Foto: Joana Bourgard

Mais de 190 países comprometem-se a aumentar protecção da biodiversidade mundial

Os ministros de mais de 190 países, reunidos em Cancún (México) na 13ª Conferência das Partes (COP) da Convenção para a Diversidade Biológica, comprometeram-se, no sábado, a aumentar os esforços para proteger a biodiversidade do planeta.

 

A Declaração de Cancún foi assinada no segmento de elevado nível (2 e 3 de Dezembro), que deu início à COP13. Agora, até 17 de Dezembro, os delegados dos 196 países que fazem parte da Convenção vão tentar encontrar as melhores formas para concretizar o compromisso feito pelos ministros no sábado.

“A Declaração de Cancún e os fortes compromissos feitos no segmento de elevado nível (da COP), dão um poderoso sinal de que os países estão prontos para cumprir as Metas Aichi”, disse Braulio Ferreira de Souza Dias, secretário-executivo da Convenção das Nações Unidas para a Diversidade Biológica, referindo-se às 20 metas que as Partes da Convenção têm de cumprir até 2020.

Nos dois dias do segmento de elevado nível da COP13, representantes de vários países participaram em mesas redondas para debater de que forma as pescas, o turismo, a floresta e a agricultura poderão ter em conta a biodiversidade e como podem ajudar a conservá-la. “Pela primeira vez, graças aos esforços de todos, estamos a falar a sério sobre o valor real da biodiversidade para o turismo, agricultura, floresta e pescas, para o âmago das nossas economias”, comentou Erik Solheim, director-executivo do Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA).

“Todos queremos a mesma coisa: um planeta saudável que satisfaça as nossas necessidades e as das gerações futuras”, comentou Braulio Dias em conferência de imprensa no sábado.

No mesmo dia, a organização WWF (World Wildlife Fund for Nature) apelou aos países para serem mais ambiciosos, face aos dramáticos declínios na natureza. A WWF lembrou, em comunicado, que em 2010, 196 países comprometeram-se a melhorar a saúde dos rios, florestas e oceanos e a conservar a biodiversidade no planeta. Mas hoje, “apenas 5% estão no caminho certo para cumprir as Metas Aichi”. Deon Nel, director da WWF Internacional para a Conservação, comentou que “o mundo tem um acordo e um plano colectivo sobre como reverter a perda de biodiversidade, mas isto ainda não foi traduzido para o nível adequado de ambição dos países”.

Um relatório recente da WWF prevê que, em 2020, o mesmo ano em que termina o prazo de cumprimento das Metas Aichi, a dimensão média das populações de espécies selvagens poderá ter sido reduzida em dois terços, em relação aos níveis de 1970. “Em menos de uma geração, teremos reduzido as populações de vida selvagem para níveis inimagináveis, isto para não falar dos estragos às florestas, oceanos e água doce. Não podemos reverter estas tendências em quatro anos, mas precisamos de ir a Cancún com o objectivo de fazer as coisas de forma diferente”, acrescentou Deon Nel.

 

Outros anúncios em Cancún

 

Além da Declaração de Cancún, vários países anunciaram no sábado os seus próprios compromissos para acelerar o progresso do cumprimento das 20 Metas Aichi.

A Holanda e 11 outros países da União Europeia anunciaram a criação da “coligação das vontades” (“coalition of the willing”) para proteger os polinizadores, cruciais para a segurança alimentar; o Brasil vai controlar pelo menos três espécies exóticas invasoras e garantiu que 100% das espécies ameaçadas terão medidas de conservação até 2020. A Alemanha anunciou que vai aumentar para 500 milhões de euros o financiamento a projectos de mitigação e adaptação às alterações climáticas, no âmbito da International Climate Initiative.

Ainda durante o segmento de elevado nível da COP13, 113 empresas assinaram um compromisso colectivo para ter em conta a biodiversidade nas suas tomadas de decisão e investir na protecção da biodiversidade. “Muitas empresas compreenderam que investir na biodiversidade faz sentido”, comentou o vice-director-executivo do PNUA, Ibrahum Thiaw. “O envolvimento do sector privado é algo que precisamos e saudamos.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.