Foto: Joana Bourgard

Estudo alerta que importância dos polinizadores na agricultura tem sido subestimada

Investigação de Universidade de Coimbra e da Universidade Federal de Goiás, no Brasil, revela subestimação dos valores de dependência dos polinizadores na agricultura e destaca a sua importância.

Mais de 74% das culturas polinizadas por animais dependem fortemente dos polinizadores, contribuindo com mais de 40% da sua produção agrícola, revelou um estudo internacional conduzido por investigadores da Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), em parceria com a Universidade Federal de Goiás, Brasil. A investigação mostrou ainda que as metodologias atuais de determinação da dependência dos polinizadores tendem a subestimar a sua importância na produção agrícola.

Foto: Joana Bourgard

O artigo científico foi publicado na revista científica Journal of Applied Ecology a 21 de Abril.

O objectivo principal desta investigação foi “actualizar e avaliar os valores de dependência dos polinizadores em culturas agrícolas a nível global”, explicou, em comunicado, Catarina Siopa, aluna de doutoramento na FCTUC e primeira autora do estudo. Estes valores são “cruciais para compreender e quantificar a contribuição dos polinizadores na produção agrícola e são utilizados para orientar políticas e práticas de gestão visando uma produção sustentável de alimentos”, acrescentou a investigadora. 

No entanto, de acordo com este estudo, as compilações destes valores ao nível global estão desatualizadas e não contemplam a variabilidade entre culturas relacionadas, nem a limitação de pólen, isto é, a produção que se perde devido à baixa quantidade e/ou qualidade de pólen depositado pelos polinizadores.

A investigação baseou-se numa análise de dados publicados em 2023, resultantes de uma revisão sistemática da literatura conduzida por Catarina Siopa, que compilou estudos sobre experiências de polinização. Este estudo, inclui também uma lista de 141 culturas agrícolas e os seus valores de dependência, considerando pela primeira vez a variedade agrícola. A lista está disponível aqui e será atualizada regularmente pela equipa.

Helena Castro, Catarina Siopa, João Loureiro e Sílvia Castro (da esquerda para a direita)

A autora sublinhou ainda que estes resultados são “uma ferramenta importante para produtores e agricultores na tomada de decisões, uma vez que podem definir as culturas e, dentro destas, as variedades a plantar conforme as necessidades de polinização e as características do local”.

O artigo destaca também a importância de considerar a limitação de pólen ao avaliar a dependência dos polinizadores das culturas. “As metodologias tradicionais podem levar a uma subestimação significativa, o que pode ter implicações sérias para as políticas de gestão agrícola e conservação dos polinizadores”, explicou a investigadora. 

Este trabalho teve ainda a participação de Sílvia Castro, João Loureiro e Helena Castro, investigadores do Centro de Ecologia Funcional (CFE) do Departamento de Ciências da Vida (DCV) da FCTUC. A equipa contou também com a importante colaboração de Luísa Gigante Carvalheiro, investigadora da Universidade Federal de Goiás.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.