navio-escola sagres
Foto: Marinha Portuguesa

Navio-Escola Sagres vai registar as espécies em viagem à volta do mundo

De 5 de Janeiro de 2020 a 10 de Janeiro de 2021, o navio está a repetir a viagem épica da armada de Fernão de Magalhães, para celebrar os seus 500 anos. A ciência cidadã segue a bordo.

 

Os cadetes do Navio-Escola Sagres vão registar as espécies que encontrarem ao longo da sua viagem pelos oceanos, ao longo de 371 dias, no âmbito do projecto de ciência cidadã CIRCULARES.

A viagem visa comemorar o feito histórico do navegador português no início do século XVI,  “afirmando o papel de Portugal para a promoção do conhecimento, do diálogo intercultural e da sustentabilidade do planeta, e o seu contributo para uma sociedade mais justa, inclusiva e com maior bem-estar”, segundo uma nota da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL).

A viagem de circum-navegação do atual navio escola da Marinha Portuguesa começou em Lisboa, no passado dia 5 de Janeiro. O início da viagem contou com a presença de centenas de pessoas, incluindo o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. A missão deverá terminar em Lisboa a 10 de janeiro de 2021, passados 371 dias, e após escalas em 22 portos de 19 países.

O projecto CIRCULARES é coordenado por Cristina Máguas, professora do Departamento de Biologia Vegetal da FCUL e coordenadora do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (cE3c) – e está “nas mãos” dos cadetes do navio. A partir de fotografias das espécies tiradas ao longo da viagem, será possível irem retratando a biodiversidade, tornando esta informação acessível a todos através da plataforma Biodiversity4All.

Este projeto de ciência cidadã é também uma oportunidade para recolher dados climáticos e de declinação magnética, adianta a mesma nota. Essa informação vai permitir comparar, numa perspectiva histórica, a viagem da armada de Fernão de Magalhães com a dos cadetes da Marinha Portuguesa.

 

Navio escola Sagres
A viagem de circum-navegação visa comemorar o feito de Fernão de Magalhães no início do século XVI. Foto: Marinha Portuguesa

 

A atenção também vai recair sobre os poluentes, pois a bordo do NRP Sagres segue um kit que permitirá analisar a presença e quantidade de metais pesados ao longo da sua rota planetária.

 

De olho nas cores do mar

Por outro lado, através da aplicação Eyeonwater e da sua ligação a um satélite, os cadetes vão estar atentos à cor do mar, que vai ser traduzida na quantidade de microalgas existentes na coluna de água. “As microalgas são responsáveis pela produção de nutrientes e de oxigénio através da fotossíntese e a sua variação (e a consequente variação da cor do mar) permite determinar a produtividade de cada massa de água”, explica a Faculdade de Ciências. Assim, quanto mais produtivo for um ecossistema, maior vai ser a abundância de organismos detectada.

Comparar as medidas náuticas determinadas no passado e no presente é outra meta do projeto, que conta com a participação de Henrique Leitão, Prémio Pessoa e vencedor de um ERC Advanced Grant, investigador do pólo da Faculdade do Centro Interuniversitário de História das Ciências e da Tecnologia.

O CIRCULARES nasceu de uma ideia transdisciplinar durante um encontro entre investigadores no Dia da Investigação em Ciências, que se realizou na FCUL em Outubro do ano passado. Trata-se de um projecto multidisciplinar alicerçado num consórcio que junta centros de investigação ligados à FCUL  – cE3c, Instituto Dom Luiz, CIUHCT e MARE – a Marinha Portuguesa, a Sociedade Portuguesa de Ecologia e a empresa Senciência.

O novo projecto tem o financiamento do Fundo Ambiental e é uma entre várias iniciativas para as quais foram assinados protocolos a 21 de Fevereiro com esta entidade, sempre com o objectivo de conhecer melhor o mar profundo. “Esta é uma oportunidade única para desenvolver a bordo actividades e estudos científicos relativos aos oceanos”, segundo um comunicado do Ministério do Ambiente.

Com uma dotação de 200 mil euros, os novos protocolos dizem respeito a projectos de monitorização de lixo marinho e de microplásticos, ao longo do percurso do navio, e ao estudo da interacção do espaço, da atmosfera e do oceano.

 

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.