Ostraceiro (Haematopus ostralegus). Foto: Andreas Trepte/Wiki Commons

Não são só gaivotas. Dez aves que pode ver agora na praia

As praias portuguesas servem de refúgio para dezenas de espécies de aves nos meses mais frios do ano, incluindo muitas limícolas que procuram alimento à beira-mar. Fique a conhecer algumas das espécies mais comuns, que poderá encontrar num passeio de Inverno.

Desde 2009 que o Arenaria, um projecto de monitorização científica realizado com o apoio de voluntários, tem vindo a compilar as espécies de aves observadas nas praias de Portugal, incluindo o grupo das limícolas.

Essas aves são assim chamadas por se alimentarem no lodo (‘limus’, em latim) e muitas delas procuram também os estuários e as lagoas costeiras. A maior parte são migradoras, passando apenas a época mais fria do ano na costa portuguesa.

Fique a conhecer as 10 aves limícolas mais observadas no âmbito das contagens do Arenaria. E aproveite para as procurar por estes dias, numa visita à praia ou a outras zonas da costa portuguesa:

1. Pilrito-das-praias (Calidris alba)

Pilrito-das-praias (Calidris alba). Foto: Jean-Jacques Boujot/Wiki Commons

A limícola com mais registos no âmbito do Arenaria está a ser também alvo do segundo Censo Nacional de Pilrito-das-praias, que decorre em paralelo. Tal como muitas outras aves deste grupo, tem duas plumagens: a de Inverno, mais discreta (na foto) e a de Verão, ligada à época de reprodução, que decorre no Alto Ártico. Estes pilritos são muitas vezes vistos a correr em frente à rebentação das ondas, enquanto procuram pequenos invertebrados para se alimentarem.

2. Rola-do-mar (Arenaria interprens)

Rola-do-mar (Arenaria interprens). Foto: H. Zell

A segunda limícola mais contada nos areais portugueses de Dezembro a Janeiro, no âmbito do Arenaria, a rola-do-mar reproduz-se no Norte da Europa e passa o Inverno nos territórios mais a sul – incluindo a costa portuguesa, em especial as zonas mais rochosas. Tem uma alimentação variada e usa o bico de forma habilidosa para virar pedras e algas, em busca de comida.

3. Pilrito-de-peito-preto (Calidris alpina)

Pilrito-de-peito-preto (Calidris alpina). Foto: Zeynel Cebeci/Wiki Commons

Chamada também de pilrito-comum, esta é outra das limícolas mais registadas nas observações do projecto Arenaria. Pode ser vista nas épocas de migração e também ao longo do Inverno, sobretudo “em zonas planas intermareais ou em locais com algas e em areais com águas pouco profundas”, de acordo com o “Guia das Aves de Portugal e da Europa”, da autoria de Lars Svensson.

4. Borrelho-grande-de-coleira (Charadrius hiaticula)

Borrelho-grande-de-coleira (Charadrius hiaticula). Foto: Jac. Janssen/Wiki Commons

É nos meses mais frios, para fugir aos rigores do Inverno no Norte da Europa, como é o caso da Escandinávia, que o borrelho-grande-de-coleira procura as praias e outras zonas costeiras portuguesas – incluindo os estuários, onde é também presença habitual. Na plumagem de Inverno tem uma interrupção na coleira que pode causar confusão com o borrelho-de-coleira-interrompida, mas é mais compacto e maior do que este.

5. Borrelho-de-coleira-interrompida (Charadrius alexandrinus)

Borrelho-de-coleira-interrompida (Charadrius alexandrinus). Foto: Zeynel Cebeci/Wiki Commons

Este borrelho é uma limícolas que permanecem em Portugal todo o ano. Reproduz-se habitualmente nalgumas praias portuguesas, onde é necessário cuidado durante o Verão para não perturbar as crias ou destruir os seus pequenos ninhos. Apresenta patas pretas e uma “coleira” incompleta em torno do pescoço e alimenta-se de crustáceos, insectos e vermes.

6. Ostraceiro (Haematopus ostralegus)

Ostraceiro (Haematopus ostralegus). Foto: Andreas Trepte/Wiki Commons

Limícola invernante em Portugal, o ostraceiro não é das aves mais comuns, mas ao contrário de outras espécies pode ser facilmente identificado pelas cores da plumagem e pelo bico e patas de cores alaranjadas. Alimenta-se de bivalves, mexilhões, minhocas, insectos e crustáceos.

7. Tarambola-cinzenta (Pluvialis squatarola)

Tarambola-cinzenta (Pluvialis squatarola). Foto: Zeynel Cebeci/Wiki Commons

Tal como outras espécies de limícolas, estas pequenas aves reproduzem-se nos territórios frios da tundra, no Alto Ártico. Em Portugal podem ser encontradas principalmente durante os meses de Inverno, no litoral, por vezes em grandes grupos. A tarambola-cinzenta alimenta-se de vermes marinhos, moluscos e crustáceos.

8. Maçarico-galego (Numenius phaeopus)

Maçarico-galego (Numenius phaeopus). Foto: Pierre Dalous/Wiki Commons

O maçarico-galego é sobretudo um migrador de passagem, que pode ser observado nas praias durante as duas épocas de migração – quando se desloca entre os territórios onde se reproduz mais a norte, incluindo a Escandinávia e a Islândia, e os locais de invernada em África. Segundo o portal Aves de Portugal existe também “uma pequena população invernante, que se distribui de forma esparsa pelas zonas costeiras do sul do país”.

9. Maçarico-das-rochas (Actitis hypoleucos)

Maçarico-das-rochas (Actitis hypoleucos). Foto: Christoph Müller/Wiki Commons

Segundo o “Guia de Aves de Portugal e da Europa”, este maçarico é muitas vezes visto agachado ou inclinado para a frente, enquanto vai abanando a cauda. Nalgumas zonas de Portugal está presente todo o ano, mas pode ser encontrado mais facilmente durante o Inverno.

10. Pilrito-escuro (Calidris maritima)

Pilrito-escuro (Calidris maritima). Foto: Andreas Trepte/Wiki Commons

Os pilritos-escuros são mais comuns em zonas costeiras rochosas, onde muitas vezes formam bandos em conjunto com as rolas-do-mar enquanto procuram por alimento. Mas são aves pouco comuns na costa portuguesa, onde só se vêem durante o Inverno.


Agora é a sua vez.

Saiba aqui quais são os objectivos e como pode participar no projecto Arenaria. E aprenda mais sobre as quatro espécies de borrelhos e também sobre cinco espécies de gaivotas que podem ser encontradas em Portugal.


Conte as Aves que Contam Consigo

A série Conte as Aves que Contam Consigo insere-se no projeto “Ciência Cidadã – envolver voluntários na monitorização das populações de aves”, dinamizado pela SPEA em parceria com a Wilder – Rewilding your days e o Norwegian Institute for Nature Research (NINA) e financiado pelo Programa Cidadãos Ativos/Active Citizens Fund (EEAGrants), um fundo constituído por recursos públicos da Islândia, Liechtenstein e Noruega e gerido em Portugal pela Fundação Calouste Gulbenkian, em consórcio com a Fundação Bissaya Barreto.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.