Esponja-marinha Phakellia ventilabrum ao largo da Noruega. Foto: Bernard Picton

Esponjas marinhas revelam variedade de peixes que vivem no Atlântico norte e no Ártico

Uma equipa de investigadores estudou o ADN de 64 esponjas marinhas de três espécies e encontrou fragmentos de ADN de outras espécies com as quais convivem, desde peixes a baleias.

Descobrir a diversidade de espécies que habitam no planeta é uma tarefa complexa quando falamos de terra firme. Mas nas profundidades marinhas, é ainda mais difícil.

A investigação desenvolvida pelo Museu Nacional de Ciências Naturais de Madrid (MNCN-CSIC), pelo Museu de História Natural de Londres (NHM) e pela Universidade John Moores, de Liverpool, permitiu descobrir a variedade de espécies de peixes presentes no Atlântico Norte e no Árctico, através da análise do ADN obtido a partir dos tecidos das esponjas marinhas.

As esponjas marinhas passam a maior parte da sua vida fixadas nas rochas, filtrando activamente enormes quantidades de água que passa através dos seus tecidos porosos. Neste processo, além de obterem nutrientes e eliminarem resíduos, os tecidos das esponjas acumulam fragmentos de ADN que libertam as espécies de peixes que partilham as águas onde se encontram.

“O que fizemos foi analisar o ADN armazenado em 64 esponjas que recolhemos no Atlântico Norte e no Ártico e que posteriormente depositámos nas coleções do MNCN e do NHM”, explica, em comunicado, a investigadora do MNCN, Ana Riesgo. 

A equipa, que publicou a 30 de Agosto o estudo na revista Proceedings of the Royal Society B, trabalhou com três espécies de esponjas diferentes (Geodia barrettiGeodia hentscheli Phakellia ventilabrum) que lhes permitiram reconstruir as comunidades de peixes que viveram em redor dos espécimes.

“A presença de espécies de peixes de águas frias como a faneca de Noruega (Trisopterus esmarkii) ou o Bathylagus euryops, que actuam como indicadores, permite diferenciar as comunidades em função da sua profundidade e latitude, nas regiões biogeográficas do Atlântico Norte e no Ártico, numa área de amostragem que vai desde as costas do Canadá às ilhas Svalbard”, acrescenta a investigadora da Universidad John Moores, Erika Neave.

Entre o material genético acumulado nos tecidos dos 64 espécimes também foi sequenciado ADN de baleias, tubarões e raias. 

“Dizem que sabemos mais sobre a superfície da Lua do que sobre os fundos oceânicos. Não sei até que ponto essa afirmação é correcta. Aquilo que sei é que esta forma de nos aproximarmos da biodiversidade marinha pode ajudar-nos muito a desvendar os mistérios dos fundos marinhos sem ter que investir demasiados recursos”, comentou ainda Riesgo. 

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.