Madeira tem hoje 30 lobos-marinhos, espécie em perigo de extinção

O arquipélago da Madeira faz conservação de lobo-marinho há 30 anos. Em 1988 apenas restavam seis animais e hoje existem 30, salientou a secretária de Estado regional do Ambiente, no âmbito da celebração dos 30 anos da Reserva Natural das Ilhas Desertas.

 

O lobo-marinho (Monachus monachus) – também conhecido como foca-monge do Mediterrâneo – é um dos animais na lista de espécies ameaçadas de extinção em Portugal. Com apenas cerca de 600 lobos-marinhos no planeta – cuja maior população fica na costa noroeste de África, na Mauritânia -, é também uma das espécies mais ameaçadas a nível mundial.

O arquipélago da Madeira é um dos locais onde se faz conservação desta espécie, mais concretamente nas Desertas, três pequenas ilhas ao largo do Funchal. Aqui vivem entre 25 a 30 lobos-marinhos.

“Há 30 anos, em 1988, existiam apenas seis lobos-marinhos nas Ilhas Desertas e sentiam-se ameaçados, pelo que não saíam daqui e estavam resguardados nas grutas”, disse ontem a secretária regional do Ambiente e Recursos Naturais, Susana Prada, durante uma visita à Reserva Natural das Ilhas Desertas.

A secretária regional visitou as ilhas Desertas para assinalar os 30 anos da criação da reserva natural e, simultaneamente, averiguar o andamento do atual programa de conservação da espécie, o projecto Life Madeira lobo-marinho, que decorre entre 2014 e 2019, segundo um comunicado da Secretaria Regional.

Este projecto passa por elaborar um plano de acção para a conservação do lobo-marinho na Madeira, pela colocação de câmaras de foto-armadilhagem no interior de grutas e seguimento de animais via satélite, pela limpeza de lixo marinho nas praias e grutas usadas pelos animais e pela promoção da rede de informação e emergência da espécie.

O aumento do número de lobos-marinhos das Desertas deve-se muito aos projectos de conservação apresentados pela Madeira a entidades internacionais nos últimos 30 anos. “Sempre que fazemos uma candidatura para a conservação do lobo-marinho, é aprovada”, sublinhou Susana Prada.

O projecto que está a decorrer acompanha de perto os animais desta colónia e já conseguiu saber mais sobre a espécie. “Este é o primeiro projecto em 30 anos em que a monitorização passou a ser feita por câmaras de fotografar e equipamentos de GPS”, explicou Susana Prada. Foram instaladas 10 câmaras em seis grutas nas Desertas e outras na Madeira, bem como braçadeiras em três lobos-marinhos fêmeas.

Isso demonstrou que a espécie é capaz de mergulhar até 400 metros de profundidade e que percorre toda a área à volta das Desertas, da Madeira e do Porto Santo, pelo que é cada vez mais frequente o seu avistamento em áreas balneares.

“Actualmente, todos os pescadores e toda a população sabe que não deve magoar nem matar o lobo-marinho, de modo que ele entra nos portos e vai ao encontro de pessoas que estão a nadar por sentir que não é ameaçado”, acrescentou.

Originalmente, o lobo-marinho ocupava toda a bacia do Mediterrâneo, Macaronésia, noroeste africano e Península Ibérica. Era uma espécie muito numerosa e comum, mas a caça e a deterioração do habitat causaram a diminuição acentuada da população.

No arquipélago da Madeira, a espécie quase desapareceu devido à perseguição pela sua gordura e pele, até que o Governo Regional deu início a um programa de recuperação que conduziu à criação da Reserva Natural das Ilhas Desertas e à substituição das artes de pesca não selectivas.

As Ilhas Desertas integram a Rede Natura 2000, como Zona Especial de Conservação (ZEC) e Zona de Proteção Especial (ZPE), sendo igualmente uma “Important Bird Area” (IBA). Em 2014, receberam o Diploma Europeu do Conselho da Europa para as áreas Protegidas.

 

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez.

Sete coisas a fazer quando observar um lobo-marinho:

Se vir um lobo-marinho, não se esqueça de que é um animal selvagem. Não é um animal agressivo por natureza mas poderá sê-lo ao sentir-se ameaçado. É curioso e poderá procurar interagir com o que o rodeia.

No caso de se estar no mar, deve-se manter a distância e evitar perturbar os animais, ou se possível sair calmamente para terra.

Deve-se evitar entrar em grutas que se sabe serem utilizadas por lobos-marinhos.

Procurar alimentar os lobos-marinhos não é aconselhado.

No caso de se estar a fazer caça submarina, deve-se libertar do peixe e procurar outro local para a caça.

O contato com cães, potenciais transmissores de doenças, deverá ser evitado ao máximo.

Contate o IFCN para que se tomem as providências adequadas em caso de ser necessário intervir.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.