Foto: José Frade

Aves do mês: o que ver em Abril

Início

Cinco aves a não perder este mês, seleccionadas por Gonçalo Elias e fotografadas por José Frade. Saiba o que estão a fazer, como identificá-las e onde procurá-las. Observar aves nunca foi tão fácil.

A primavera está aí e a maioria das aves já iniciou a sua reprodução. Neste segundo artigo da segunda série “Aves do mês”, sugerimos cinco espécies que poderá observar com relativa facilidade nesta época do ano.

Verdilhão (Chloris chloris):

Verdilhão (Chloris chloris). Foto: José Frade

O que está a fazer em Abril: Muitos verdilhões iniciam a sua reprodução em Março e por isso em Abril já é possível encontrar juvenis voadores a serem alimentados pelos pais. Ao longo de todo o mês, os machos fazem ouvir frequentemente o seu canto característico.

Como o seu nome sugere, esta espécie tem uma plumagem dominada por tonalidades verdes. O macho tem uma plumagem esverdeada, com as primárias amarelas. A fêmea é parecida, mas com cores mais esbatidas. O bico é bastante grosso e a cauda é bifurcada, com os lados amarelos.

O verdilhão frequenta diversos tipos de habitat mas, de uma forma geral, está dependente da existência de árvores nas áreas onde ocorre. É uma ave que surge muito frequentemente associada à presença e às actividades humanas, sendo numerosa em paisagens em mosaico com bosquetes, pomares e sebes alternando com campos agrícolas, assim como em zonas habitadas, desde que com árvores, hortas, baldios, parques, jardins ou outros espaços verdes, mesmo em cidades. 

Nos últimos 20 anos a população de verdilhões do Reino Unido sofreu um declínio muito acentuado, da ordem dos 80%, devido à propagação de uma doença chamada tricomonose. Pensa-se que esta doença, que também afecta outras espécies de aves, poderá estar relacionada com a falta de higiene nos comedouros.

Onde ver: parques e jardins de norte a sul do país.

Rouxinol-comum (Luscinia megarhynchos):

Rouxinol-comum (Luscinia megarhynchos). Foto: José Frade

O que está a fazer em Abril: Embora os primeiros rouxinóis cheguem ao nosso país nos últimos dias de Março, é no mês de Abril que se dá a maioria das chegadas desta espécie migradora. Ao longo do mês os machos podem ser ouvidos a cantar de forma quase ininterrupta.

De tamanho pequeno-médio, tem uma plumagem bastante discreta: por cima é castanho, por baixo é claro, sendo a cauda longa mais arruivada. O bico é fino, como o dos outros insectívoros. A espécie faz-se notar sobretudo pelo seu canto sonoro e variado, que, na Primavera, pode ser ouvido dia e noite. É mais facilmente ouvido do que visto.

Os rouxinóis-comuns habitam uma grande diversidade de locais, desde que haja vegetação densa e bem desenvolvida. São muito comuns ao longo de matas ribeirinhas, geralmente com salgueiros, freixos e choupos, e em sebes de bom porte, mas também podem surgir em bosques com um estrato arbustivo denso e ainda em matagais.

Uma das curiosidades acerca do rouxinol é o facto de o seu canto poder ser ouvido durante toda a noite. Isto é especialmente verdade ao longo de todo o mês de Abril, em que os machos estão activamente a defender o seu território. Assim, se por acaso for a viajar de noite, fizer uma paragem “no meio do nada” e ouvir uma ave a cantar com estrofes variadas, não se admire: trata-se, provavelmente, de um rouxinol.

Onde ver: Miranda do Douro, margens do rio Sorraia, serra do Caldeirão.

Mocho-galego (Athene noctua):

Mocho-galego (Athene noctua). Foto: José Frade

O que está a fazer em Abril: Abril é o mês em que se verifica a maioria das posturas de mocho-galego, por isso este é um período muito importante para a reprodução desta espécie. As suas vocalizações podem ouvir-se com frequência ao final do dia e também durante a noite.

