoras.

Mosca-grande-das-flores. Foto: Richard Gertis/WikiCommons

Por outro lado, todas as abelhas pertencem à ordem Hymenoptera e ao grupo dos Aculeata, que “junta os chamados insectos com ferrão” e inclui umas vespas conhecidas como “verdadeiras vespas” e também as formigas. Os cientistas sabem hoje que todas estas espécies descendem de um único antecessor – incluindo as formigas, cujas obreiras perderam as asas há milhões de anos. Dentro do grupo há também várias espécies – incluindo de abelhas – que ao longo de milhões de anos de evolução terão ficado sem ferrões.

Quanto a ferrões, aliás, não é verdade que todas as abelhas os perdem quando reagem a uma ameaça. Na verdade, “só com as abelhas-do-mel é que isso acontece”, explica o entomólogo português. 

abelha europeia em cima de uma flor
Abelha-do-mel. Foto: Arturo Mann / Wiki Commons

2. Grande parte têm pêlos (ramificados)

Há abelhas mais fáceis de identificar, como a abelha-do-mel ou os abelhões. Mas noutros casos o desafio é maior, em especial com espécies mais pequenas. Em Portugal, por exemplo, há abelhas com apenas três milímetros de comprimento – como a Nomioides faciles, uma das mais de 100 espécies identificadas por Albano Soares na Mata de Alvalade, em Lisboa.

Nomioides faciles. Foto: Albano Soares

Uma solução para sabermos que se trata de uma abelha? Ter um microscópio, sugere o entomólogo. “Podemos diferenciá-las das vespas através da observação dos pêlos. Em geral, estas têm pêlos únicos e simples, enquanto as abelhas têm pêlos ramificados. As nervuras das asas também são diferentes.”

Mas também há “truques” para usar à vista desarmada. Nas abelhas, por exemplo, “grande parte tem pêlos especializados adaptados ao transporte de pólen (conhecidos pelo termo “escopa”), nas patas, que por vezes são largas, ou no ventre”.

Há todavia excepções. Uma família de abelhas (Megachilidae) transporta pólen no ventre e tem pêlos para isso nessa área, explica Albano Soares. Mas outras abelhas que pertencem à família Collectidae, agrupadas no género Hylaeus, “não apresentam pêlos desenvolvidos de todo e transportam o néctar no bucho, que é um órgão interno desenvolvido para esse fim.”

Já as vespas têm “o tórax com poucos pêlos, o primeiro segmento do tórax forma um colar à volta do pescoço que atinge a base das asas posteriores [e] todas as patas robustas, finas e sem pêlos”, descreve por sua vez o livro Insectos em Ordem, publicado pelo Tagis.

3. São “vespas que se tornaram vegetarianas”  

Mais importante é a forma de vida, “que é única nas abelhas”, nota Albano Soares. “Costuma-se dizer que são vespas que se tornaram vegetarianas”.

“As ‘verdadeiras vespas’ adultas alimentam-se com pólen e néctar, tal como as abelhas, mas precisam de alimentar as crias com proteína animal”, adianta o especialista. Por seu turno, “as abelhas evoluíram para dar à sua prole uma mistura de pólen e néctar com saliva, que transformam num mel primitivo, e assim as crias já têm a proteína que lhes faz falta para crescer.” 

Devido à sua alimentação a partir das flores, as abelhas são consideradas polinizadores muito importantes. E descobertas científicas indicam que já realizam este importante papel há muitos milhões de anos.

4. Há muitas abelhas solitárias…

A maior parte das abelhas são solitárias, ou seja, depois de acasalarem constroem sozinhas o ninho e cuidam das crias. Como as abelhas-carpinteiras (Xylocopa violace), que são as maiores abelhas portuguesas e “escavam madeira para fazer túneis onde colocam os ovos em células alimentadas com pólen e néctar”.

Abelha-carpinteira (Xylocopa violacea). Foto: Florinda Patrocinio

Ou as abelhas-da-lama, também conhecidas por abelhas-corta-folhas, que pertencem ao género Megachile e em Portugal representam mais de uma dezena de abelhas solitárias. “Algumas espécies deste género cortam folhas que usam para fazer as células reprodutoras.” Fazem ninhos por exemplo em muros e madeira morta, mas também em buracos no solo, como esta identificada na Wilder em 2019.

Abelha-da-lama. Foto: Helena Valentim

Comportamento diferente têm as abelhas-cuco, também solitárias, que “evoluíram para parasitar outras espécies de abelhas – da mesma forma que os cucos”. Algumas dessas, como a Melecta albifrons, podem encontrar-se na Mata de Alvalade.

Melecta albifrons. Foto: Albano Soares

5. … e algumas abelhas sociais

Já as abelhas sociais vivem em colónias. Algumas têm um sistema de castas – com abelha-rainha, operárias e zangões – como as abelhas do mel e os abelhões (abelhas que pertencem ao género Bombus). Por exemplo, os abelhões-cardados-comuns (Bombus pascuorum), que por vezes aproveitam buracos de roedores abandonados para fazer o ninho.

Abelhão-cardado-comum (Bombus pascuorum). Foto: André Karwath/Wiki Commons

Mas há também abelhas sociais “sem castas muito rígidas”. E outras ainda que “vivem agregadas, mas cada uma faz a sua célula reprodutiva”. 


Agora é a sua vez.

“Precisamos de oportunidades para ver como os insectos são um espectáculo.” Recorde esta entrevista realizada pela Wilder a Dave Goulson, investigador britânico e escritor famoso de livros sobre abelhões e outros insectos.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.