Que espécie é esta: borboleta Euclidia glyphica

O leitor Aldiro Pereira fotografou esta borboleta a 17 de Abril de 2018 na Serra da  Boaviagem e quer saber que espécie é. Eduardo Marabuto responde.

“Chamo-me Aldiro Pereira, vivo em Albergaria-a-Velha e sou há alguns anos fotógrafo de natureza, contudo, mais vocacionado para a fotografia macro”, escreveu o leitor à Wilder.

Esta fotografia foi tirada “a meia encosta desta serra, ou seja, onde acabam os terrenos agrícolas e começa a serra com a sua própria flora”. “Encontro sempre esta borboleta pousada sempre no mesmo tipo de flor e, por vezes, em árvores também em flor, típicas desta serra. Eu diria que se trata de uma “traça” pelo facto de não ter as antenas com as bolinhas que é característica das borboletas e até a forma como coloca as asas quando pousa, abertas. Mas de quem se trata ao certo, não sei!”

Trata-se da borboleta Euclidia glyphica (família Erebidae).

Espécie identificada por: Eduardo Marabuto, entomólogo.

“Esta é uma borboleta nocturna que voa de dia. Pertence a uma família que podemos encontrar abundantemente em Portugal”, explicou Eduardo Marabuto

Segundo o CMIA (Centro de Monitorização e Interpretação Ambiental) de Viana do Castelo, “chegando os dias frios de outono, estas borboletas hibernam sob a forma de pupa. Passado o inverno, no início da primavera, os adultos eclodem e procuram um parceiro para acasalar, recomeçando o ciclo”.

“As lagartas alimentam-se de uma variedade de plantas da família Fabaceae (leguminosas), como trevos (Trifolium sp.) e alfalfa (Medicago sativa), mas também de violetas (Viola sp., Violaceae).”

E agora, Eduardo Marabuto deixa-nos uma explicação sobre borboletas, muito a propósito:

“O que é uma borboleta? E uma traça? Na verdade, ambas são borboletas, cientificamente falando, pertencem ao mesmo grupo geral de insectos, os Lepidoptera, que significa “asas com escamas” em virtude da cobertura que as asas delas têm: escamas que saem facilmente quando lhes tocamos e que se dispõem como telhas num telhado. Servem para protecção, para as proteger do frio e para sinalização de parceiros, mas também é nelas que se desenvolvem os imensamente variados padrões das asas das borboletas.”

“Ambas borboletas e traças são Lepidópteros, são borboletas. Geralmente faz-se, então, uma distinção entre borboletas que voam de dia (as borboletas diurnas) e têm as antenas terminadas em maça, dispõem as asas verticalmente e têm cores vivas e…. as borboletas que voam de noite, geralmente providas de cores mais sombrias, dispõem as asas em telhado sobre o corpo e têm as antenas que podem ser filiformes (sem espessamento terminal, a maça) ou plumosas (ditas pectinadas).”

“Mas esta distinção não é natural do ponto de vista evolutivo e as borboletas nocturnas também podem ser coloridas (como a da foto) e também podem apresentar os outros caracteres que usualmente atribuímos às borboletas diurnas. E podem voar de dia, como esta borboleta! Sem querer meter-me por noções complexas de biologia, digamos que a distinção não deve ser considerada à letra (procure-se uma borboleta ‘nocturna’ como a Zygaena fausta com antenas de diurna, e cores de diurna, e hábitos diurnos; e uma Carcharodus alceae: diurna, de hábitos diurnos e cores de nocturna) e não devemos principalmente desdenhar o incrível universo das borboletas nocturnas que são cerca de 20x mais espécies, em Portugal, que as diurnas! Ah, e voltando ao termo traça, apenas cerca de 3 ou 4 espécies no nosso país podem alimentar-se de tecidos, e todas têm tamanhos diminutos portanto não precisamos de nos preocupar se uma borboleta nocturna nos entra em casa numa noite quente de Verão. Apenas pelos números, existe uma probabilidade de 1 em 900 de ser uma traça da roupa!”


Agora é a sua vez.

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Explore a série “Que espécie é esta?” e descubra quais as espécies que já foram identificadas, com a ajuda dos especialistas.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.