Praia. Foto: Pexels/Pixabay

Estava a andar na praia e encontrei uma ave marinha. O que faço?

Mónica Costa, da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), explica-nos quais são as principais causas para estes encontros à beira-mar e quais as medidas que devemos tomar.

‘Aves em terra, tempestade no mar.’ Este foi um ditado com o qual cresci, e que ganhou um outro significado quando vi a primeira ave ferida, numa praia. A partir do outono, é bastante frequente encontrarem-se aves com um ar debilitado que chegam às nossas praias, em busca de algum descanso. Por vezes estão feridas, outras vezes só cansadas ou até mesmo encandeadas pelas luzes urbanas.

O que se pode ter passado?

Durante a migração, as aves marinhas estão sujeitas a inúmeras dificuldades: cansaço, condições climáticas adversas, perturbações ou ameaças de origem humana, que podem levar a encontros infelizes. Muitas vezes estas aves chegam às nossas praias já exaustas (por vezes até feridas) e, em certas alturas do ano, pode ser mais comum encontrá-las. Quando não conseguem resistir, dão à costa, num fenómeno a que chamamos arrojamentos. A monitorização destes eventos pode dar-nos pistas muito úteis sobre o estado das populações, bem como sobre a saúde dos ecossistemas.

Luz noturna – o desatino das aves marinhas

É ainda frequente aves marinhas como a cagarra serem vítimas de encandeamento pela iluminação pública durante a noite. Imagine-se a sair de uma sala escura e dar de caras com um ‘mar de luzes’ que não lhe permitem distinguir o caminho até ao seu destino… e assim que avança, bate de frente com um móvel ou parede. É capaz de ficar um pouco abananado e ter de recuperar por alguns segundos, antes de tentar encontrar o caminho. É o que acontece muitas vezes com os juvenis, nos seus primeiros voos: encandeados, têm dificuldades em seguir na direção certa.

O que fazer se a ave estiver ferida

Se encontrar uma ave marinha em estado fragilizado, contacte o SEPNA/GNR ou o Centro de Recuperação mais próximo. Evite tocar em aves selvagens, pois podem ser transmissoras de diversas doenças. Se tiver mesmo de o fazer, use luvas e máscara de proteção.

Nos Açores e Madeira, pode dar-se o caso de ser uma ave que foi encandeada pela iluminação durante a noite. Usando luvas e máscara, aproxime-se lentamente e cubra-a com um pano, toalha ou casaco, tendo especial cuidado com o bico, pois o animal pode tentar defender-se. Agarre na ave e coloque-a numa caixa de cartão com furos. Se não estiver ferida, dirija-se, à noite, a uma praia pouco iluminada e solte-a colocando a caixa no chão, próxima do mar: abra a tampa e a ave saberá o que fazer!

Para mais informação consulte a página do projeto LIFE Natura@night.

Cheguei demasiado tarde…

No caso de se tratar de uma ave arrojada, os animais dão à costa já mortos, vítimas de diferentes situações como as condições climáticas ou artes de pesca onde ficam presas. No entanto, são um dado importante para se perceber a ocorrência e frequência destes eventos, e as possíveis causas de morte destes animais arrojados. Ajude-nos a recolher esta informação, enviando os registos do que encontrar para [email protected] ou preenchendo o formulário disponível.


Saiba mais.

Leia a entrevista de dois voluntários, André Pinto e Maria Diogo, que participam na monitorização de aves que dão à costa portuguesa em arrojamentos.

E descubra quais são as espécies que mais vezes foram encontradas, em oito anos de monitorização.


Conte as Aves que Contam Consigo

A série Conte as Aves que Contam Consigo insere-se no projeto “Ciência Cidadã – envolver voluntários na monitorização das populações de aves”, dinamizado pela SPEA em parceria com a Wilder – Rewilding your days e o Norwegian Institute for Nature Research (NINA) e financiado pelo Programa Cidadãos Ativos/Active Citizens Fund (EEAGrants), um fundo constituído por recursos públicos da Islândia, Liechtenstein e Noruega e gerido em Portugal pela Fundação Calouste Gulbenkian, em consórcio com a Fundação Bissaya Barreto.