Abelha. Foto: Suzanne D. Williams/Pixabay

Descoberto fóssil de abelha com pólen de há 100 milhões de anos

O fóssil desta fêmea de abelha primitiva ficou preservado em âmbar, juntamente ainda com os escaravelhos parasitas que lhe terão causado a morte, semelhantes aos que são encontrados ainda hoje em abelhas modernas.

 

Este fóssil proveniente do Cretáceo foi descoberto em Myanmar e identificado por um cientista da Universidade Estatal do Oregon, George Poinar Jr. É o primeiro fóssil encontrado de uma abelha primitiva com pólen e também dos escaravelhos parasitas que a acompanhavam.

A descrição da nova espécie, Discoscapa apicula, tal como do género e nova família (Discoscapidae), foi publicada na revista BioOne Complete.

George Poinar acredita que esta fêmea terá morrido presa na resina de uma árvore, depois de ter ficado desorientada devido aos parasitas. A nova descoberta “ajuda a clarificar os primeiros tempos das abelhas, um ingrediente chave na história da evolução, e a diversificação das plantas com flor”, indica um comunicado da universidade americana.

 

O fóssil da Discoscapa apicula, preservado no âmbar. Foto: George Poinar Jr.

 

Os insectos polinizadores têm um papel importante na polinização das plantas em todo o mundo, transportando pólen de umas flores para outras, e são essenciais na promoção da biodiversidade.

Dentro deste grupo, as abelhas distinguem-se por existirem em grande quantidade e porque são o único grupo que se alimenta de néctar em todo o seu ciclo de vida. Na verdade, evoluíram a partir de vespas carnívoras, mas pouco se sabe ainda sobre a forma como isso aconteceu.

O fóssil agora encontrado partilha traços das abelhas modernas, como pêlos em forma de pluma, mas também com as vespas, como é o caso de alguns aspectos das asas.

 

Uma abelha de flor em flor

“O número de fósseis de abelhas é bastante vasto, mas a maioria é de há 65 milhões de anos e parece-se muito mais com as abelhas de hoje”, notou George Poinar, especialista internacional no estudo de espécimes preservados em âmbar, citado no comunicado.

“Fósseis como este podem dizer-nos como é que aconteceram as mudanças de determinadas linhagens de vespas à medida que se tornavam polinívoras, ou seja, comedoras de pólen.”

Os muitos grãos de pólen encontrados juntamente com a abelha mostram que esta tinha visitado uma ou mais flores.

Outra prova são as 21 larvas de escaravelho, no mesmo pedaço de âmbar, que “estariam a apanhar ‘boleia’ para o ninho da abelha para se alimentarem das suas larvas e da comida que esta ali deixasse”, descreveu o investigador. “É certamente possível que este grande número de parasitas tenham levado a abelha a voar acidentalmente para a resina.”

 

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Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.