Ganso-do-Egipto. Foto: Andreas Trepte/WikiCommons

Espécies exóticas deverão aumentar mundialmente 36% em 2050

O número de espécies exóticas (não nativas) – especialmente insectos, artrópodes e aves – deverá aumentar mundialmente em 36% em 2050, em relação a 2005, segundo um novo estudo.

As espécies exóticas são um dos maiores problemas do mundo natural e agravam a crise da biodiversidade em curso.

Cerca de 2.500 novas espécies exóticas deverão chegar à Europa nesse período de 45 anos (2005 a 2050), revela um novo artigo científico publicado a 1 de Outubro na revista Global Change Biology. Será um aumento de 64% para o Velho Continente.

A equipa internacional, liderada pelo Senckenberg Biodiversity and Climate Research Centre, na Alemanha, acredita que ainda seja possível reduzir esse número com regulações mais fortes.

As espécies exóticas são aquelas que os humanos transportam por todo o mundo, para lugares onde estas não ocorrem naturalmente. 

Mais de 35.000 destas espécies já foram registadas desde 2005, ano em que se fez o mais completo inventário mundial. 

Algumas destas espécies exóticas podem tornar-se invasoras, com impactos devastadores para ecossistemas e economias.

“O nosso estudo prevê que as espécies exóticas vão continuar a chegar aos ecossistemas em níveis muito elevados nas próximas décadas, o que é preocupante, uma vez que isso contribui para as extinções”, disse, em comunicado, Tim Blackburn, co-autor do estudo e investigador do UCL Centre for Biodiversity & Environment Research e do Instituto de Zoologia (ZSL).

“Mas não somos espectadores indefesos: com um esforço global concertado para combater isto, é possível abrandar ou reverter esta tendência.”

Para o estudo, a equipa desenvolveu um modelo matemático para calcular, pela primeira vez, quantas mais espécies exóticas serão esperadas em 2050. Baseou-se, por exemplo, nas dinâmicas das invasões do passado.

Nem todas as regiões do planeta serão afectadas de igual maneira. A Europa deverá registar o maior aumento, com mais 64% até 2050. Outras zonas vermelhas serão a América do Sul, América do Norte e algumas latitudes temperadas da Ásia. A região do planeta que deverá ser menos afectada é a Austrália.

A Europa é também a região que deverá assistir ao maior aumento em número absoluto de espécies exóticas, com cerca de 2.500 novas espécies previstas.

“Estas espécies deverão incluir insectos, moluscos e crustáceos. Contrariamente, haverá muito poucas espécies exóticas de mamíferos, como o guaxinim”, comentou Hanno Seebens, do Senckenberg Biodiversity and Climate Research Centre, na Alemanha, e um dos principais autores do estudo.

“São esperados aumentos especialmente elevados para insectos e outros artrópodes, como os aracnídeos e os crustáceos”, especificou Franz Essl, da Universidade de Viena. “Prevemos que o número de exóticas destes grupos aumentem em todas as regiões do mundo até meados do século e em quase 120% em latitudes temperadas da Ásia.”

O estudo também prevê que a taxa de chegada das espécies exóticas continue a aumentar, pelo menos para alguns grupos de animais. Mundialmente, em 2050, espécies exóticas de artrópodes e de aves vão chegar especialmente mais rápido do que antes, comparado com o período 1960 a 2005. Na Europa, a taxa de novas chegadas deverá aumentar para todas as plantas e todos os grupos de animais, à excepção dos mamíferos.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.