Miriam Cuesta. Foto: D.R.

Miriam recebeu uma bolsa National Geographic para estudar crias de cagarros no Faial

De Julho a Novembro, a bióloga marinha Miriam Cuesta vai estar em trabalho de campo no Faial a estudar o comportamento noturno das crias de cagarros naquela ilha açoriana, graças a uma bolsa Early Career Grant da National Geographic Society.

“O projeto, de um ano de duração, inicia-se a 15 de Maio e o trabalho de campo decorrerá de Julho a Novembro, quando as crias estão nos ninhos”, segundo um comunicado da Universidade dos Açores. 

As crias de cagarro empreendem depois o seu primeiro voo em direcção ao oceano. Só regressarão quando tiverem idade para se reproduzir, sete anos depois. Até lá, o oceano será a sua casa.

O cagarro é a ave marinha mais emblemática do arquipélago dos Açores. As aves que nidificam nos Açores e na Madeira representam 75 a 80% da população mundial da espécie.

Como muitas outras aves marinhas, as crias de cagarro (Calonectris borealis) deixam os seus ninhos à noite para exercitar as asas e alisar as penas.

Cagarro exercitando as asas durante a noite.

Ainda é pouco conhecido este período de desenvolvimento das crias, por isso, Miriam Cuesta, bióloga espanhola de 32 anos, irá filmar com câmaras de vídeo infravermelho as “excursões” das crias durante os meses que antecedem a saída definitiva dos ninhos.

Ao mesmo tempo, a investigadora visitará regularmente a colónia de cagarros no Faial para recolher informação sobre o peso e tamanho do bico e da pata destas aves, para calcular a condição corporal. O objetivo é “saber se existe alguma relação entre o índice de massa corporal e os comportamentos observados através das filmagens”.

Miriam Cuesta. Foto: D.R.

“Este conhecimento será importante para o planeamento de futuras campanhas de conservação, aumentando a consciência pública sobre as aves marinhas e contribuindo com novos dados para a comunidade científica”, explicou Miriam Cuesta.

Os primeiros voos dos cagarros são um enorme desafio. Muitas aves confundem a iluminação pública das povoações com a luz da Lua e desorientam-se, acabando por cair nas estradas, parques de estacionamento, campos desportivos, incapazes de encontrar o mar.

Miriam Cuesta mora na Horta desde 2016. Entre 2016 e 2019, trabalhou como Estagiária e Técnica superior no grupo das Aves Marinhas do Okeanos-UAç e no Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores. 

Em 2020 finalizou o Mestrado em Estudo Integrados dos Oceanos pela Universidade dos Açores, tendo recebido a medalha de mérito escolar 2019/2020. 

Actualmente é colaboradora eventual do Okeanos-UAç – Grupo de investigação marinha ligado à Universidade dos Açores – e presidente da Associação sem fins lucrativos Asas do Mar – Instituto de Ornitologia Marinha dos Açores.

Em Abril foi revelado que um outro investigador a trabalhar em Portugal, Luís Ceríaco, ganhou uma bolsa de explorador da National Geographic Society. Este investigador do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto vai fazer o levantamento exaustivo das espécies de um hotspot de biodiversidade em Angola.


Saiba mais.

Descubra mais aqui sobre os cagarros nos Açores e o que está a ser feito para os conservar.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.