Investigadores criam método para incluir cidadãos na conservação dos insectos

Foto: Joana Bourgard

O declínio dos insectos é uma crise iminente que espelha a perda mundial da biodiversidade. Mas faltam acções efectivas para a conservação destes animais. Um novo artigo científico propõe formas para incluir os cidadãos neste desafio.

Os conservacionistas identificaram uma necessidade urgente de sensibilizar um público mais vasto para agir e mitigar o declínio dos insectos. 

No entanto, salientam no artigo publicado na revista Biological Conservation, “a educação tradicional que se foca em transmitir conhecimentos e sensibilizar é muitas vezes pouco eficaz e quase nunca leva a mudanças de comportamentos na área da conservação”.

“Por isso, precisamos de uma transformação na educação para ajudar de forma eficaz as pessoas a tomar acções”. 

Neste artigo, a equipa onde se inclui o investigador Dave Goulson, da Universidade britânica de Sussex, desenvolveu um método chamado “Competências para a Acção para a Conservação dos Insectos (Action Competente for Insect Conservation, ACIC)”. Esta é uma ferramenta educacional focada na melhoria das competências dos cidadãos para tomar acções de conservação da biodiversidade dos insectos.

Este método vai mais além do conhecimento teórico; pretende incentivar o conhecimento orientado para a acção (que é intencional e pretende resolver um problema), a confiança nas capacidades de cada um para o fazer e a vontade de agir. 

Combina acções directas e indirectas. Um exemplo de uma acção directa é criar bons habitats para insectos no nosso jardim. Acções directas de cidadãos em espaços verdes podem ajudar a criar habitats “stepping-stones” em zonas urbanizadas, mitigando assim o impacto da urbanização. Além dos espaços verdes públicos, os jardins privados podem trazer benefícios para a diversidade de insectos e contribuir para a conservação. Atrair insectos através de acções directas facilita experiências positivas com estes animais, contrariando atitudes comuns negativas em relação aos insectos.

Também são necessárias acções indirectas que incentivem agricultores, políticos, empresas e ONG a fazer mais pelos insectos. Um exemplo de uma acção indirecta é informar outras pessoas sobre o problema do declínio dos insectos para que possam agir.

O método é aplicável a vários contextos tanto em educação formal (escolas e universidades) como informal (outreach) e quer colmatar as lacunas entre o conhecimento que existe e a implementação de acções.

“Acreditamos que o método ACIC pode ajudar a identificar e desenvolver abordagens eficazes de intervenção, que têm o potencial de apoiar mudanças em prol da biodiversidade dos insectos”, escrevem os autores no artigo.

Este artigo foi feito a pensar nos cientistas de Conservação e outros biólogos interessados em comunicar sobre o declínio dos insectos e a sua conservação, educadores e investigadores na área das ciências sociais e da educação.

Os insectos representam 70% de todas as espécies conhecidas e são cruciais para o funcionamento da maioria dos ecossistemas terrestres e de água doce. O seu declínio terá consequências para muitos animais que deles se alimentam, como as aves e os morcegos, e para as plantas que são por eles polinizadas.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.