Mosca-das-flores Cheilosia chrysocoma. Foto: Frank Vassen

Mais de um terço das moscas-das-flores estão ameaçadas na Europa

Estas moscas, muitas vezes confundidas com abelhas ou vespas devido às cores semelhantes, são críticas para a segurança alimentar do planeta, alerta a União Internacional para a Conservação da Natureza.

 

Os resultados da primeira avaliação na Europa dedicada à família dos sirfídeos, conhecidos como moscas-das-flores, conclui que 37% das diferentes espécies deste grupo de moscas carismáticas estão hoje em risco de extinção.

Por toda a Europa, segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), há registos de 890 espécies diferentes de moscas-das-flores, que tal como indica o nome são normalmente encontradas junto às flores. De forma a afugentarem os predadores, muitas espécies imitam abelhas e vespas com as suas cores, embora não tenham ferrão e sejam relativamente fáceis de distinguir, se conseguirmos contar o número de asas. Enquanto todas as moscas (dípteros) têm apenas duas asas, as abelhas e as vespas têm um total de quatro.

Mosca-das-flores Chrysotoxum arcuatum. Foto: Frank Vassen

Mas o carisma desta família não se resume às aparências. Estas moscas são na realidade “o segundo grupo mais significativo de polinizadores a nível global, a seguir às abelhas, muitas vezes mostrando taxas mais altas de visitas às flores do que as primeiras”, indica a UICN, num comunicado divulgado esta terça-feira.

Em segundo lugar, têm um papel decisivo no controlo natural de afídeos, pequenos insectos que sugam a seiva de muitas culturas, como é o caso do afídeo Myzus persicae nas culturas de pessegueiros.

Mosca-das-flores Cheilosia canicularis. Foto: Frank Vassen

Feitas as contas, os resultados da avaliação agora anunciados concluem que 314 das 890 espécies de moscas-das-flores avaliadas na Europa estão Vulneráveis, Em Perigo ou Criticamente em Perigo, de acordo com os critérios da UICN para aferir os riscos de extinção de espécies.

Desde logo, a agricultura intensiva é a principal ameaça para os sirfídeos, pois afecta mais de metade (475) das espécies do grupo na Europa. Em causa estão práticas insustentáveis de agricultura como a conversão de terras que antes eram bons habitats, mas também o pastoreio intensivo e a fragmentação de habitats naturais e semi-naturais. Já os pesticidas são uma ameaça para 55 espécies.

Mas muitas moscas-das-flores estão também em risco devido à perda de árvores mais antigas – muitas vezes motivada por medidas de gestão comercial das florestas, que levam ao desaparecimento dos seus habitats -, pelo desenvolvimento urbano e pelas alterações climáticas.

Mais de um quarto das espécies avaliadas (244), segundo a IUCN, são também afectadas pela degradação, deslocação e mudanças nos seus habitats, como resultado das alterações climáticas e do aumento dos incêndios. “Como os fogos florestais muitas vezes eliminam a madeira morta e as árvores velhas, as moscas-das-flores são forçadas a mudarem-se para novas áreas para se adaptarem às mudanças na paisagem.” O problema faz-se sentir especialmente nos Alpes e nos Pirinéus, onde é maior a riqueza destas espécies.

Sebes e árvores antigas podem ajudar

Mas nem tudo está perdido. “A principal maneira de ajudarmos a travar o declínio das populações de moscas-das-flores é protegendo os seus habitats e conectando-os através da paisagem”, sublinha Francis Gilbert, co-presidente do Grupo de Especialistas em Moscas-das-Flores da UICN, citado no comunicado.

Mosca-das-flores Dasysyrphus tricinctus. Foto: Frank Vassen

“Mais urgentemente, é crítico proteger as árvores antigas que têm cavidades e buracos nos troncos, seiva a correr, ramos caídos e pedaços de troncos, que são os micro-habitats onde as larvas de uma larga variedade se espécies se alimentam, incluindo muitas que estão ameaçadas”, nota Francis Gilbert.

Outras medidas importantes são a redução das emissões de gases com efeito de estufa, em especial para que diminua o número de incêndios, alerta também a UICN. Esta organização internacional junta mais de 1.400 membros, incluindo Estados, agências governamentais, organizações não governamentais, instituições científicas e associações empresariais.

 


Saiba mais.

Recorde como é que as moscas são tão mais rápidas do que os humanos.

E fique a conhecer a iniciativa polli.NET, que trabalha no conhecimento e conservação destes e de outros polinizadores.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.