Lince-ibérico. Foto: Programa de Conservação Ex-Situ do Lince-Ibérico

Lince nascida em Silves encontrada morta em armadilha na Andaluzia

Melisandre, uma fêmea de lince-ibérico (Lynx pardinus) nascida há dois anos no Centro Nacional de Reprodução do Lince-ibérico (CNRLI), em Silves, foi encontrada morta numa armadilha na Andaluzia, foi hoje revelado.

 

Este lince foi encontrado preso num laço, uma armadilha ilegal, numa reserva de caça no município de Jimena (Jaén, Andaluzia), segundo um comunicado do programa LIFE+ Iberlince.

O animal foi descoberto pelos técnicos do Iberlince “graças ao seguimento contínuo dos sinais emitidos pela coleira transmissora que trazia quando ficou preso no laço que lhe causou a morte”. Melisandre tinha sido reintroduzida na natureza em Guarrizas (Jaén) em Fevereiro de 2016.

Depois de terem encontrado o lince, os técnicos alertaram os agentes de Ambiente da Junta da Andaluzia e o Serviço de Protecção da Natureza da Guardia Civil. Estes estão a varrer a zona à procura de outras armadilhas ilegais.

O corpo de Melisandre foi enviado para o Centro de Análises e Diagnóstico da Andaluzia, com sede em Málaga, onde será realizada uma necropsia e as análises necessárias para determinar com todas as certezas a causa da morte.

Os responsáveis pelo Iberlince salientam que “na zona onde Melisandre se tinha estabelecido – entre os municípios de Jimena, Bedmar e Albanchez – já tinham aparecido dois quebra-ossos mortos por veneno. Por isso foi feita uma reunião com os directores das reservas de caça da região para os informar da presença de linces-ibéricos e pedir a sua colaboração.”

Melisandre era um dos mais de 170 linces-ibéricos reintroduzidos na natureza desde 2009, no âmbito de um dos maiores projectos de conservação da natureza na Europa. O grande objectivo é recuperar a distribuição histórica de uma espécie que se estima viver na Península Ibérica há, pelo menos, 27.000 anos.

Mas se hoje o número de linces na natureza subiu para 440, segundo os números provisórios do censo ibérico referente a 2016, a verdade é que o regresso do lince-ibérico está longe de ser uma garantia. A escassez de alimento – por causa da febre hemorrágica viral que atinge as populações de coelho-bravo, a sua presa preferida – alia-se aos atropelamentos, envenenamentos e armadilhas para dificultar o trabalho pela conservação da espécie.

Ainda assim, o lince-ibérico é uma espécie classificada desde 22 de Junho de 2015 como Em Perigo de extinção, depois de anos na categoria mais elevada atribuída pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), Criticamente em Perigo.

Em 2017 serão reintroduzidos na natureza um total de 40 linces, oito dos quais no Vale do Guadiana (Mértola), quatro machos e quatro fêmeas. Estas reintroduções vão começar em Janeiro ou Fevereiro. Além disso, serão estudadas novas zonas de reintrodução, uma na Extremadura espanhola e outra em Granada.

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Saiba como é cuidar dos linces no Vale do Guadiana e quantos linces nascidos em Silves já foram pais na natureza.

Leia a nossa série “Como nasce um lince-ibérico” e conheça os veterinários, video-vigilantes, tratadores e restante equipa do Centro Nacional de Reprodução (CNRLI) em Silves.

 

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.