Há 66 espécies exóticas invasoras às portas da Europa

Uma equipa de cientistas identificou as 66 espécies exóticas invasoras de plantas e animais que deverão chegar à Europa na próxima década e que são uma grande ameaça à biodiversidade europeia.

 

Entre estas espécies exóticas estão peixes, mexilhões, lagostins e algas, a maioria originárias da Ásia, América do Norte e América do Sul.

Os cientistas olharam para plantas, invertebrados terrestres, espécies marinhas, invertebrados de água doce e vertebrados. Identificaram as espécies com maior probabilidade de chegarem à Europa na próxima década, de se estabelecerem, disseminarem e terem um impacto na biodiversidade.

De uma lista inicial com 329 espécies exóticas, consideradas uma ameaça à biodiversidade, publicada recentemente pela União Europeia, os cientistas identificaram oito espécies de muito elevado risco, 40 de elevado risco e 18 de médio risco.

As oito espécies que colocam o risco mais elevado são o peixe Channa argus (originário da China e predador de outros peixes), o mexilhão Limnoperna fortunei (originário da China e Sudeste asiático e que já invadiu os Estados Unidos e a América do Sul), o lagostim Orconectes rusticus (originário dos Estados Unidos e uma espécie grande e agressiva), o peixe-gato Plotosus lineatus (originário do Oceano Índico mas já registado no Mediterrâneo desde 2002), a alga Codium parvulum (originária do Oceano Indo-Pacífico já registada no Mar Vermelho e nas costas israelitas e libanesas do Mediterrâneo, esta espécie altera a estrutura e o funcionamento dos ecossistemas), o caracol Crepidula onyx (originário da costa da Califórnia e da costa do Pacífico no México), o mexilhão Mytilopsis sallei (originário da costa do Pacífico no Panamá, pode dominar uma área completamente já que pode sobreviver em condições ambientais extremas) e o esquilo-negro Sciurus niger (originário da América do Norte, compete por recursos com outras espécies de esquilos).

 

Channa argus. Foto: George Berninger Jr./Wiki Commons

 

De acordo com os investigadores, as espécies aquáticas deverão chegar através do tráfego marítimo e os invertebrados terrestres juntamente com determinados produtos comerciais, especialmente plantas.

As regiões biogeográficas mais afectadas, em todos os grupos taxonómicos, serão a Mediterrânica, Continental, Macaronésia e Atlântica. O Báltico, o Mar Negro e as regiões Boreais serão as que estarão em menor risco. A região Alpina parece não estar em risco por qualquer espécie exótica.

Este trabalho, coordenado por Helen Roy do Centro britânico para a Ecologia e Hidrologia, envolveu 43 peritos de toda a Europa, tem financiamento da Comissão Europeia e foi publicado na revista Global Change Biology.

“Evitar a chegada de espécies exóticas invasoras é a forma mais eficaz de gerir invasões”, disse, em comunicado, Helen Roy. “Prever que espécies são mais prováveis de chegar e sobreviver em novas regiões envolve considerar muitos factores ecológicos e sócio-económicos, incluindo o clima mas também os padrões de comércio”, acrescentou.

Actualmente há mais de 14.000 espécies exóticas registadas na Europa, um número que está a aumentar rapidamente. Nem todas são invasoras.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.