Solta de Nara no Vale do Guadiana, em Maio de 2017. Foto: Helena Geraldes

Encontraram o colar de Nara, a lince libertada este ano no Alentejo

O colar radiolocalizador de Nara, lince-ibérico com menos de dois anos libertada em Maio em Mértola, no Alentejo, foi encontrado ontem na região de Alcoutim. As autoridades receiam pelo destino do animal.

 

Ontem, dia 28 de Setembro, ao início da tarde, técnicos do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) foram informados de que tinha sido encontrado um colar radiolocalizador de um lince-ibérico (Lynx pardinus).

 

Colar de Nara. Foto: Iberlince

 

O colar foi encontrado perto da povoação do Pereiro, no município de Alcoutim, pela GNR de Alcoutim, revela hoje um comunicado do programa Iberlince.

Este pertencia à fêmea Nara, libertada a 24 de Maio na freguesia de São João dos Caldeireiros em Mértola.

 

Nara, instantes depois da sua libertação

 

Nara foi o último dos oito linces libertados este ano em Portugal, no âmbito de projecto de conservação que quer devolver esta espécie ameaçada de extinção à natureza. A Wilder assistiu à reintrodução de Nara nos campos alentejanos, depois de uma viagem desde o centro El Acebuche em Doñana, na Andaluzia espanhola.

Recentemente, este lince tinha sido localizado por técnicos do ICNF a sul da ribeira do Vascão, perto daquela de Alcoutim.

“O colar do lince foi cortado com uma navalha ou outra ferramenta cortante”, explica o comunicado. “Retirar o colar com este método apenas teria sido possível com um animal imobilizado, mediante a administração de um medicamento ou em caso da morte do animal.”

Perante a elevada probabilidade de esta descoberta ser a prova de um crime foi pedida a intervenção do Sepna (Serviços de Protecção da Natureza da GNR) de Faro, que analisará os registos das últimas localizações deste lince, acrescenta ainda o Iberlince.

Nara nasceu em Março de 2016 no Centro de Reprodução em cativeiro de El Acebuche e desde cedo foi preparada para a liberdade. A 24 de Maio foi libertada na Herdade das Romeiras, o ponto de partida para as reintroduções de linces em Portugal.

Vários linces fixaram-se naquela região, outros deslocaram-se um pouco para mais longe à procura do seu território. Actualmente, o núcleo populacional de linces em Portugal rondará os 30 animais.

O lince-ibérico é uma espécie classificada desde 22 de Junho de 2015 como Em Perigo de extinção, depois de anos na categoria mais elevada atribuída pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), Criticamente em Perigo.

Actualmente existem 483 linces-ibéricos na natureza, segundo os resultados definitivos do censo de 2016, revelados a 30 de Março passado pelo programa Iberlince. A maioria, 397, está nas populações da Andaluzia (Doñana-Aljarafe e Serra Morena: Guadalmellato, Guarrizas e Andújar-Cardeña). Além destes 397 animais, 19 vivem em Portugal, no Vale do Guadiana; 28 em Matachel (Badajoz), 23 em Montes Toledo (Toledo) e 16 na Serra Morena Oriental.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Assista à libertação de Nara na Herdade das Romeiras.

Saiba como é cuidar dos linces no Vale do Guadiana.

 

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez.

Ver linces-ibéricos em Portugal já não é assim tão impossível. É preciso estar preparado. Se vir um lince deve ter atenção à cor da coleira, já que cada animal reintroduzido traz uma coleira emissora de cor diferente. Por exemplo, Nara tinha uma coleira azul. Depois, o Parque Natural do Vale do Guadiana agradece o seu contacto para:

Telefone: 286.612.016

Email: [email protected]

E há que ter muita atenção aos sinais da estrada entre Mértola e Beja porque pode haver linces a passar, especialmente durante os períodos crepusculares (ao amanhecer e ao anoitecer). É nesta altura que os animais estão mais activos.

Em Portugal existem oito sinais de trânsito que avisam os condutores que estão a circular na área de reintrodução do lince-ibérico, no Vale do Guadiana (Alentejo), na EN122 e na ER267. Além destes sinais, a Infraestruturas de Portugal (IP), no âmbito do Iberlince, tem feito limpeza de bermas e taludes.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.