O que procurar no Verão: a borboleta-azul-das-turfeiras

Neste Verão aproxime-se da vida selvagem em Portugal e descubra o que ver e onde procurar. Albano Soares, entomólogo do Tagis – Centro de Conservação das Borboletas de Portugal, ajuda-nos a saber o que fazer para encontrar a borboleta-azul-das-turfeiras.

 

No Verão, centenas de borboletas azuis esvoaçam nos lameiros de altitude. São borboletas-azuis-das-turfeiras (Phengaris alcon), espécie rara e uma das borboletas mais ameaçadas de Portugal. A sua estratégia de sobrevivência é, talvez, a mais surpreendente em todas as 135 espécies de borboletas diurnas conhecidas no nosso país.

Durante o Verão, estas borboletas acasalam e fazem as posturas nas flores de uma única espécie de planta, também ela rara, a Genciana-das-turfeiras (Gentiana pneumonanthe). Cada borboleta põe entre 40 a 50 ovos, que distribui por várias plantas.

 

Borboleta fêmea a fazer a postura dos ovos numa genciana, em Boticas

 

Depois de passarem várias semanas na flor da genciana, as lagartas – na altura já medindo três milímetros – abrem um orifício e atiram-se para o solo onde são recolhidas por uma única espécie de formigas, do género Myrmica, que as capturam pelas mandíbulas e as levam para o seu formigueiro. Estas confundem a lagarta por crias de formigas perdidas, por causa de uma substância hormonal, que imita os odores tão seus conhecidos.

No formigueiro, a lagarta leva uma vida predatória, alimentando-se das larvas das formigas até estar pronta para surgir nos lameiros, em meados de Julho, como uma das borboletas mais ameaçadas de Portugal.

 

A melhor altura para observar borboletas:

Podemos começar a ver borboletas em fase adulta, em voo, a partir de final de Junho mas a melhor altura para as encontrar é a partir da segunda semana de Julho. Por vezes conseguem-se avistar adultos em princípios de Setembro.

Onde procurar:

Esta borboleta vive nas áreas montanhosas da metade norte de Portugal. Procure-a nos lameiros e turfeiras que estejam sujeitos ao pastoreio tradicional (geralmente com gado vacum autóctone), onde as gencianas não são cortadas no fim de Junho com o feno.

Alguns dos melhores locais para ver esta borboletas:

O melhores locais para observar a espécie são a Serra de Montemuro (lameiros da aldeia de Campo Benfeito) e a serra do Alvão (lameiros da Aldeia de Lamas de Olo), mas pode ser encontrada em Montalegre e noutros locais, como em Boticas por exemplo.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.