O mocho-galego identifica-se pelo seu pequeno tamanho, pela plumagem castanha com manchas brancas e pelos olhos amarelos. Não apresenta tufos na cabeça. Pousa frequentemente em ruínas ou postes e, embora seja uma ave essencialmente nocturna, tem hábitos parcialmente diurnos, pelo que é relativamente fácil de observar.

Este mocho pode ver-se numa grande diversidade de habitats. Parece ser especialmente abundante em olivais velhos (tradicionais), em montados de azinho e em paisagens em mosaico, onde terrenos agrícolas e baldios se intercalam com muros, sebes e bosquetes. Também pode ocorrer em áreas completamente abertas, como as planícies cerealíferas do Alentejo, desde que ricas em pousios e pastagens. 

O ninho desta pequena rapina é feito em cavidades, as quais podem estar situadas em árvores velhas com buracos, mas também em edifícios velhos, muros, escarpas ou amontoados de pedras no solo.

Onde ver: Pancas (estuário do Tejo), planície de Castro Verde, litoral do Algarve.

Pilrito-comum (Calidris alpina):

Pilrito-comum (Calidris alpina). Foto: José Frade

O que está a fazer em Abril: Por esta altura o pilrito-comum está de partida para os seus territórios de reprodução no Norte da Europa. A maioria das aves enverga já a plumagem nupcial, com a sua barriga preta, o que torna a identificação desta espécie mais fácil que noutras épocas do ano.

O pilrito-comum nem sempre é fácil de identificar, pois durante a maior parte do ano não tem marcas particulares muito evidentes. A plumagem é cinzenta ou acastanhada, o bico é preto, moderadamente longo e ligeiramente curvado. As patas são pretas. Contudo, quando em plumagem nupcial, a identificação é facilitada, pois as aves apresentam a barriga preta, o que permite distingui-la facilmente das outras limícolas pequenas.

Esta é uma ave dos grandes estuários e das principais lagoas do litoral português. Tipicamente, alimenta-se nas zonas entre-marés, isto é, nas áreas que ficam expostas durante a maré baixa, escolhendo sobretudo áreas de vasa. Também frequenta salinas, seja como refúgio de preia-mar, seja como local de alimentação.

De todas as aves limícolas que podem ser vistas em Portugal, o pilrito-comum é certamente uma das mais abundantes. Muitas vezes forma bandos que podem congregar dezenas ou até centenas de aves e são frequentes os bandos mistos, que podem incluir outras espécies de pilritos, assim como borrelhos, tarambolas ou rolas-do-mar.

Onde ver: ria de Aveiro, estuário do Tejo, ria de Alvor.

Picanço-barreteiro (Lanius senator):

Picanço-barreteiro (Lanius senator). Foto: José Frade

O que está a fazer em Abril: Os picanços-barreteiros chegam no início da Primavera e rapidamente começam a estabelecer os seus territórios. Durante o mês de Abril regista-se a formação dos casais, a construção dos ninhos, os acasalamentos e as primeiras posturas. Alguns machos podem ser ouvidos a cantar.

Os adultos são fáceis de identificar, devido ao seu barrete ruivo (mais escuro no macho). O dorso e as asas são pretos, com uma mancha branca bem visível nas escapulares. As partes inferiores são totalmente brancas.

O picanço-barreteiro distribui-se pelas regiões de maior influência mediterrânica, que abrangem a metade sul do país e ainda o Interior Norte e Centro. Frequenta biótopos agro-florestais abertos, como montados de sobro ou azinho, olivais, pomares, sebes e matas ribeirinhas, bem como bosques abertos, mosaicos de campos agrícolas e pastagens.

O nome científico desta espécie é bastante curioso. O termo genérico, Lanius, é uma palavra latina que significa carniceiro e deriva de laniare, cortar em pedaços, o que se refere ao hábito que os picanços têm de desfazerem as suas presas antes de as consumir; já o restritivo específico senator tem origem no latim e significa senador – supostamente isto constitui uma referência ao facto de as cores desta ave fazerem lembrar as vestes dos antigos senadores romanos.

Onde ver: Tejo Internacional, norte alentejano, litoral do Algarve.