Foto: Chriseaves / Wiki Commons

Após 17 anos de intervalo, milhões de cigarras estão prestes a emergir do solo nos EUA

Depois de terem sido vistos pela última vez em 2004, estes insectos vão finalmente subir para a superfície em 15 estados do país, da Georgia a Nova Iorque.

Conhecidas como as cigarras da Geração X, é agora em meados de Maio que muitos milhões destes insectos vão emergir de debaixo da terra, onde se esconderam em 2004 e viveram como ninfas ao longo dos últimos 17 anos.

Nos Estados Unidos existem sete espécies de cigarras periódicas, todas do género Magicicada, que vivem debaixo da terra, sob a forma de ninfas, durante longos anos. Quatro destas espécies permanecem escondidas desta forma durante 13 anos, ao fim dos quais sobem finalmente para a superfície; outras três – Magicicada septendecimMagicicada cassini Magicicada septendecula – emergem apenas de 17 em 17 anos.

Cigarras periódicas de 17 anos. (A) Fêmea de Magicicada septendecim (Geração X), (B) Fêmea de Magicicada cassini (Geração X), (C) Macho de Magicicada septendecula (Geração IX). Fotos: C. Simon / Wiki Commons

Existem 15 gerações de cigarras periódicas, no total, agrupadas de acordo com o ano em que emergem. Mas a Geração X – que se refere às que emergem em 2021 e junta as três espécies com ciclos de 17 anos – é uma geração “icónica”. “Tem a maior área de distribuição e os números mais impressionantes “, explica o site Science Focus, que acrescenta que existem registos desta geração desde o início do século XVIII.

Estas cigarras costumam emergir, ainda como ninfas, quando as temperaturas do solo estão quase a chegar aos 18 ºC, em meados deste mês. Tal como muitos outros insectos do grupo das Cicadas – incluindo aqueles que se conhecem em Portugal – mal chegam à superfície costumam trepar por uma árvore, arbusto ou planta acima, para ficarem numa posição mais elevada. De seguida largam a exúvia, como é chamado o seu exoesqueleto, e assumem a forma do estado adulto.

Passados alguns dias já estão prontas para acasalar. É nessa altura que os machos de cigarras começam a “cantar” para atrair as fêmeas, com a ajuda de uns órgãos especiais chamados tímbalos. [Oiça aqui o canto ritmado da Magicicada septendecim, também conhecida por cigarra-faraó, a maior das três espécies de cigarras que emergem de 17 em 17 anos nos Estados Unidos.]

Quanto às fêmeas, não cantam, mas são elas que escolhem o macho. Tal como este, podem acasalar por diversas vezes ao longo da época de reprodução. Quando estão prontas para pôr os ovos, que no total podem chegar a várias centenas, usam o ovopositor para fazer uma pequena ranhura na casca da árvore ou no ramo da planta onde estão. Passadas algumas semanas, terminada a época de reprodução e cumprida a sua missão, os adultos morrem.

Quanto às pequenas ninfas, quando nascerem, vão deixar-se cair na terra e escavar um túnel para debaixo da superfície, onde se irão alimentar da seiva das plantas sugando-a através das raízes, durante os próximos 17 anos. A próxima leva da Geração X é esperada assim para 2038.

Como é em Portugal?

Em Portugal não são conhecidas espécies de cigarras periódicas como estas, mas o ciclo de vida acaba por ser semelhante. Os cientistas acreditam que as cigarras que ocorrem em território nacional passam cerca de três anos a viverem enterradas no solo, como ninfas.

Cicada orni. Foto: Marcello Consolo/Wiki Commons

São conhecidas 13 espécies de cigarras em território português, entre as quais Cicada orni e Cicada barbara lusitanica, e todas elas podem ser distinguidas através do canto.

O risco de extinção de todas estas espécies está actualmente a ser avaliado no âmbito dos trabalhos da Lista Vermelha de Invertebrados, por um grupo de especialistas ligados ao projecto Cigarras de Portugal.


Saiba mais.

Fique a conhecer este jovem naturalista que colecciona exúvias de cigarras e saiba como é possível identificar algumas espécies sem ser apenas pelo seu canto.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.