Guia das vacas-ruivas: como identificar estes escaravelhos, o que comem, quando e onde vê-los

Foto: Cláudio Carvalho

Está a chegar o 1º Fim-de-Semana da Vaca-Ruiva, a 16 e 17 de Julho, a cinco distritos: Coimbra, Vila Real, Leiria, Lisboa e Santarém. O objectivo é mostrar este espantoso escaravelho e falar sobre o que está a ser feito para o ajudar. A rede de embaixadores da vaca-ruiva e a Wilder dão-lhe uma ajuda com este pequeno guia.

Onde há vacas-ruivas (Lucanus barbarossa)?

As vacas-ruivas apenas se podem encontrar na Península Ibérica, sul de França e norte de África. Em Portugal, a distribuição conhecida atual da espécie vai de Bragança até à Península de Setúbal. A zona onde será mais abundante é a região Centro, estando ainda ausente em todo o Minho e região litoral até Leiria.

Foto: Cláudio Carvalho

Esta espécie vive em zonas de carvalho-cerquinho, carvalho-negral e azinheira, normalmente em zonas de floresta e nos seus limites, especialmente se forem em zonas com iluminação, sendo a espécie atraída por fontes de iluminação artificial. Dos dados que temos até ao momento a espécie aparenta ter maior atividade à noite, sendo por vezes encontrada no início da manhã.  


Quão grandes são?

As vaca-ruivas medem entre 3 e 4,5 cm de comprimento e têm umas mandíbulas em forma de pinça. A fêmea é mais pequena que os machos e as mandíbulas são menos evidentes. Uma característica distintiva desta espécie de tons escuros são as antenas com seis segmentos.


Quando podemos ver os adultos de vaca-ruiva?

Na sua fase adulta podem ser observados de Julho a Setembro.


O que comem as vacas-ruivas?

As vacas-ruivas são escaravelhos que se alimentam de madeira morta em contacto com o solo, ajudando desta forma a decompor a madeira morta dos ecossistemas naturais. Ainda assim, não há muita informações sobre a ecologia da espécie dada a sua distribuição limitada.

Foto: Carlos Farinha

Como posso ajudar esta espécie?

Contribuir com avistamentos através da plataforma Biodiversity4All é, sem dúvida, um grande contributo para o conhecimento sobre esta espécie. A vaca-ruiva ainda é pouco conhecida, por isso é pertinente reunir o máximo de dados possíveis sobre ela, de forma a melhor compreender o seu comportamento, ciclo de vida, distribuição e mesmo o seu estado de conservação atual. Desde o início do projeto que o número de registos de avistamentos da espécie tem aumentado. Em 2020, o primeiro ano em que houve uma campanha de sensibilização dedicada a este lucanídeo, o número de avistamentos foi de 196 (desde 2016 – início do projeto VACALOURA.pt – foram efetuados apenas 319 registos).

Foto: Samuel Costa

As pessoas podem ainda preservar os seus habitats e ajudar a mapear as árvores de grande porte ainda existentes, replicando as ações do Projeto Gigantes Verdes do qual somos parceiros e onde na região Centro já houve um estudo publicado sobre a distribuição dos grandes carvalhos-cerquinho. Visto que este é o a alimento das larvas, aumentar a madeira morta existente nas áreas que as pessoas gerem, nos seus quintais, matas, bosquetes ou hortas, pode ajudar não só a espécie mas também a saúde florestal, pois está a ser promovida a devolução de nutrientes ao solo. Quanto mais conhecermos, mais e melhor podemos fazer para proteger e ajudar a espécie e os seus habitats.  


Se vir uma vaca-ruiva, para onde posso enviar os meus registos?

Pode submeter os seus registos na plataforma Biodiversity4All / INaturalist, aqui.


As vacas-ruivas estão ameaçadas?

Ainda se conhece pouco sobre a espécie e ainda não temos dados suficientes para avaliar o seu estatuto de conservação, apesar de estar a ser feito um esforço no projeto da Lista Vermelha dos Invertebrados de Portugal. Precisamos de ainda mais informações e para isso pretendemos sensibilizar o máximo de pessoas e assim compilar o máximo de dados possíveis ao longo do tempo. Assim, aliando a comunidade científica com a colaboração das comunidades locais e cidadãos cientistas será possível fazer esta avaliação.

Foto: Rui Casaca

O que já se sabe sobre a população da vaca-ruiva em Portugal?

Número de quadrículas de 10x10km com presença confirmada

Ainda não temos informação suficiente para estimar as populações da espécie em Portugal. No entanto começamos a conhecer melhor a sua distribuição. Em apenas cinco anos já conseguimos triplicar os locais conhecidos da espécie no país em comparação com a informação disponível anteriormente.


O que está a ser feito para ajudar este escaravelho?

Estamos apenas na fase de levantamento de informação sobre a sua distribuição e este ano estamos a testar metodologias de monitorização baseadas nos protocolos focados na vaca-loura.


As vacas-ruivas causam alguns problemas?

Se pegarmos nelas podemos levar uma pequena trinca, chato mas totalmente inofensivo! As vacas-ruivas são totalmente inofensivas e são, na verdade, nossas grandes aliadas dado ao papel que têm no ecossistema.


Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.