Descoberta “super colónia” de pinguins na Antárctica

O pinguim-de-adélia, uma espécie que tem vindo a diminuir nos últimos 40 anos, pode agora ter um futuro mais risonho. Cientistas descobriram uma “super colónia” numa região remota da Antárctica.

 

Nos últimos 40 anos, o número total de pinguins-de-adélia (Pygoscelis adeliae), um dos mais comuns da Península da Antárctica, tem vindo a diminuir consistentemente. Ou pelo menos era o que os biólogos pensavam.

Um novo estudo, publicado hoje na revista Scientific Reports, anunciou a descoberta de uma colónia até agora desconhecida com mais de 1.500.000 pinguins-de-adélia, nas Ilhas Danger, uma série de ilhas rochosas ao largo da ponta Norte da Península da Antárctica.

Os investigadores encontraram 751.527 casais de pinguins, mais do que todo o resto da Península da Antárctica. Estas ilhas albergam a terceira e a quarta maiores colónias de pinguins do mundo.

 

Foto: Michael Polito, © Louisiana State University

 

“Até há pouco tempo não se sabia que as Ilhas Danger eram um habitat importante para os pinguins”, disse Heather Lynch, investigadora da Universidade Stony Brook e uma das autoras do estudo. Isto porque, explicou, as ilhas são muito remotas e estão rodeadas por um mar perigoso. Mesmo no Verão austral, o oceano em seu redor está cheio de gelo espesso, o que dificulta muito o acesso.

Em 2014, Lynch e Mathew Schwaller, da NASA (Agência Espacial Norte-Americana), descobriram vestígios de pinguins, mais concretamente guano, nas imagens de satélite das ilhas. Esses vestígios  indicavam um surpreendente número de pinguins.

Para descobrir mais, Lynch juntou-se a Stephanie Jenouvrier, uma ecologista de aves marinhas do Woods Hole Oceanographic Institution (WHOI), a Mike Polito (Louisiana State University) e a Tom Hart (Universidade de Oxford) numa expedição às Ilhas para contar as aves no terreno.

Quando a expedição chegou às Ilhas Danger, em Dezembro de 2015, descobriu centenas de milhares de aves a nidificar no solo rochoso. Para as contar, os investigadores fizeram censos tradicionais e usaram um drone que tirou fotografias às ilhas e aos seus pinguins.

 

Foto: Rachael Herman, Louisiana State University, © Stony Brook University

 

 

O número de pinguins pode ajudar a conhecer melhor as dinâmicas populacionais desta espécie e também os efeitos que as alterações de temperatura e do gelo marinho estão a ter na ecologia da região.

“As Ilhas Danger albergam a maior população de pinguins-de-adélia da Península da Antárctica”, salientou Mike Polito. Além disso, “parecem não ter sofrido os declínios populacionais que afectaram a zona ocidental da Península Antárctica, associados às recentes alterações climáticas.”

Agora, os cientistas querem compreender o que têm as populações das Ilhas Danger de diferente. Será a disponibilidade de alimento? Ou a extensão e espessura do gelo marinho?

 

Foto: Liam Quinn/Wiki Commons

 

Além disso, este estudo científico poderá apoiar o projecto para a criação de novas Áreas Marinhas Protegidas perto da Península da Antárctica, lembrou Mercedes Santos, do Instituto Antártico Argentino, uma das entidades autoras desta proposta. “Uma vez que as propostas para as Áreas Marinhas Protegidas se baseiam na melhor ciência disponível, este estudo ajuda a salientar a importância desta área para a conservação”, acrescentou.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.