três papagaios-do-mar pousados
Papagaios-do-mar (Fratercula Arctica). Foto: Hallmers/Wiki Commons

Papagaios-do-mar: Que aves são estas que arrojaram às dezenas em praias portuguesas?

Desde o início do mês, mais de uma centena de papagaios-do-mar foram encontrados mortos ou debilitados. A Wilder foi perceber que espécie é esta e o que aconteceu.

Foram sendo recolhidas “dezenas de aves vivas debilitadas e também vários exemplares mortos”, em especial nas praias de Peniche e da Lourinhã, mas também noutros pontos da costa portuguesa, indicou esta semana o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), explicando que nesta altura do ano os papagaios-do-mar “passam ao largo da costa portuguesa nas suas rotas migratórias”.

Todas estas aves marinhas têm sido encaminhadas para o CRAM – Centro de Reabilitação de Animais Marinhos, do Ecomare, “onde também estão a proceder a análises para tentar apurar a causa da morte”.

Mas que aves marinhas são estas? Paulo Catry, que faz investigação sobre aves marinhas, explica que os papagaios-do-mar (Fratercula arctica) não se reproduzem em Portugal e são raramente avistados a partir de terra. Além disso, “fora da época de reprodução são aves do alto-mar e por isso pouco conhecidas e difíceis de estudar”, nota este professor e investigador do MARE – Centro de Ciências Marinhas e Ambientais e do ISPA – Instituto Universitário.

Ainda assim, em águas portuguesas “não parecem ser raros no Outono e Inverno”, sendo que por aqui são observados sobretudo papagaios-do-mar que se reproduzem na Irlanda e na parte ocidental do Reino Unido. Já as colónias desta espécie mais a norte, na Noruega e Islândia, “permanecem em regiões mais setentrionais durante o Inverno”. Segundo o Atlas das Aves Marinhas de Portugal, estas aves reproduzem-se “colonialmente em falésias íngremes ou em ilhéus, escavando os ninhos no solo”.

Foto: Richard Bartz/Wiki Commons

Por esta altura, muitos papagaios-do-mar nascidos na Irlanda, que costumam migrar em direcção ao continente americano, estão de volta às costas europeias, acrescenta Paulo Catry. “Outros invernam no Mediterrâneo e podem estar agora a regressar mais para norte.”

Tempestades, falta de comida e derrames

De acordo com o ICNF, “todos os anos se verificam arrojamentos de aves marinhas no litoral português”. As causas possíveis, segundo o instituto, são principalmente três: tempestades no mar, que dificultam o acesso a alimentação e podem causar exaustão a aves que percorrem milhares de quilómetros; utilização de redes de pesca ilegais; ou então doenças, algumas potencialmente transmitidas a humanos. 

Aliás, segundo o Atlas das Aves Marinhas, é “frequente” arrojarem na costa portuguesa papagaios-do-mar, mortos ou debilitados, “após fortes temporais”. Paulo Catry acrescenta que o número desses casos varia de ano para ano: por vezes encontram-se muitas aves, mas noutros anos são poucas.

Quanto às razões para os arrojamentos, é difícil ter certezas. Muitas vezes são atribuídos ao mau tempo, adianta o biólogo, que duvida de que seja essa a causa. “Nas Shetland, onde trabalhei muito tempo, via-os aparentemente sem problemas nas suas lides no meio de intempéries prolongadas; são aves habituadas a condições inclementes! Sem excluir um possível papel das tempestades nestes fenómenos de mortalidade em massa, é provável que a falta de alimento seja um fator crítico de debilidade das aves que acaba por levar à sua morte”, sublinha. No entanto, a verdade é que até hoje “nada se sabe sobre a dieta normal destas aves por estas paragens”.

Outra possibilidade, nota, são os derrames de poluentes no oceano, mas essa hipótese seria fácil de confirmar, porque nesses casos as aves ficam com a plumagem oleada.


Saiba mais.

Descubra o que fazer se encontrar um papagaio-do-mar ou uma ave de outra espécie arrojada. Segundo um estudo realizado entre 2011 e 2019, a torda-mergulheira e o ganso-patola são as aves que mais dão à costa em praias portuguesas.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.