pequena planta
Chaenorhinum rubrifolium. Foto: Miguel Porto

Esta é uma das 12 plantas portuguesas que pode agora apadrinhar

A delicada Chaenorhinum rubrifolium, só recentemente descoberta em Portugal, o dragão-das-arribas (Antirrhinum lopesianum) e o teixo (Taxus bacatta) são algumas das 12 plantas que se podem agora apadrinhar, numa campanha de apoio aos trabalhos da Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal Continental.

 

Coordenado pela Sociedade Portuguesa de Botânica e pela Phytos-Associação Portuguesa de Ciência da Vegetação, em parceria com o Instituto Nacional da Conservação da Natureza e das Florestas, o projecto desta Lista Vermelha quer melhorar o conhecimento sobre as plantas vasculares nativas e avaliar o seu risco de extinção. Estas plantas, ao contrário dos musgos por exemplo, têm vasos condutores de seiva.

Para isso, uma equipa de botânicos, juntamente com muitos voluntários, tem vindo a percorrer Portugal de Norte a Sul. Os herbários são também locais de eleição para esta pesquisa, que se debruça em especial sobre 621 espécies-alvo definidas no âmbito do projecto. Calcula-se que ocorrem no território português continental cerca de 3.300 espécies de plantas vasculares.

 

Plantas da campanha de apadrinhamento Primavera/Verão

 

Critérios para a selecção destas 12 plantas apadrinháveis? Além do “aspecto estético”, todas estas “fazem parte da lista de 621 espécies-alvo”, explicou à Wilder a coordenadora executiva da Lista Vermelha, Ana Francisco.

Na sua maioria, para as plantas-alvo não há hoje informação suficiente que permita definir o risco de extinção, segundo os critérios da União Internacional para a Conservação da Natureza. Ainda assim, em relação a muitas espécies, já foi possível perceber que são raras ou que estão ameaçadas pelo crescimento da agricultura intensiva e outras actividades humanas.

É o caso da Onosma tricerosperma subsp. tricerosperma – uma das plantas em busca de padrinhos e madrinhas – “uma das mais ameaçadas em Portugal, pois só existem dois pequenos núcleos populacionais desta espécie”, na região de Beja. Cerca de 30 plantas no total.

 

planta
Onosma tricerosperma subsp. tricerosperma. Foto: Miguel Porto

 

Ana Francisco destaca também os exemplos da Nigella papillosa, ameaçada pelo desaparecimento das searas e dos olivais de sequeiro no Alentejo, e da Armeria velutina, “reencontrada” em 2014 – um pequeno grupo de apenas 20 plantas, depois de estar dada como desaparecida por muitos anos, devido à construção do Aeroporto de Faro. Esta última é considerada Criticamente em Perigo de extinção.

 

Armeria velutina. Foto: Luís Brás

 

Mas os responsáveis da Lista Vermelha quiseram também eleger espécies que se podem observar em diferentes regiões. Daí que uma das escolhidas seja a planta Gentiana lutea subsp. lutea (conhecida como genciana-amarela ou argençana-dos-pastores), igualmente rara e classificada como Criticamente em Perigo. Em Portugal, só se encontra no topo da Serra da Estrela.

 

flor laranja
Genciana-amarela (Gentiana lutea). Foto: Hugo Figueiredo/Flora-On

 

Mais a Norte, em Trás-os-Montes, as arribas do Alto Douro e de alguns dos seus afluentes são o único local onde em Portugal ocorre o dragão-das-arribas, a Antirrhinum lopesianum. No total, não deverão existir ali mais do que 1000 plantas desta espécie.

 

dragão-das-arribas
Dragão-das-arribas (Antirrhinum lopesianum). Foto: C. Aguiar/Flora-On

 

O teixo (Taxus baccata), que em Portugal só sobrevive nas zonas montanhosas da Serra do Gerês e da Serra da Estrela, no seu estado natural, foi outra das espécies eleitas para apadrinhamento, tal como o chamado feto-do-cabelinho (Culcita macroparca). Até hoje, em território nacional só foi encontrado no talude da escavação de uma mina romana, algures numa serra dominada por eucaliptos.

 

Feto-do-cabelinho
Feto-do-cabelinho (Culcita macroparca). Foto: Paulo V. Araújo/Flora-On

 

Desde que a nova campanha foi lançada, em meados de Maio, Ana Francisco adianta que já contribuíram para o projecto cerca de 35 padrinhos e madrinhas, até agora com cerca de 600 euros. Na primeira campanha de todas, com oito plantas dedicadas às estações do Outono e Inverno – e que também se podem continuar a apadrinhar – houve menos contribuições, “talvez devido ao facto de ter sido lançada na época de Natal”.

O dinheiro dos donativos serve em especial “para ajudar nos trabalhos de prospecção no campo”, uma vez que nem todas as despesas são cobertas pelos financiamentos que o projecto recebe, do Fundo Ambiental e da União Europeia.

No final, toda a informação recolhida vai poder servir de base à publicação da primeira Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal Continental, que vai ficar disponível em formato digital e também em livro. Os dados vão ser também incluídos no Cadastro Nacional de Valores Naturais Classificados, gerido pelo ICNF, “permitindo a protecção de espécies que não tinham até agora qualquer tipo de protecção.”

 

[divider type=”thin”]Agora é a sua vez.

Descubra como pode apadrinhar estas 12 plantas e conheça melhor cada uma das espécies, aqui.

[divider type=”thin”]Saiba mais.

O trabalho de campo das equipas da Lista Vermelha tem ajudado a encontrar novas espécies para o território português, como aconteceu em Maio com duas plantas no Baixo Alentejo.

 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.