Anéis do zimbro. Foto: FCTUC

Na Serra da Estrela, o aquecimento global está a alterar o crescimento de arbustos e pastagens

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Os primeiros resultados de um projeto de investigação que estuda os impactos da subida das temperaturas nos ecossistemas alpinos da região foram divulgados esta segunda-feira, pela Universidade de Coimbra.

 

O projecto “ESTRELA – Efeito do aquecimento global na diversidade e funcionamento dos ecossistemas alpinos da Serra da Estrela”, que teve início em 2020, é coordenado por três cientistas do Centro de Ecologia Funcional, ligado à Universidade de Coimbra: Susana Rodríguez Echeverría, Cristina Nabais e Marta Correia.

O objetivo é “estudar o efeito do aquecimento global, um factor primário das alterações climáticas, no funcionamento e diversidade dos ecossistemas do planalto superior da Serra da Estrela”, explica uma nota de imprensa divulgada pela Universidade de Coimbra. O foco deste projecto vai especialmente para as comunidades de arbustos e também para os cervunais, ou seja, pastagens onde predomina o cervum, uma planta da família das gramíneas que nasce de forma espontânea na Serra da Estrela.

O trabalho da equipa tem sido dedicado ao estudo dos “anéis de crescimento do zimbro (Juniperus communis ssp alpina) e do piorno (Cytisus oromediterraneus), espécies típicas da alta montanha na Península Ibérica e que em Portugal aparecem quase exclusivamente na Serra da Estrela”, explicam as coordenadoras.

Resultados? Para já, “um maior crescimento destes arbustos (zimbro e piorno) nos últimos anos devido ao aumento de temperatura mínima na Primavera e no Outono, que resulta numa estação de crescimento mais longa”, descreve Susana Rodríguez Echeverría, que ressalva que há todavia diferenças entre as duas espécies.

Área do projecto de investigação na Primavera. Foto: FCTUC

“O zimbro começa a crescer antes devido ao aumento de temperatura na Primavera, enquanto o piorno não responde à temperatura da Primavera, mas atrasa o fim do crescimento pelo aumento de temperatura no Outono. Já o aumento da temperatura mínima no Verão e a diminuição da precipitação no Inverno têm um efeito negativo apenas no crescimento do zimbro».

Isto significa, acrescenta a investigadora do Centro de Ecologia Funcional, que “é preciso ter em conta o padrão sazonal das alterações climáticas para entender os efeitos na diversidade e funcionamento dos ecossistemas”.

Manipulação da temperatura em pastagens

A equipa está também a realizar um estudo experimental de manipulação da temperatura em cinco cervunais, tendo já comprovado que “o aumento de temperatura leva a um maior crescimento das pastagens, mas que depende da disponibilidade de água e das condições do solo”. Por saber está se esse rápido crescimento, que acontece em resposta a temperaturas mais altas, afecta a qualidade nutritiva destas pastagens, adianta Susana Rodríguez Echeverría.

Trabalho de campo no âmbito do projecto. Foto: FCTUC

Por outro lado, a equipa do projecto tem sentido “a necessidade de realizar a monitorização das condições climáticas a pequena escala em paralelo a estudos ecológicos que permitam uma melhor inferência das respostas dos ecossistemas ao clima”, acrescenta a mesma responsável.

“Há poucos estudos ecológicos e funcionais na Serra da Estrela, e os dados fornecidos pelo observatório das Penhas Douradas ou pelos modelos climáticos atuais não conseguem recolher a diversidade de topoclimas e microclimas na Estrela.”

O projecto ESTRELA tem ainda como parceiro o CISE – Centro de Interpretação da Serra da Estrela, da Câmara Municipal de Seia, e conta com o apoio do Geoparque Estrela e do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas.

É co-financiado pelo FEDER – Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional, através do programa Portugal 2020 no âmbito do Programa Operacional Regional do Centro, e pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia através de fundos nacionais (PIDDAC).

 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.