Morreu Luc Hoffmann, um dos fundadores da WWF

Luc Hoffmann, co-fundador da organização internacional WWF e homem que dedicou a vida à protecção da natureza, deixando mais de mais de 60 publicações sobre aves e os seus habitats, morreu ontem aos 93 anos em Camargue, França.

 

Hoffmann (1923-2016) foi um dos primeiros membros do conselho de administração da WWF International e o seu primeiro vice-presidente de 1961 (ano da criação da WWF, então World Wildlife Fund, hoje World Wide Fund for Nature) até 1988. “Não só ajudou os fundadores da WWF International a estabelecer a organização a nível global como fundou a WWF França e a WWF Grécia”, salienta em comunicado o braço francês da organização.

 

Luc Hoffmann em 2013. Foto: J Jalbert/Tour du Valat
Luc Hoffmann em 2013. Foto: J Jalbert/Tour du Valat

 

“Luc Hoffmann foi um visionário da causa ambientalista e conseguiu aumentar o interesse do público quanto à necessidade de proteger o ambiente”, comentou Yolanda Kakabadse, presidente da WWF International. “Sem Luc Hoffmann não haveria WWF e para sempre lhe estaremos reconhecidos pelo seu contributo. Em nome da WWF, expresso toda a simpatia a toda a família de Luc Hoffamnn nestes momentos difíceis.”

Luc Hoffman nasceu a 23 de Janeiro de 1923 em Basileia (Suíça) e desde criança foi um apaixonado pelas aves e pela natureza. Obteve um doutoramento em Zoologia na Universidade de Basileia. Em 1948 adquiriu Tour du Valat, uma propriedade no coração de Camargue e aí fundou, em 1954, a Estação Biológica Tour du Valat, ainda hoje uma referência na área da ornitologia.

 

Foto: Tour du Valat
Foto: Tour du Valat

 

Além do seu trabalho na WWF, Luc Hoffmann foi director da Wetlands International e vice-presidente da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) desde 1960 a 1969. “Perdemos um herói e um pioneiro”, comentou Inger Andersen, directora da UICN, em comunicado. “O dr. Hoffmann foi um homem extraordinário cuja dedicação à conservação da natureza foi uma inspiração para muitos, tanto dentro como fora da comunidade conservacionista. Em grande parte é responsável pelo movimento conservacionista que existe hoje”, acrescentou.

 

Luc Hoffmann em Ramsar, em 1971. Foto: Tour du Valat
Luc Hoffmann em Ramsar, em 1971. Foto: Tour du Valat

 

Este suíço foi ainda um pilar na criação da Convenção de Ramsar sobre Zonas Húmidas, em 1971, e teve um papel fundamental nos primeiros esforços para salvar Doñana, em Espanha, tendo iniciado, em 1960, uma campanha para salvar as marismas de Guadalquivir, com o chamado “pai” do parque de Doñana, José António Valverde.

“A perda de um visionário da conservação mundial da natureza como Luc Hoffmann deve fazer-nos reflectir sobre a actual falta de liderança política na defesa ambiental”, comentou Asunción Ruiz, directora-executiva da Sociedade Espanhola de Ornitologia (SEO/Birdlife). “Hoje o mundo precisa, mais do que nunca, de muitos Luc Hoffmann.”

Em 2012 foi criado o Luc Hoffmann Institute para homenagear o seu trabalho e a inovação na conservação.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.